sábado, 25 de julho de 2015

UMA TRISTE CENA QUE PODERIA SER EVITADA

UMA TRISTE  CENA QUE
PODERIA SER EVITADA
A cena é deprimente, agride o próprio conceito de civilização. São famílias no olho da rua depois de ser cumprida  uma reintegração de posse.  Estamos no inverno, chove com freqüência, faz um pouco de frio, e havia crianças dormindo sobre  colchões  nas calçadas próximas ao antigo hotel ocupado  por moradores de rua. Nem precisaria acrescentar que as condições de higiene eram deploráveis.
Nenhum proprietário ficaria de mãos cruzadas vendo um patrimônio seu sendo invadido. Nesses casos, a reintegração de posse é a medida  legal .  Mas há na Constituição brasileira o conceito de utilidade social da propriedade que, em alguns casos, pode ser alegado para  disciplinar, ou impor limites ao Direito à propriedade, que não deve ser interpretado como intocável dogma.
Casos assim, de gente procurando teto e sendo jogada nas ruas,   enquanto existem imóveis sem uso, se registram  em Aracaju,  e , ainda mais  nas grandes metrópoles do mundo desenvolvido.  Em São Paulo, a coisa já se tornou  freqüente e a policia sempre entra em cena.
As cidades,  tanto aqui como alhures, foram estruturadas a partir de uma visão social excludente: ricos de um lado pobres do outro.   Só depois de muito tempo os governantes, e os urbanistas, se deram conta de que a segregação    gerava um círculo vicioso de aprofundamento das causas da pobreza.   Mas já era tarde, a população jogada para longe  foi retornando ao lado dourado das cidades, para instalar-se nas ruas, esmolando,  depois, conscientizadas, para ocupar imóveis abandonados, e , mais recentemente, empunhando  armas  , para os assaltos hoje rotineiros.
 Quando foram derrubadas algumas  palafitas na Favela da Maré, na enseada da Atalaia, os moradores se viram transferidos para casas lá longe, em Socorro. Conta-se que um dia, a hoje senadora Maria do Carmo, então Secretária de Inclusão Social, encontrou um dos ex-favelados  e perguntou-lhe como estava a sua nova vida, morando em casa arejada e com água e luz. Ele respondeu: ¨ Eu agradeço Dona Maria, mas minha vida piorou. Pobre cercado de pobre não dá certo, aonde a gente vai  trabalhar ? ¨  Registre-se, em favor de Dona Maria, que ela foi sensível,  mandou fazer casas de alvenaria na própria favela. O problema  porém só seria definitivamente resolvido por Marcelo Déda , quando prefeito. Toda a favela da maré foi transformada. Criou-se no local um novo bairro, com casas para os favelados, comércio, escola,  posto de saúde. Tudo junto e integrado ao bairro da Atalaia, onde há renda elevada e oportunidades de emprego.  Esse modelo, em menor escala, foi iniciado por Jackson, quando prefeito de Aracaju. Trata-se de um exemplo a ser seguido.
  Depois do despejo sumário de tantas famílias, e a exibição pública da nossa amedrontadora ferida social, caberiam algumas perguntas:  Antes da ordem do despejo,  poderia o magistrado, ter promovido uma reunião com representantes dos sem teto, da prefeitura de Aracaju a quem está afeto o problema,  também com representantes do governo, na busca de uma solução ?
Não poderia também  o magistrado sugerir um aluguel social que seria pago ao proprietário do hotel, para que lá permanecessem os ocupantes, com prazo marcado para uma solução  definitiva ?
Como parece que prevaleceu na decisão a hermenêutica pura, o grave problema foi desnecessariamente criado. As famílias foram jogadas nas ruas.   Seres humanos relegados à  condição de animais.

Para completar, o comércio da área ficou inteiramente  paralisado ,  as vendas que já diminuíam,  naquele período despencaram e o transito tornou-se complicado.

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