sábado, 28 de novembro de 2015

O SENADOR E O BANQUEIRO



O SENADOR E O BANQUEIRO
Prender político no Brasil já se tornou quase uma tarefa corriqueira. Os operosos agentes da PF  devem andar  cansados de mostrar mandados de prisão expedidos contra vereadores, deputados, prefeitos, e agora o exibiram a um Senador da República e, antes disso, sem mandado mesmo, alegando flagrante, já conduziram um governador para a cadeia. Tudo isso em pleno exercício do mandato desses representantes do povo. O próprio Senado   teve, recentemente varejados pela Polícia Federal, alguns dos seus mais vistosos e poderosos gabinetes.  Nessas prisões ou conduções coercitivas nunca deixou de haver o carimbo de um magistrado, ou de um ministro do STF.
Há quem  proteste diante do furor midiático que sempre acompanha ou dá sequência a essas prisões, considerando mesmo que o Poder Judiciário estaria exorbitando, indo além das suas prerrogativas.
Alguém poderia imaginar um Senador americano, um Senador da República Francesa, sendo preso e conduzido   a uma cela com oito metros quadrados, e sem direito a um banheiro privativo?
Isso não seria a deslegitimação  do pilar base da arquitetura democrática, que é a força e a intangibilidade da manifesta vontade do povo?
Nos Estados Unidos , durante a onda de repressão do ¨macartismo¨,  detentores de mandatos populares com âmbito federal sofreram o constrangimento de depor diante da feroz comissão de investigação presidida pelo fanático Senador, que a ela emprestou o seu deplorável nome. Mas, nenhum deles foi preso.
O que estaria então a acontecer no Brasil ?
Não é fácil produzir uma resposta diante de um processo que tem  história alongada, e um labirinto de implicações econômicas, sociais, que se estendem muito além do campo específico da política.
Mas, de início, surge a evidente constatação de que o terreno nobre da política vem sendo, desde a redemocratização em 1985, ocupado por uma massa de aventureiros destituídos de qualquer idéia que não seja o enchimento dos próprios bolsos.
Marx e Engels criaram, para  definir um certo tipo de escória social, a expressão em alemão : ¨ Lumpen Proletariat ¨. Seria uma camada indolente e indiferente do proletariado imersa na própria apatia, ou desesperança,  à margem das lutas sociais, da política, não se identificando como classe.
Estamos a necessitar de uma definição para esse tipo de escória que ocupou vastos espaços da política brasileira, ao ponto, até, de  um líder sindicalista  que surgia no ABC paulista chamado Lula, ter dito que essa escória estava representada pelos 400 picaretas dentro do Congresso Nacional. Não se trata de uma escória indiferente nem muito menos apática. É uma escória ativa, participante, que até adota um estilo agressivo,  assim , tipo Eduardo  Cunha.  Que tanto pode estar na direita, como na esquerda.  Zé Dirceu, Delcídio Amaral, e Demóstenes Torres , são bons exemplos de comportamentos mafiosos que vão além  das ideologias, ou, o que é pior, através delas tentam se justificar.
A escória que invadiu a política brasileira desconhece completamente o que vem a ser ¨ interesse público¨ , e opera exclusivamente com o único intuito de privatizar para cada um, aquilo que poderá parecer intangível, todavia, que se expressa clara e fisicamente em reais ou dólares,  e que é chamado, tão inapropriadamente , de ¨coisa pública ¨. A escória da qual falamos, especializou-se em devastar a ¨coisa pública ¨.  Essa escória transita  no Congresso Nacional, nas Assembléias,  está enquistada em todos os poderes, em todas as camadas sociais. E continuará assim, enquanto estivermos a conviver com um modelo político que é  estímulo aos mafiosos. Se esse modelo permanecer , a escória fica nele agarrada, enquanto não houver a iniciativa cívica e regeneradora da República representada na Convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte, com o objetivo especifico de elaborar as reformas ,  entre elas a   reforma política. Mas que venha  a ser constituída por quem não tenha mandato, nunca os haja exercido, e com o compromisso de, cumprida a tarefa constituinte, nunca mais ser candidato.
 A nossa política anda assim, a tal  ponto desmoralizada, que a prisão do desastrado Delcídio  foi quase ignorada no exterior, embora seja ele um Senador da República. Mas o banqueiro Daniel  Esteves, dono do Pactual, foi noticia em todo o mundo. Afinal, prender banqueiro não é coisa corriqueira, ainda mais quando o seu banco tem ativos da ordem de 300 bilhões de dólares.  A escória invasora, não se classifica pela renda, muito menos pela ideologia.

