DOIS MÉDICOS QUE TROCAM
HIPÓCRATES POR MAQUIAVEL
A presidente da Assembleia, Angélica
Guimarães é médica, profissional da saúde bastante respeitada. O senador Eduardo
Amorim é também médico, destaca-se na difícil
especialidade de algologista, aquele que busca amenizar as dores de pacientes, entre eles os
terminais. Familiares de tantos desesperançados doentes que tiveram dores suavizadas nos últimos dias de vida, são unanimes em
reconhecer a dedicação daquele médico. Quando o irmão do Dr. Eduardo, o homem
de negócios inclusive eleitorais, Edivan Amorim, resolveu transformá-lo em
político, elegendo-o deputado federal e
agora Senador da República , a medicina sergipana perdeu um excelente médico, e
a vida pública não teve o ganho que se esperaria. O
médico, ao tornar-se político, foi capturado pela rede de interesses que o irmão
manipula, onde não consta o que seria fundamental: O interesse público.
A doutora Angélica tem outra
especialidade, trata de pequeninos, é pediatra, sabe, como ninguém, o que
padecem famílias pobres quando buscam
atendimento médico-hospitalar para as
suas crianças.
Tanto a
doutora Angélica, como o doutor Eduardo, parecem esquecidos do que é preciso
fazer para que crianças tenham um atendimento
de qualidade na rede pública da saúde, o mesmo em relação aos pacientes
que padecem do martírio das dores atrozes.
Faz 6 meses o Governador enviou à
Assembleia um pedido de autorização para
contrair empréstimo de cem milhões de
dólares, quase 250 milhões de reais, o chamado PROREDES, recursos externos que
irão ser aplicados em tudo o que for
necessário para equipar e modernizar a rede publica de saúde.
O governador Jackson Barreto, a
sua equipe técnica, os parlamentares, sabem muito bem o tempo que foi
consumido, os esforços, para vencer obstáculos
e tornar possível a obtenção de recursos, indispensáveis, caso se queira
algo melhor do que é hoje a saúde em Sergipe.
Quando enfim os recursos estão disponíveis, e
é necessária a autorização do Legislativo, repete-se a sabotagem, a mesma mesquinharia que aconteceu
em relação ao PROINVESTE. Todos os estados brasileiros já começavam a receber
os recursos do PROINVESTE, menos Sergipe. Então, o governador Marcelo Déda, nos
seus últimos meses de vida, exauriu-se numa extenuante maratona, visando convencer Edivan Amorim a liberar os deputados que lhe obedecem, para
que eles votassem, outra vez, o projeto
que no ano anterior havia sido negado.
Agora, a situação é bem mais
grave. A sabotagem não se faz para impedir a
construção de estradas, de pontes, de esgotamento sanitário, de abastecimento
de água. A coisa é bem pior. Pratica-se um crime, impedindo-se que o Hospital
do Câncer seja construído no tempo previsto, que se instalem equipamentos nos
hospitais, nos postos de saúde, que se equipe melhor o SAMU. Muita gente pobre vai sofrer, vai morrer nos
próximos anos porque o atendimento médico hospitalar em Sergipe ficará pior, e
os grandes culpados por tudo isso, paradoxalmente, serão dois médicos: Angélica
Guimarães e Eduardo Amorim. Por que eles
assumem esse comportamento absurdo, desumano, cruel, insensível? A obsessão de alguém que não hesita em fazer
qualquer tipo de jogo sujo, desleal, mesquinho, rasteiro, desde que seus
objetivos sejam alcançados, é a explicação evidente para que dois bons médicos,
por conta da política, fiquem, um, o
senador, a repetir aquela cantilena enfadonha e insubsistente de que Sergipe vai afundar-se em dividas. Como
se financiamentos fossem feitos apenas
pela vontade de um governador, sem a avaliação abalizada do Ministério da
Fazenda, do Banco Central, de órgãos que rigorosamente fiscalizam a saúde
financeira dos estados. Por sua vez, a
médica conceituada Angélica, parece
esquecer-se de Sergipe, do seu pobre município Japoatã,
onde o prefeito Gilmarcos enfrenta graves problemas na saúde, e Angélica
submete-se a Edivan , enquanto mantiver trancada a sua gaveta,
usando para isso as chaves equivocadas de um desatinado ¨ projeto político¨
onde os fins justificam os meios, por mais absurdos que sejam. Na gaveta fechada, há 6 meses, está esquecido o pedido de autorização feito pelo
governo do estado. O que a doutora Angélica precisaria como presidente do
Legislativo fazer? Apenas, retirar um
papel da gaveta e determinar ao primeiro
secretário que dele faça a leitura, dando conhecimento do seu teor aos deputados,
e assim possa começar o ritual da
analise e da votação do projeto. A atitude da presidente, além de
antidemocrática, é vergonhosa para o Legislativo, palco de uma chantagem, com os deputados sendo
impedidos de analisar e votar um projeto porque a doutora Angélica teria recebido
ordens externas para que a votação não se realize.
Isso é um comportamento que fere
os princípios da médica zelosa que sempre foi Angélica, e é acintosamente
desrespeitoso, tanto ao povo como às nossas tradições de civilidade. Em consequência, os deputados ficam refém de uma mesquinharia que poderá desmoralizá-los perante a sociedade sergipana, e fica humilhada e subalterna a Casa do Povo,
na qual registram-se divergências e embates, mas, onde nunca deixou de prevalecer o interesse publico .
O senador Amorim, algologista, e
a deputada Angélica, pediatra, trocam os ensinamentos humanistas de Hipócrates, pai da medicina, e adotam o jogo bruto da guerra pelo poder, seguindo a
esperteza cruel de Maquiavel , para que se faça a vontade do Príncipe. No caso,
o Príncipe se chama Edivan .
E onde ficam, nessa novela malfadada, os interesses
de dois milhões e duzentos mil sergipanos? É bom que eles, Angélica e Eduardo , doutores hipocráticos e políticos agora maquiavélicos, não esqueçam que na Florença do
fim da Idade Média, onde viveu o pensador que ensinava príncipes a conquistar e a permanecer no
poder, não havia duas coisas: voto
livre e opinião pública.