O BRASIL DA ENXADA
MALSINAVA A INDÚSTRIA
Os grandes fazendeiros, gente extremamente
conservadora que plantava café, ao lado dos senhores de engenho nordestinos, mandavam para representá-los no Congresso Nacional os senadores e deputados
, que topavam ouvir qualquer discurso,
menos daqueles que no Império falavam em Abolição ou
República. Depois, deposto o imperador, lembravam da necessidade de modernizar o
Brasil, e entendiam que isso não poderia acontecer sem a industrialização. Para
a oligarquia rural, sugerir que se instalassem fábricas no país significava
quase a mesma coisa que defender a idéia estúpida e malsã da reforma agrária.
Havia, ao lado do conservadorismo rural, uma elite pensante
que se dedicava a cantar as virtudes e as vantagens do Brasil como um ¨ país
essencialmente agrícola ¨. Isso era motivo de extremado orgulho . Para
que ser uma Bélgica, uma Inglaterra, ou França,
Alemanha ? Se aqui se instalassem fábricas, logo se formariam os
contingentes proletários, e com eles
viriam os sindicatos e as ideologias
devastadoras da religião, da propriedade, das nossas melhores tradições.
Com operários se organizando, exigindo, fazendo greves, teríamos a desordem
propagada pelo socialismo, pelo anarquismo, pestes que andavam a ameaçar a
estabilidade das monarquias européias. O Brasil rural, acomodado, tranqüilo,
sem agitações políticas, sem povaréu paralisando fábricas, mas produzindo muito
café, açúcar, carne, leite, couros,
produtos fáceis de exportar, seria o modelo perfeito de um país que tinha
enormes espaços de terra fértil onde plantar e colher. Aqui, poderia se
concretizar a utopia, a sociedade perfeita, embora servindo apenas para a
satisfação de uma reduzida elite de proprietários.
Atravessamos o tempo , conseguimos fazer grandes avanços econômicos, e ultimamente sociais, mas não nos livramos
totalmente do preconceito contra a industrialização, preconceito, ou o que
seria pior, incapacidade para fazê-la. Seria apenas uma resistência passadista
que nos sobra, ou o resultado de uma
educação capengante que nos condena a não crescer tecnologicamente , a produzir
café para que italianos, suíços, americanos, a ele agreguem valor, sofisticando
o produto, esnobando na qualidade,na criatividade no marketing? Por aqui mesmo
de criação brasileira so temos o simplório cafezinho. Mas as empresas
multinacionais faturam com o cappucino,
o latte, o expresso, o ristretto, o macchiato, e há muito mais ainda: o
Irish Coffe, Brandy Coffe, Calypso
Coffe, Gaelic Coffe, esses, resultado da mistura do café com bebidas alcoólicas, oferecendo atrativos que seduzem paladares
pelo mundo todo. E aqui, temos o cafezinho, no máximo a média, café, pão e
manteiga.
Carros, produzimos muitos, mas todos os modelos nos
chegam de fora, aqui os repetimos e os montamos. A Coréia, a China, a Índia, a Rússia, criaram
modelos resultantes da competência
tecnológica que dominam.
Somos o maior exportador de ferro do mundo e estamos a importar trilhos da China para as nossas ferrovias , trilhos feitos com o minério de
ferro brasileiro de excelente
qualidade, que aqui deveria ser industrializado.
Teria sido melhor mesmo se ficássemos apenas a plantar batatas ?
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