DE FERNANDO PESSOA AO
DEPUTADO BOLSONARO
Permitimo-nos discordar de Fernando Pessoa e de todos os seus
heterônimos, para negar que a ¨ ¨literatura
seja a maneira mais agradável de ignorar a vida¨. Até mesmo para,
adiante, chegar ao Pessoa que fez da literatura uma janela permanentemente
aberta para a vida, porque, mesmo a vida desesperançada não deixa de ser
vivida, até mesmo quando o ato final se torna meticulosamente planejado.
Escreveu Pessoa no Livro do Desassossego , que a juventude do
seu tempo ( começo do século passado) perdera a fé em Deus, adotando a
Humanidade para sucedâneo. Aqui, a nossa
outra discordância, porque o autor se diz não muito perto de Deus, mas, muito
distante da Humanidade. Um poeta, um pensador sensível como ele, jamais estaria distante da
humanidade.
Para o ser humano só existem três grandes alternativas, ou variações de tonalidades delas decorrentes: ficar perto
de Deus e perto da Humanidade; perto da Humanidade e distante de Deus, ou perto
de Deus e distante da Humanidade.
O Papa Francisco, Dom Helder Câmara, Luther King, Antônio Conselheiro, Padre
Cícero, escolheram a primeira das três alternativas, perto de Deus, e também colados à humanidade.
Lênin, Guevara,
Trotski, Rosa de Luxemburgo,
revolucionários, desprezaram Deus , fieis às suas concepções, acreditaram
exclusivamente na luta pela humanidade.
Já os que se tornam
reclusos à absoluta exclusividade da oração e da fé, preferemdesprezar o mundo
e a humanidade , obstáculos à aliança
única e inquebrantável com Deus. Desses, Santa Tereza D` Ávila seria um
exemplo.
Mas há uma quarta e fatídica opção, que preferimos não
elencar entre aquelas que podem ser tomadas sem que se macule o conceito de dignidade humana. É a fatídica e
indigna escolha pelo distanciamento tanto de Deus, como da Humanidade.
Hitler e Stalin podem ser apontados, na idade contemporânea,
como exemplos dessa escolha.
Quando a Humanidade não é sucedâneopara Deus, nem Deus o
sucedâneo para a Humanidade, chega-se ao ponto onde o homo – sapiens renega a
inteligência, e o faz, para assumir a condição primitiva dos predadores carniceiros.
Dizendo-se cristão, Bolsonaro ( filiado ao PSC, Partido
Social Cristão, que tem em Sergipe a liderança de André Moura e Eduardo Amorim) representa,
tanto ele como os que dele são silenciosos coniventes, a própria antinomia aos
princípios e práticas do cristianismo.
Se Bolsonaro acredita ou não em Deus, isso diz respeito somente a ele mesmo , mas, a sua
descrença, o ódio e o desprezo pela
humanidade, isso é caso que a nós deve preocupar.
A democracia abre
espaços para todas as convicções, todas as crenças, todas as discordâncias,
todos os anseios de liberdade individual ou coletiva, sejam em relação às idéias,
a comportamentos ou à manifestações, mas,
não pode admitir que as franquias asseguradas aos cidadãos sejam utilizadas por
quem, como Bolsonaro, renega a condição
humana, e age conscientemente, como selvagem besta,agredindo a civilidade ,
afrontando a civilização e os bons princípios.
Por isso, o escarro,
gesto que denota ausência de civilidade e equilíbrio , se for na cara de
Bolsonaro, é nada mais do que um desperdício.
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