UM PASSEIO PELO PREDIO EM RUINAS



UM PASSEIO PELO
PREDIO EM RUINAS
O  edifício da SUDENE na Avenida Caxangá,  arredores do Recife, era, certamente, entre os anos 50 e 60 um dos mais imponentes da cidade, naquela época ainda começando a verticalizar-se. Ali, sob o comando de um grande brasileiro chamado Celso Furtado, operava uma parte da mais lúcida inteligência nacional. Estavam todos debruçados sobre livros, pranchetas, mapas, equipamentos diversos de laboratório, planejando o nordeste. Estudavam as condicionantes sociais do seu povo, os fatores que determinavam o atraso econômico, com a conseqüência trágica da miséria, do abandono, da fome, da baixa expectativa de vida. Estudavam o clima, buscavam identificar  as causas do fenômeno inevitável das secas; meios  para estabelecer previsões eficazes, formas de conviver com a estiagem, formulas para transformar o semiárido brasileiro numa área produtiva e capaz de abrigar uma população  densa e produtiva. Estudavam as características do solo, da vegetação, buscavam  o que havia no subsolo, de preferência água. Queriam  perenizar rios, construir barragens, açudes, queriam até fazer chover.
Enfim, o pessoal da SUDENE planejava o nordeste, apontava as transformações necessárias, abria perspectivas para a modernização, atraia indústrias e montava um esquema de incentivos ficais que   despertava o interesse de investidores nacionais e  estrangeiros. O prédio imponente da SUDENE, era o símbolo,  na sua arquitetônica  futurista, de um nordeste  pulsante de entusiasmo, naquela  célere passagem do antigo para o novo.
Cedo, assim que terminou o mandato de Juscelino,  um senador  cúmplice e também agente do atraso nordestino, o paraibano Argemiro Figueiredo, apresentou um projeto que castrava a SUDENE. As vozes  das ¨casas grandes ¨ nordestinas, do reacionarismo brasileiro, também cúmplice e agente do atraso, a ele se juntaram. Houve um comício em apoio à SUDENE realizado no centro do Recife, na ¨Pracinha do Diário ¨. Alguns jovens sergipanos foram dele participar. No palanque, estavam o governador de Pernambuco,  Cid Sampaio, e o prefeito do Recife Miguel Arrais, mas, mesmo assim , a cavalaria investiu contra o povo. Houve embates, e alguns feridos.
Havia algo tenso no ar  irrespirável do confronto político-ideológico que antecipava 64.
O golpe civil-militar de 1964,  prendeu Celso Furtado, Arrais, dezenas de técnicos da SUDENE, que os coronéis Ibiapina e Vilocq,( aqueles que amarraram Gregório Bezerra a um Jeep e saíram a arrastá-lo sangrando pelas ruas do Recife) entendiam que era preciso fechar  por ser nada mais do que um ¨covil de comunistas ¨.
Felizmente  o ¨covil ¨ não foi fechado, os técnicos retornaram ao seu trabalho. Houve na SUDENE bons administradores,  como o general Euler ( pronuncia-se óiler ) Bentes Monteiro.
O sociólogo que se tornou presidente, FHC , deve ter entendido que a SUDENE não mais servia para nada, nisso, aproximando-se, por outras razões, ao que pensavam os coronéis  Vilocq e Ibiapina. FHC desativou a grande agência de desenvolvimento que pensou e liderou um processo de transformações . Se a SUDENE permanecesse com o protagonismo   que tinha quando Juscelino a criou,  a renda do nordeste,  hoje, estaria igual ou superior à de Santa Catarina.
 Lula, que muito fez pelo nordeste, apesar de coisas chocantes e calamitosas, como a  refinaria Abreu e Lima, a inacabada e agora quase impossível transposição,  condenou a extinção da SUDENE, mas não a reativou.
O outrora iluminado  prédio onde havia o azáfama de construir o amanhã, está hoje sombrio e abandonado. Um daqueles sergipanos que esteve no comício de 1961 no Recife, em defesa da SUDENE, na última sexta – feira, dia 27, desceu do táxi que o levava da rodoviária, vindo de Campina Grande, para o aeroporto do Recife, e resolveu percorrer o quase entulho em que está transformada a sede da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste  , a SUDENE.  Andou pelos destroços daquele prédio , onde tantas horas passou acompanhando o entusiasmo de gente como os sergipanos  Juarez Alves Costa, Jacó Charcot Pereira Rios, ou as reuniões mensais onde as lideranças nordestinas discutiam, entendiam-se ou tantas vezes discordavam e defendiam idéias diferentes,  mas sempre sintonizadas com o interesse da região.
O prédio em ruínas parece ser uma metáfora triste de tantas esperanças perdidas. Esperança que todavia  se constata, viva e vibrante, na juventude das escolas que compõem a Universidade Federal de Campina Grande, nos seus professores doutores, que estão a disseminar técnicas para o semiárido. Isso, numa cidade sob ameaça de não ter nos próximos dias água para beber.
Quanta falta nos faz a SUDENE, hoje com a sua antiga sede desmoronando.

