sábado, 27 de junho de 2015

LUIZ FERREIRA E O CAMINHÃO DO POVO



LUIZ FERREIRA E  O
CAMINHÃO DO POVO
Luiz Ferreira, um jovem agrônomo baiano de Santo Amaro da Purificação, terra de Caetano e Betânia, veio para Sergipe começando a vida profissional. E foi direto para Simão Dias, chefiar o escritório da Ancar-se, uma entidade financiada com recursos externos e que fazia um exemplar trabalho de extensão rural. Logo, completamente sergipanizou-se, esquecendo-se até, de torcer pelo Bahia, e andou a transitar entre o Sergipe, o Itabaiana e o Confiança. Gostava tanto de futebol que freqüentava o Batistão com dois radinhos de pilha aos ouvidos, sintonizados em jogos diferentes. Talvez essa atitude explique a sua permanente movimentação inquieta, agitada, quase elétrica. Luiz era rápido no falar, no fazer, no querer realizar, e, em contraste, muito permanente nas amizades que ia construindo. Transferiu –se  para Aracaju quando já consolidara a imagem de profissional competente e dedicadíssimo ao serviço público, ao planejamento das ações. Aqui, casou-se com a professora Marta Suzana Costa, com ela teve dois filhos: Luiz Fernando, administrador de empresas ,e Ana Paula, arquiteta, que lhe deram dois netos: Vitor e Gustavo.
Fez mestrado em Viçosa, Minas Gerais, e pouco depois de retornar, Augusto Franco o convidou para assumir a Secretaria da Agricultura. Chegava com a responsabilidade enorme de substituir na Pasta o banqueiro e pecuarista Murilo Dantas,  homem aureolado de prestigio e de admiração pelas arrojadas iniciativas que como empresário colocou em prática.
Luiz cercou-se de uma equipe de técnicos, todos eles  movidos pela mesma idéia de modernizar a agricultura sergipana.
Certa vez o Governo Federal , pensou em utilizar a soja que começava a ser farta, em alimento mais para humanos do que somente para animais. Foi então, buscar na criatividade de algum Professor Pardal, a idéia de uma máquina que fabricava, na hora, uma espécie de leite . Era a Vaca Mecânica, e pensou-se então em colocá-la nas escolas, nos edifícios públicos, nas instituições de caridade, em restaurantes populares. Começaria, então, uma campanha para matar a fome do povo com o leite de soja. O regime militar que chegava ao fim necessitava urgentemente de idéias que o tornassem menos impopular.  Aracaju foi designada para ser a sede oficial do lançamento em todo o país, da Vaca Mecânica, e a responsabilidade ficaria com a Secretaria da Agricultura. Até já se começava a plantar soja em Sergipe .  Os irmãos Hagenbeck, experientes plantadores de cana, começavam a ter sucesso com o novo cereal que estava na moda.
Chega a Aracaju o presidente Figueiredo, e o governador Augusto Franco, que a ele devia atenções especiais, como a instalação do Projeto Potássio, da Nitrofértil, do apoio para a Adutora do São Francisco e construção de mais de 20 mil casas populares, o cerca de atenções e deferências. No local onde estava a Vaca de Ferro, o presidente coloca-se à frente de uma fila dos que iriam experimentar o leite saído daquela coisa estranha.  Figueiredo enche o copo na torneira aberta pelo Secretário Luiz Ferreira. Leva o leite à boca e em seguida, fazendo uma careta, cospe para todo lado o líquido esbranquiçado, dizendo: ¨é essa coisa horrorosa  que nos vamos dar ao povo ?¨
 Morreria ali, fulminada pela espontaneidade do general Figueiredo, a Vaca Mecânica.
Para compensar o fracasso da Vaca de horrorosas tetas, Luiz Ferreira começou a mexer na cabeça em busca de uma boa idéia. Surgiu então o Caminhão do Povo.  Seriam, como o nome indica caminhões, repletos, porém, de gêneros alimentícios de primeira necessidade que seriam ofertados a preços reduzidos nos bairros pobres, inicialmente de Aracaju. A maior parte desses gêneros era aqui produzida, e isso começou a gerar uma cadeia  virtuosa de atividades. Ao contrário da Vaca do regime autoritário, que já se desfazia, o Caminhão do Povo  de Augusto Franco alcançou amplo sucesso .  Ajudou a fortalecer a popularidade do governo do estado, tornando, mais fácil ainda, a vitoria do situacionismo, que foi ampla até em Aracaju.
Luiz Ferreira morreu semana passada. Foi tudo rapidamente, como era seu estilo simples e construtivo de vida,  simplicidade aliás  que era também uma convicção ética. Entrou pobre no serviço público. Dele saiu da mesma forma  , e nunca parou de trabalhar.

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