BOB DYLAN O NOBEL E
UMA GERAÇÃO EM FESTA
No Brasil, os anos sessenta e setenta, fizeram uma geração
movida por generosos sonhos deparar-se com a realidadecinzenta da supressão de
direitos, da liberdade, e até da licença íntima para se manter sonhando.
A geração daquele tempo de tantas ditaduras ferozes, ouusando
a focinheira de algum comedimento, tivera a visão de uma nova sociedade
nascendo em Cuba, com a vitória dos guerrilheiros barbudos, e ouvia, baixinho,
a rádio Havana, como se fosse um farol a anunciar o mundo novo. Passaram alguns
anos, para que ficasse bem claroque não se muda a sociedade encostando ¨ inimigos do povo ¨ a um muro para
fuzilá-los.
E ficou a pergunta aguilhoante : Quais seriam mesmo os
inimigos do povo, e quem os escolheria ?
Havia uma ansiosa busca de liberdade, de demolição de
preconceitos emodelos estabelecidos, a busca da Justiça, o sonho da igualdade.
Acontecia o Maio Parisiense, a Primavera de Praga,Woodstock, a marcha pelos
Direitos Civis liderada por Martin
Luther King, a luta de Mandela e do seu
povo contra a vergonha do apartheid, a condenação ao matadouro do Vietnam.
Havia uma agitação
cultural criativa, filósofos se tornavam modismos, artistas, saídos das
ruas,tomavam o lugar das celebridades, poesia e protestos se fazendo com música;
mobilizando o povo, ampliando o espaço do diálogo, vitalizando os guetos onde
se refugiava a liberdade oprimida. A
geração daqueles anos viveu tudo isso, amadureceu, ficou velha, embora
aindaacreditando na esperançosa utopia
de um mundo novo, construindo-se em paz, onde alguém se dedicará a plantar a
flor que as próximas gerações poderão colher, no cenário pacificado e límpido
de uma terra amainada, e de um céu azul.
Bob Dylan foi o mais suave, vigoroso e abrangente menestrel
desse tempo de ansiedades, revoltas, tragédias, opressão, libertação, razão,
lucidez, ódio, e amor sem as
amarras do preconceito.
Por isso, quando a Academia Sueca concede ao caipira country ,
o Premio Nobel de Literatura, toda a geração, de todo o mundo, que viveu aquele
tempo em que a voz fanhosa dele, mandava que soprássemos ao vento, se sente
regiamente homenageada.
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