quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

AS LEMBRANÇAS DE MURILO MELLINS



AS LEMBRANÇAS DE
 MURILO MELLINS
 Neste começo de janeiro o memorialista Murilo Mellins anda um tanto triste. Lembra-se do aniversário que faria dia 3 o amigo Decinho, sempre   comemorado com muito uísque, apesar do dinheiro escasso. O scotch era falsificado, caseiro, e colocado em garrafas de Old Parr   através de um sistema engenhoso  que Nelson de Rubina, especialista em todas as tramóias, ensinava a fazer.  As ressacas eram demolidoras.
Murilo, para vencer a tendência depressiva que os Natais despertam, vai rememorando casos e  alinha episódios relacionados ao ridículo moralismo da província subjugada pela hipocrisia. Dois deles :
 A empresária da moda Dona Vivinha, tinha uma ¨maison ¨que levava o seu nome, e era freqüentada pela granfinagem com dinheiro, ou fingindo que o tinha. Havia um único modelo de maiô, era discretíssimo, inteiro, e com um saiote que descia até a metade das coxas  . Junto estava escrito: Traje de banho permitido pela Ação Católica.
Esperava-se com muita ansiedade, naturalmente entre os homens,  o anunciado espetáculo da performática vedete Luz Del Fuego. Ela exibia-se nua, tendo a envolvê-la uma jibóia que lhe cobria o sexo, enrolando-se pelas coxas e subindo por entre os seios. Com essa jibóia Luz Del Fuego fazia uma coreografia sensual, a maior ousadia da época, tolerada em alguns palcos do Rio e São Paulo.
O espetáculo em Aracaju era um desafio às normas  conveniências e fingimentos vigentes. Seria no Cinema Rex,  na rua Itabaianinha, local hoje da agencia central do Banco do Nordeste. No dia , formou-se, com antecedência de horas,  enorme fila de marmanjos excitados.   Aparece então o Chefe de Polícia, professor Monteirinho, para comunicar, até contristado, que, a pedido do Arcebispo o espetáculo fora vetado pela polícia. No mesmo instante passa em frente o automóvel Ford, preto, dirigido pelo  Arcebispo, que viera observar se a ordem estava sendo cumprida. Recebeu uma vaia estrepitosa e saiu cantando pneus.

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