ANTONIO ERMIRIO E
A FUMAÇA DA FÁBRICA
Antonio Ermírio de Morais fez o Grupo
Votorantim criado por seu pai Jose
Ermírio, tornar-se um dos maiores
conglomerados empresariais do Brasil. A
vida de Antonio Ermírio não pode ser resumida apenas num caso de sucesso
empresarial. Ele foi bem além
daquilo que normalmente se espera de um
homem de empresa. oltando dos Estados Unidos, onde se formou em metalurgia logo
assumiu um papel preponderante na
condução do grupo que, por decisão sua, deu
um passo que muitos consideraram
arriscado. O Votorantim iniciou no Brasil a produção do alumínio, setor
inteiramente dominado por grupos estrangeiros. Defensor da independência
econômica do Brasil, Ermirio entendia que o empresariado brasileiro deveria preencher
todos os espaços, utilizando-se da nossa gigantesca disponibilidade de matérias primas, especialmente
na área mineral , criando indústrias para suprir o mercado interno e também exportar
manufaturados. Exportar minérios para depois importar trilhos, latas, vagões,
veículos, navios, seria, na visão progressista de Ermírio uma demonstração de
incapacidade. Ele lutou contra poderosos
interesses para criar um parque industrial pujante e competitivo. Apesar de
figurar entre os 5 brasileiros mais ricos,
Ermírio era um homem simples. Destituído de vaidades, nunca ouviu os que lhe
recomendavam um bom alfaiate para deixar de usar aqueles ternos sempre um
tanto desengonçados. Coisa raríssima entre os ricos e poderosos, Ermirio
dedicava-se silenciosamente a realizar
trabalhos sociais. Costumava trabalhar
muito além do expediente normal, e aos sábados,
passava o dia todo tratando de resolver problemas da Beneficência
Portuguesa.
A primeira fábrica de grande
porte que chegou a Sergipe, foi a unidade
de cimento do Grupo Votorantim. Aconteceu durante o governo de Luiz Garcia (
1959- 1962) e foi o economista Aloísio
de Campos o articulador, conseguindo,
finalmente, que as nossas gigantescas
reservas de calcário começassem a ser exploradas, um caminho promissor que era
insistentemente apontado por um visionário das nossas potencialidades minerais,
o geólogo autodidata Walter de Assis
Ferreira Baptista.
A fábrica que era altamente
poluidora, (naquele tempo nem se usava a palavra) foi instalada ao sul da
cidade, em meio a um matagal de difícil
acesso. Aracaju cresceu, as casas
começaram a rodear a fábrica, surgiu o
Conjunto Castelo Branco, e a fumaça que saia das chaminés tornou-se um grave
problema, ameaçando a saúde de milhares de pessoas. Foi
então que o vereador de Aracaju, Luciano Prado, pai do deputado federal
Mendonça Prado iniciou uma forte campanha denunciando graves problemas
respiratórios que se multiplicavam, inclusive a morte de crianças. Ganhou até o
chistoso apelido de Luciano Fumaça. O diretor da área de cimento do grupo,
Clovis Scripiliti, assegurou que seriam instalados filtros que reduziriam a
poluição, enquanto providenciava-se a transferência da fábrica para o município
de Laranjeiras que se tornou um pólo cimenteiro. Uma
outra fábrica de um grupo também com
origem pernambucana, o João Santos ali instalou-se. Agora, chega uma terceira, do
grupo Brennand, também pernambucano. Faz
poucos dias o governador Jackson Barreto recebeu empresários que estão
dispostos a investir numa quarta unidade.
Ermirio de Morais, que morreu
semana passada aos 86 anos, talvez seja o melhor modelo que deveria ser seguido
por todos os nossos empresários. Ele pensava nos seus negócios e mais ainda no
Brasil.