UMA BUROCRACIA QUE ESMAGA O CONTRIBUINTE



  UMA BUROCRACIA QUE
ESMAGA O CONTRIBUINTE
Não basta aquele excesso estúpido de papeis a preencher, de exigências a cumprir, de impostos inimagináveis,  e taxas inexplicável a pagar. Não bastasse tudo isso, o sacrificado contribuinte brasileiro  ainda tem de passar pelo  martirizante   ritual de chegar às repartições, percorrer os seus diversos departamentos, aos quais é mandado como se todo aquele aparato não passasse de um joguete qualquer, sem nenhum compromisso com a eficiência. O infeliz fica sujeito ainda  a ouvir: ¨O sistema está fora do ar ¨. Sem nem sequer um simples e educado pedido de desculpas, ou o que deveria ser uma indispensável justificativa sobre o incidente. Os chefes, esses, são inacessíveis, os subalternos, quase todos, ficam ocultos por trás da barreira do  ¨agendamento ¨, que terá de ser feito virtual,  via internet. Os prazos são invariavelmente dilatados. Pede-se um agendamento num  dia, com a esperança de tê-lo fixado para os próximos meses, em alguns casos.
Na receita fiscal a emissão de uma simples certidão sem a qual o sofrido contribuinte poderá falir, costuma levar tempo, e as regras são draconianas. Trata-se, via de regra, o contribuinte como se ele fosse um transgressor, um sonegador contra o qual terão de ser adotadas todas as providências saneadoras.
O retrato da burocracia brasileira é este, sem retoques ou atavios para disfarçá-lo.  No dia em que o  numero de contribuintes for sendo reduzido, tragado pela crise que se junta à burocracia burra, talvez fiquem plenamente satisfeitos  todos  os mantenedores dessa rede absurda de  descasos, imprevisões e incompetência acumulados. Mas ai a satisfação logo acabará, quando descobrirem os burocratas e a rede míope  à qual pertencem, que não mais irão receber os seus salários,  porque os contribuintes acabaram por sucumbir ao peso de tantos sacrifícios aos quais são  historicamente submetidos, neste país tão apegado aos ritos da ineficácia.

