domingo, 20 de março de 2016

A ESQUERDA NA ERA PÓS- DILMA E PÓS – PT



A ESQUERDA NA ERA
PÓS- DILMA  E PÓS – PT
Se o trabalhador que saiu das fábricas, o estudante que saiu das faculdades,  das escolas, o camponês que encostou a enxada e foi pisar no asfalto, se aquele mar de gente que encheu as ruas mostrando, sobretudo, que Lula não está morto, e que o impeachment não é uma atitude a ser tomada sem riscos de graves ocorrências; se tudo isso não adiantar, e um impeachment comandado por um degradado moral que se chama Eduardo Cunha avançar, a presidente será afastada, mas, dessa forma o país não terá paz.
 Antes que isso se consume e surja a ameaça concreta de gravíssimos tumultos, a presidente poderia evitar o que seria uma desgraça para o país,     começando, na hora certa,  a negociar   uma renúncia honrosa. E isso dependerá de uma  iniciativa dela própria, movida pelo interesse maior do país. Dilma deve iniciar um respeitoso  diálogo, democrático e republicano com todos os setores políticos, com a  sociedade, para traçar uma agenda de retirada programada, antes ,  formalizando-se   um pacto de honra pelo Brasil. Lula não  poderá estar ausente desse processo, como também os movimentos sociais, para que se   possa promover o entendimento e a pacificação nacional através de um consenso  que consiga refrear os ressentimentos e diluir os ódios. Uma presidente que não consegue mais sequer nomear um ministro, já está politicamente deposta, e não será bom para o Brasil que a agonia se prolongue.
 As ações contra a posse de Lula têm  motivações políticas,   mas , num ambiente   totalmente adverso  Lula não terá muito o que fazer, na hipótese improvável de vir mesmo a ser ministro.Todavia, as ruas nessa sexta já demonstraram que ele conta com uma base social forte que não ficará inerte. Um sensato desembargador federal ao cassar uma das  liminares, disse que não cabe ao Judiciário envolver-se em questões político-partidárias e que a palavra final deverá ser do STF.
 Agora, o que precisa fazer a esquerda brasileira é começar a pensar  o futuro,  na iminente  era pós-Dilma. A direita, tanto a civilizada quanto a absolutamente incivilizada, tipo Bolsonaro e companhia, irá ganhar espaço,  com a aura de terem sido  seus integrantes, os protagonistas da queda de um governo e de um partido, marcados pelo estigma da corrupção . 
Os erros  do PT, permitiram a ressurreição  do que pior existe na política brasileira, e esse rebotalho surge com força, e dará muito trabalho.
Em São Paulo, o PSDB troca o vereador Andrea Matarazzo, efetivamente um social-democrata, pré-candidato a Prefeito da Capital,  pelo enfatiotado janota João Dória, cujas qualidades se resumem a ser um solícito valet de chambre,  bem maquiado, da   presunçosa e esnobe aristocracia paulista. João Doria Junior, o dândi, filho de um ex-político paulista que se tornou mais conhecido como João Dólar, vai ter de trocar as grifes, os relógios Rollex, para começar a visitar a periferia paulistana, onde, se alguma vez esteve, foi com o perfumado lenço de cambraia ao nariz.
O  respeitado senador Cristovão Buarque,  nome que deve ser referencial para futuros embates políticos, dizia, semana passada no Senado,  que a derrocada de Lula e do PT, arrasta, também, toda a esquerda para o limbo do desprezo, ou, pior ainda, da execração popular.
É preciso começar a pensar num Brasil  onde a clivagem ideológica agora se acentuou, e até absurdos como a  ¨ameaça comunista  ¨ estão sendo revisitados, isso,  enquanto os americanos desembarcam  festejados em Cuba, e lá irão fazer bons negócios. 26 anos transcorridos desde o fim da guerra fria, por aqui virou moda alertar para o perigo de uma ¨invasão cubana ¨.    A extrema direita  se torna agressiva, e vai às ruas pedir  ¨ intervenção militar, ¨ o fascismo adota as cores do neo-liberalismo global, e um louco incendiário, Donald Trump,  torna-se candidato à presidência dos Estados Unidos, e poderá até vencer as eleições. O fascismo globalizado é rancoroso, racista, intolerante, fanático. Aqui, pelo sul do país, trogloditas que têm a suástica nazista tatuada ao corpo, andam a agitar a bandeira  anti-brasileira do separatismo,  a  defender a odiosa tese da supremacia da raça branca, o mesmo discurso nefasto de Adolf Hitler que levou o mundo à sua maior hecatombe.
Na era pós-Dilma, a esquerda  terá de passar por um aggiornamento , sem o qual perderá o bonde da História. E a História demonstra, que, enquanto a extrema direita produz ditadores e guerras, a esquerda, desde que não se contamine pelo vírus da ambição patrimonial, ou da visão totalitária, é quem empurra esse bonde  pelos trilhos da modernidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário