A FEIRINHA QUE ACABOU
E
A SOMBRA DESAPARECIDA
Naquele conjunto de prédios em frente ao
Batistão onde funcionam órgãos públicos estaduais havia um espaço arborizado,
com boa sombra, até banquinhos, e ali realizava-se uma pequena feira-livre todas
as sextas-feiras. Isso há mais de 35 anos. Foi uma iniciativa do agrônomo Paulo
Viana quando era Secretário da Agricultura no governo de Valadares.
Tornou-se uma tradição no bairro,ponto de
encontro das pessoas; idosos preferiam frequentá-la por ser segura,num espaço
protegido,além disso, havia a sombra acolhedora das árvores e eram
comercializados produtos orgânicos. Falamos assim,no pretérito, porque a feira
que havia, já não há mais. Acabou, ou melhor, foi tangida para fora do espaço
entre os prédios e jogada para o outro lado da rua, onde está num descampado, sem
a proteção refrescante das árvores, buscando alguma sombra esquiva projetada
pelo Ginásio de Esportes Constancio Vieira. Os feirantes estão revoltados, as
pessoas que frequentavam a feira muito tristes, por terem perdido um local que
fazia parte da sua rotina de lazer.
Como aconteceu tudo
isso? É a conseqüência de um ato
autoritário, também um crime ambiental, com a derrubada das árvores, um
desrespeito aos microempresários que pagam impostos e esperavam merecer alguma
consideração, respeito ao que faziam sem interrupções,e há tanto tempo.
Apontam o secretário
da infraestrutura o engenheiro Valmor Barbosa que é sindico do conjunto de
prédios, como responsável pelo que foi feito, e mal feito.
Logo ao ocupar as
novas dependências da sua secretaria naquele grupo de edifícios, o secretário
mandou asfaltar toda a área de acesso que já era bem pavimentada a paralelepípedos.
Asfaltou também o espaço amplo, espécie
de praça arborizada, onde as árvores foram sumariamente cortadas e dela mandou
retirar a feira para dar lugar aos veículos, estatais e particulares dos que
ali trabalham.
O secretário talvez
não avalie a importância real e simbólica das feiras livres, a sua
identificação com o que de melhor existe nas iniciativas populares. Se ele
soubesse que feiras – livres existem desde o fundo da Idade Média, quando eram
feitas fora dos muros das cidades,ou ao lado dos castelos, algumas desafiando a
má vontade dos senhores feudais, por isso, sendo “livres”pensaria melhor antes
de investir contra uma réplica atualizada das suas antecessoras distanciadas por
séculos.Feiras - livres se constituíram e se fortaleceram à revelia de um
sistema de economia fechada onde o consumo era restrito e cada comunidade
provia-se de tudo o que lhe era necessário. As feiras livres incentivaram o
consumo, agregaram iniciativas, estimularam o associativismo, a cooperação, e
fizeram circular riquezas, tudo o que era necessário para que se trocasse o
feudalismo pelo capitalismo.
Um dia, em Havana,
onde este escrevinhador perdia as ilusões sobre economias totalmente
controladas pelo Estado, e equivocadamente denominadas socialistas, assistindo o
desabastecimento total, a falta calamitosa de produtos agrícolas,e filas
enormes nas tendas estatais, ouviu de um vendedor que era funcionário público:
“Isso tudo seria diferente se tivéssemos aquifeiras livres”. O funcionário era engenheiro, um dos muitos resultantes do
eficiente sistema educacional da ilha,
todavia, sem perspectiva de emprego na
sua área.
Sem absolutamente
nenhuma simpatia pelo engodo neoliberal, há que se reconhecer,todavia, que é
preciso muito cuidado para que o Estado representado pelos seus burocratas em
grande parte insensíveis, não se intrometa onde não deve, e, o que é pior, se imagine
senhor dos destinos de feiras – livres, edas árvores.
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