sexta-feira, 4 de novembro de 2016

UM PROJETO E A AGONIA DO RIO SÃO FRANCISCO

Aracaju é a capital nordestina que tem maior segurança hídrica. São três instalações distintas: a mais velha, a da Cabrita, a recém-inaugurada do Poxim, e a adutora do São Francisco, construída há mais de trinta anos quando era Governador Augusto Franco.

Sem nenhum viés apocalíptico, diante de uma situação agora real, que nunca se imaginaria viesse a acontecer, se pode afirmar que o abastecimento de água para Aracaju poderá entrar em colapso. Essa possibilidade vem sendo analisada por uma equipe técnica criada pelo governador, formada pela DESO, COHIDRO, Secretaria do Meio Ambiente e Casa Civil, que estuda os problemas hídricos no semiárido, e nesses estudos incluiu a agonia do Velho Chico.

Nos próximos dias a CHESF deverá reduzir ainda mais a vazão do São Francisco. Diante da alternativa de manter a vazão e não produzir energia, não restaria outra solução a não ser o represamento maior no lago Sobradinho, que está no limite crítico, e assim a vazão na foz cairá para minguados 700 m³ por segundo. Assim, a conta que pode ser atribuída à natureza e também a desídia humana, deverá ser paga mesmo por quem vive no baixo São Francisco, no caso, sergipanos e alagoanos.

Como lembrou Frei Enoque no programa que tem na Xingó FM, as terças feiras, o rio, que antes encontrando o mar, o empurrava por quilômetros, hoje, despejando no Atlântico apenas um quarto do que fazia antes, está recuando da sua foz para dentro, invadido pela água salgada  que já alcança Penedo. Divergem os técnicos sobre até onde poderão avançar as marés, tendo em vista a reduzida elevação do nível do leito do rio, da foz para dentro.

Por isso, não se pode afirmar com precisão se a água salgada chegará, por enquanto, até o sistema de bombeamento da DESO, em Telha.  Se a vazão do rio continuar sendo reduzida, um dia a DESO será forçada a interromper o bombeamento. Não há mais uma garantia firme de que a adutora do São Francisco continuará operando normalmente.

O escrevinhador dessas linhas, renitente em meter-se em assuntos que fogem aos seus inexistentes conhecimentos técnicos, consultou especialistas, engenheiros civis, elétricos, hidrólogos, ambientalistas, verificou algumas experiências realizadas em outros países, e ousa afirmar que não  seria um projeto desligado da realidade  a construção de uma barragem de foz,  para, definitivamente, anular o risco do avanço das marés. Não é uma obra simples como são outras barragens, e exigiria um investimento elevado, bem longe das atuais possibilidades dos cofres públicos.

O engenheiro especialista em recursos hídricos, Ailton Rocha, também os engenheiros Carlos Melo, presidente da DESO e Marcelo Monteiro, técnico da empresa, admitem que é preciso, preventivamente, pensar em soluções viáveis para  que se evite um cenário pior a médio ou longo prazos. Eles não descartam a realização de estudos sobre a viabilidade de uma barragem de foz.

A obra só se poderia tornar-se viável através de uma Parceria Público Privada, com recursos certamente provenientes de financiamentos externos. Mas aí surge a necessidade de estabelecer de onde sairia o retorno do investimento.  A instalação de uma usina hidrelétrica na barragem não seria suficiente mesmo num longo prazo de concessão, porque, como observa o engenheiro elétrico Ivan Leite, diretor-presidente da SULGIPE, a capacidade de geração seria bastante limitada. Surgiria a necessidade de montar um leque variado para assegurar receitas, tornando o investimento atraente para os que assumiriam o risco de fazê-lo.

Se construída a barragem de foz, todo o baixo São Francisco teria garantido um volume de água permanente, com capacidade para abastecer cidades de Sergipe e Alagoas, e disponibilidade, também, para projetos de irrigação. Mas os outros trechos do rio, bem mais longos, estão a exigir rápidas providências regeneradoras.

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