A POLÍCIA DO ESTADO OU
O ESTADO DA POLICIA ?
Num primeiro momento aquelas cenas das operações policiais chegando até onde
vivem ou onde trabalham algumas das mais altas autoridades da República e de lá
retirando documentos e bens valiosos, nos faz sentir algum frio passando pela
espinha. Nos acostumamos com a polícia invadindo, estourando covis do
tráfico, da criminalidade em geral. Ações assim transformaram-se em rotina,
porque também nos acostumamos a acreditar que a criminalidade alvo da polícia
seria, somente, aquela formada por indivíduos tão desclassificados na escala social que dela ficam inteiramente excluídos.
São marginais. Agindo contra estes, a policia estaria a cumprir suas funções dentro do aparelho
de Estado, livrando os cidadãos do perigo representado pelos indivíduos à
margem da lei.
Mas agora a polícia vai, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, ao
Senado à Câmara dos Deputados, às residências, escritórios e de lá sai com
papeis, computadores, que poderiam ser destruídos anulando possíveis provas
contra, entre outros, o presidente da
Câmara Eduardo Cunha e o presidente do Senado, Renan Calheiros. Na ordem
hierárquica da sucessão, em caso de afastamento ou impedimento do presidente, Cunha é o segundo, Renan o
terceiro. Representam eles o Poder Legislativo. Assim, um dos três poderes que
embasam a República, vê diluir-se aquela imponência solene que até exige,
antes do nome dos seus integrantes, o altissonante pronome de tratamento: Vossa
Excelência. Nas últimas semanas, aqueles, portadores de elevadas senhorias, receberam a inesperada visita dos agentes federais.
Então, de certa forma, eles tornaram-se iguais aos que usualmente são tratados sem nenhuma cerimônia,
e chamados de malandros ou vagabundos.
Para quem atravessou duas ditaduras, e delas tem um
repugnante gosto, quando a máquina repressiva do Estado se move, sempre surge
aquela dúvida se não haveria, por trás de
tudo, alguma dose de arbítrio, no caso, se a policia é mesmo um instrumento do
Estado ou se o Estado estaria sendo ocupado pela polícia.
Mas, quando daquela
mansão brasiliense, a Casa da Dinda, que se tornou tristemente célebre, apesar
do seu nome tão delicado, se vêem saindo, levados pela polícia Federal uma
Lamborghini, uma Ferrari e um Porche, três bólidos que custariam mais de 2
milhões de dólares, todos somando uma dívida conjunta de IPVA superior a 300 mil reais,
fica-se a imaginar se a policia não estaria a perder tempo enquanto procurava
apenas os marginais que estão nos morros e nas favelas.
Fica-se também a duvidar de qualquer tipo de reforma política
que possa sair de um Congresso, de uma classe política em geral tão acostumada
às mordomias, tão beneficiada por privilégios, que acabou por aderir ao mais
desavergonhado dos hedonismos, aquele, sustentado com o dinheiro público.
Não estamos sequer insinuando que as máquinas rebrilhantes tenham sido adquiridas com dinheiro de propinas.
O
senador e ex-presidente Collor
teria a coragem de chegar,
pilotando a Ferrari vermelha, no desolado e esquecido município alagoano de São
Jose da Tapera, onde setenta por cento da população têm a fome mitigada pelo
Bolsa Família para fazer promessas e pedir votos ?
O povaréu tão vilipendiado deste país de
privilégios excessivos, que agora começou a ter direito a circular numa moto ,
sem poder comprar o capacete nem pagar o IPVA, acreditaria, que um senador a gastar seu tempo ostentando
pelas ruas de Brasília uma Ferrari e uma
Lamborghini, estaria pensando em quem nele votou, em
São Jose da Tapera ou no Jirau do Ponciano ?
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