A SECA EXTREMA QUE NOS AMEAÇA



 A SECA EXTREMA
QUE NOS AMEAÇA
No II Workshoping Sobre Água no Semiárido realizado semana passada em Campina Grande ( PB ) , especialistas em meteorologia, fizeram uma previsão que é quase catastrófica  para o nordeste,  no quinto ano de estiagem. Estamos a depender dos humores do El Niño, aquele fenômeno que ocorre nas águas do Pacífico que aquecem ou esfriam, determinando o evoluir dos eventos climáticos em grande parte do mundo. Do outro lado, no meio do Atlântico, seguindo a zona de convergência intertropical, mais ou menos ao longo da linha do Equador,  as correntes estão frias, e assim, fica reduzida a evaporação, e cai pouca ou nenhuma chuva no nordeste, enquanto, do outro lado, nos desertos africanos, desabam aguaceiros.  Agora,  neste 2016 que já nos bate à porta , tudo conduz a uma previsão pessimista. Mais uma vez nos faltarão as chuvas. Sergipe é o estado nordestino com menor área territorial incluída no semiárido. E perto temos o São Francisco. Assim, aqui os problemas são menos graves. Não haverá um colapso total no abastecimento, como já se prenuncia para quase todo o estado do Ceará, do Rio Grande do Norte, de grande parte da Paraíba e de Pernambuco. Aracaju tem o melhor sistema de suprimento hídrico do nordeste. Há a adutora do São Francisco, construída no governo    de  Augusto Franco, há uma rede de adutoras construídas ao longo de todos os governos, ou seja, houve continuidade de ações, iniciadas no governo de Lourival e seqüenciadas nos governos de Paulo Barreto, Jose Leite, João Alves,  Valadares, Albano Franco e Marcelo Déda .  Jackson Barreto inaugurou a barragem do Poxim, e inicia um programa de perfuração de poços e dessalinização de água  dos lençóis freáticos. É preciso agora sistematizar esse processo que deve obedecer a rigorosos procedimentos técnicos e ambientais, principalmente no caso dos dessalinizadores.
No Ceará que é o estado com maior capacidade de armazenamento de água, nas centenas de açudes lá existentes ( é o maior espelho de água doce artificial do mundo ) só restam 2 bilhões de metros cúbicos de água daqueles   18 bilhões que o estado tem capacidade de armazenar, e do que resta, um bilhão  de metros cúbicos estão concentrados no açude  Castanhão, o último construído, que leva água para Fortaleza. Na Paraíba 26 municípios estão sem uma gota de água. Lá, as prefeituras não se responsabilizam pelo abastecimento. Aqui em Sergipe as prefeituras do semiárido participam, e Canindé faz quase todo o trabalho, com 26 caminhões em operação dia e noite levando água para as pessoas e também para os rebanhos. Mas o pagamento vai atrasar por conta da queda de receita, e o Estado e a União terão de vir em socorro.
Cidades  de porte médio em Pernambuco, na Paraíba , no Rio Grande do Norte e Ceará, poderão ficar sem água no próximo ano. É um quadro desolador. Mas o que fazer?
Temos sido descuidados, ineficientes. No começo do século passado um brasileiro previdente, Arrojado Lisboa, já dizia: É preciso guardar a água na abundancia para usá-la na escassez ¨.

UM NOVO LIVRO DO NOSSO MEMORIALISTA



UM NOVO LIVRO DO
NOSSO MEMORIALISTA
Nessa quarta – feira dia 4 às 17 horas, no Museu da Gente Sergipana, o memorialista maior da nossa cidade, Murilo Mellins, estará lançando mais um livro, intitulado Aracaju Pitoresco e Lendário. Deve constar em todas as bibliotecas de quem  tem interesse em conhecer melhor a vida da nossa capital nos últimos cinqüenta anos.