sábado, 30 de janeiro de 2016

A FEIRINHA QUE ACABOU E A SOMBRA DESAPARECIDA



A FEIRINHA QUE ACABOU E
A SOMBRA DESAPARECIDA
 Naquele conjunto de prédios em frente ao Batistão onde funcionam órgãos públicos estaduais havia um espaço arborizado, com boa sombra, até banquinhos, e ali realizava-se uma pequena feira-livre todas as sextas-feiras. Isso há mais de 35 anos. Foi uma iniciativa do agrônomo Paulo Viana quando era Secretário da Agricultura no governo de Valadares.
 Tornou-se uma tradição no bairro,ponto de encontro das pessoas; idosos preferiam frequentá-la por ser segura,num espaço protegido,além disso, havia a sombra acolhedora das árvores e eram comercializados produtos orgânicos. Falamos assim,no pretérito, porque a feira que havia, já não há mais. Acabou, ou melhor, foi tangida para fora do espaço entre os prédios e jogada para o outro lado da rua, onde está num descampado, sem a proteção refrescante das árvores, buscando alguma sombra esquiva projetada pelo Ginásio de Esportes Constancio Vieira. Os feirantes estão revoltados, as pessoas que frequentavam a feira muito tristes, por terem perdido um local que fazia parte da sua rotina de lazer.
Como aconteceu tudo isso?   É a conseqüência de um ato autoritário, também um crime ambiental, com a derrubada das árvores, um desrespeito aos microempresários que pagam impostos e esperavam merecer alguma consideração, respeito ao que faziam sem interrupções,e há tanto tempo.
Apontam o secretário da infraestrutura o engenheiro Valmor Barbosa que é sindico do conjunto de prédios, como responsável pelo que foi feito, e mal feito.
Logo ao ocupar as novas dependências da sua secretaria naquele grupo de edifícios, o secretário mandou asfaltar toda a área de acesso que já era bem pavimentada a paralelepípedos.  Asfaltou também o espaço amplo, espécie de praça arborizada, onde as árvores foram sumariamente cortadas e dela mandou retirar a feira para dar lugar aos veículos, estatais e particulares dos que ali trabalham.
O secretário talvez não avalie a importância real e simbólica das feiras livres, a sua identificação com o que de melhor existe nas iniciativas populares. Se ele soubesse que feiras – livres existem desde o fundo da Idade Média, quando eram feitas fora dos muros das cidades,ou ao lado dos castelos, algumas desafiando a má vontade dos senhores feudais, por isso, sendo “livres”pensaria melhor antes de investir contra uma réplica atualizada das suas antecessoras distanciadas por séculos.Feiras - livres se constituíram e se fortaleceram à revelia de um sistema de economia fechada onde o consumo era restrito e cada comunidade provia-se de tudo o que lhe era necessário. As feiras livres incentivaram o consumo, agregaram iniciativas, estimularam o associativismo, a cooperação, e fizeram circular riquezas, tudo o que era necessário para que se trocasse o feudalismo  pelo capitalismo.
Um dia, em Havana, onde este escrevinhador perdia as ilusões sobre economias totalmente controladas pelo Estado, e equivocadamente denominadas socialistas, assistindo o desabastecimento total, a falta calamitosa de produtos agrícolas,e filas enormes nas tendas estatais, ouviu de um vendedor que era funcionário público: “Isso tudo seria diferente se tivéssemos aquifeiras livres”. O funcionário  era engenheiro, um dos muitos resultantes do eficiente sistema  educacional da ilha, todavia, sem perspectiva de emprego  na sua área.
Sem absolutamente nenhuma simpatia pelo engodo neoliberal, há que se reconhecer,todavia, que é preciso muito cuidado para que o Estado representado pelos seus burocratas em grande parte insensíveis, não se intrometa onde não deve, e, o que é pior, se imagine senhor dos destinos de feiras – livres, edas árvores.

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