A MORTE DE ¨ SANTO
¨ NAS
ÁGUAS DO VELHO CHICO
O ator Domingos Montagner, revela-se agora, era um desses
seres humanos bafejados pela rara, sutil e virtuosa arte de viver em harmonia. O
século vinte acompanhou a trajetória sublime de um genial palhaço: Charles
Chaplin. O ¨clown ¨completo e perfeito , que fez rir, chorar, e levou a comédia
a abranger a tragédia de um tempo opresso de medos, destruição, e dúvidas
atrozes sobre o destino da humanidade.
Chaplin fez, da figura do ¨clown ¨ por ele elaborada, um
ideal perseguido pelos melhores ¨clowns ¨que o sucederam. O palhaço se tornou a
imagem do bem, e os vemos a fazer o bem do riso alegre nos picadeiros, e o riso
que ilumina a face de tristeza das crianças nos hospitais, despedindo-se da
vida breve. Há, entre os que fazem a arte de representar aquela convicção de
que o cômico poderá interpretar melhor a tragédia , mas o contrário não ocorre.
DomingosMontagner, o Santo da novela Velho Chico, era um
palhaço, talvez por isso, tenha dado tanta consistência , tanta expressividade,
a um homem rústico que simbolizou a
resistência, a força da superação da tragédia humana e telúrica do Velho Chico,
um rio condenado à morte, e nesse rio, o
Santo escapou, na ficção, da morte, e na
realidade as vezes cruel da vida,
Domingos Montagner pelo Velho Chico foi levado.
A vida é fascinante, trágica, sorridente, triste,
despreocupada, tensa, cruel, solidária. Por isso, é fantástica a aventura de
viver.
Por isso,talvez o tempo da existência não conte tanto para os
que, em curto tempo, assimilam a essência dessa aventura.
A tragédia suscitou uma controvérsia: haveria ou não
advertências bem visíveis, segurança numa ¨prainha ¨tão frequentada e tão
perigosa? Acontece que Domingos Montagner e Camila Pitanga saíram de um
restaurante onde almoçaram e caminharam até um ponto afastado da ¨prainha ¨
onde há muitas pedras, e lá desceram ao rio, e começaram a nadar, e teriam
tentado chegar até uma ilhota de pedras a uns duzentos metros. No local é bem
visível a forte correnteza e também os torvelinhos,os ¨remansos ¨fortes que se
formam acompanhando a descida das águas. O perigo é evidente, mas os atores
talvez, por serem jovens e saberem nadar bem, não os temeram. A vida é sempre
uma aventura.
Masum secretário municipal que acumula as tarefas do turismo,
cultura, esporte e comunicação, seguramente destituído de inteligência ,
vocação ou sensibilidade para exercer qualquer uma delas, despertou a polemica
ao dizer que os salva-vidas foram retirados do local quando iniciaram-se as
obras da Orla, e que a responsabilidade estaria entre a empresa construtora e o
estado que a construía, enquanto a prefeitura esperava a entrega da obra pela
construtora. O governo do estado prontamente
distribuiu nota atribuindo a responsabilidade à Prefeitura, e com issocriou-se
uma polemica nada saudável à imagem turística de Canindé, do Canion de Xingó,
porque estendeu-se por toda a mídia.
Tudo iniciado por quem
deveria ter um mínimo de inteligência, tanto para expressar arealidade, a
verdade, como para saber que turismo é uma atividade que depende, substancialmente, da avaliação
que fazem os turistas do destino que
escolhem.
Quem conhece alguma coisa além doslimites estreitos onde a
ignorância os restringe, sabe, por exemplo, que em nenhuma praia, em nenhum
balneário famoso pelo mundo existem salva-vidas, ou até simples
advertências nos locais além da área
mais frequentada. Na Pedra do Arpoador junto às badaladíssimas Copacabana e
Ipanema não há salva-vidas a postos, e ali morrem pessoas, por suicídio ou
imprudência, porque o perigo é evidente. Em Balneário Camboriu, as extremidades
da alongada praia se misturam com pontos acidentados, pedregosos, ali, poucas
pessoas se aventuram a ir, e por isso não há
salva –vidas. Na praia de Maresias em São Paulo, na área frontal aos
bares e restaurantes, banhistas e surfistastêm salva-vidas por perto, mas, logo
adiante,nas duas direções, a praia se
vai tornando deserta, e não há
salva-vidas.
E se poderia listar uma alongada citação de praias
ebalneários com as mesmas características.
Mas, infelizmente, bom senso , sensatez e responsabilidade, não são, sempre, as
características daqueles que mais deveriam cultivá-las.
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