DO BRASIL DESCOBERTO
AO BRASIL POR FAZER
Não há uma data para
a fundação do Brasil. Existe, todavia aquela, agora esquecida do 22 de abril,
em que a terra foi descoberta pelo navegador-almirante de “mar largo”
Pedrálvares Cabral. Mais do que o registro nos esquecidos compêndios, ou no
ecoar distante dos discursos empavonados naqueles idos em que ainda se
registrava a “data magna da nacionalidade”, restou-nos a facécia solta do “Samba do Crioulo Doido”.
Temos percorrido a História
naquele andar despreocupado com a “terra descoberta” e ainda não fundada.
Na terra descoberta
por acaso, temos construído uma História pontilhada de acasos. É preciso que
nos livremos deles.
Um País, uma Nação,
não se constroem com ou por acasos. Da descoberta por acaso, sucederam-se os
acasos. Um deles, a vinda da família Imperial em 1812, tangida pela evidencia
nada casual das tropas napoleônicas que avançavam esfarrapadas e famintas. O
Brasil avançou em consequência da circunstancia fortuita do acaso.
Veio a
Independência, o grito ocasional de uma indignação não reprimida do Príncipe regente
português. E assim deixamos de ser Reino Unido a Portugal e Algarves, nome
bonito para uma situação subalterna de colônia.
Nos deram a
República, e ela veio também num acaso que juntou as elites escravocratas com
raiva da abolição aos militares insatisfeitos com os baixos salários. Daí por
diante seguem-se os episódios ocasionais. E eles continuam até hoje.
Não há, todavia, acasos.
O erro consiste em admiti-los como fatos geradores da trajetória de um povo. Da
mesma forma que não houve acaso na “descoberta” do Brasil, que foi o resultado
de um projeto do qual a Escola de Sagres do Infante Dom Henrique se tornou símbolo,
não há acasos no evoluir da nossa História, desde Colônia a Império e
República. Quando enxergamos acasos, é tão somente porque nos descuramos de
traçar um projeto para o Brasil. Somente em raros instantes da nossa História,
a idéia do acaso foi substituída por uma determinação, uma meta, e a política
transformou-se no instrumento para alcançar o objetivo. Nesses momentos
tratou-se da Fundação do Brasil. Essa Fundação está deploravelmente incompleta,
e este momento de crise e de vergonhas expostas, poderia ser o instante exato para
trocarmos o acaso que nos avilta como Nação, pela solidez de um projeto
nacional, isento das marcas sórdidas de tudo o que estamos vivendo, e de tudo o
que nos levou a essa realidade decepcionante.
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