O QUE FAZER COM O CAMINHO DE
FERRO
¨Caminhos de ferro,¨ eram assim
chamadas nos dois séculos passados as
ferrovias pioneiras. Sergipe tinha um desses caminhos de ferro. Corria de norte
ao sul, desde as margens do São Francisco, em Propriá, atravessando ao sul, o Rio Real, em demanda de Salvador, cruzando território baiano. O nosso ¨Caminho de Ferro¨ era tortuoso, fazia
inúmeras voltas para driblar acidentes geográficos, ou, ir de encontro a
interesses dos chefes políticos
interioranos. Quem tem mais de 60 anos poderá até ter tido a boa sensação de tomar um trem na Estação
que ficava no Mercado Municipal, mais ou menos onde é hoje a Praça de Eventos,
isso, pelas 16 horas, viajando com certo conforto, se fosse passageiro do
Estrela do Norte, que tinha cabine, dormitório e restaurante. Chegava-se a Salvador no dia seguinte por
volta das 7 da manhã. Eram cerca de 15
horas para percorrer uns 300 quilometros, ou seja, uma velocidade média de
pouco mais de 20 quilometros-hora. Isso,
num trem considerado moderno, tracionado
por locomotiva a óleo. Antes, o Maria Fumaça levava mais tempo, demorava-se nas
sucessivas estações para receber água e lenha, e descerem
e subirem passageiros e cargas. Na Europa nos Estados Unidos os trens
ainda não eram bala, mas, já corriam a
mais de 120 por hora.
O trem era quase o único meio de transporte eficiente
entre diversos municípios, e ligação principal entre o interior e Aracaju. O de
passageiros desapareceu daqui no começo dos anos 60. Continuaram os cargueiros,
depois operando apenas no transporte do petróleo, de combustíveis e da amônia e
ureia produzidas pela Fafen, em Laranjeiras. O derradeiro desses trens deixou
de circular faz mais de 10 anos. Por
outro lado, sumiu também, quase completamente, a navegação de cabotagem. A exclusividade antieconômica do
transporte via rodoviária, é um tiro de
morte nas nossas pretensões de melhorar o ineficiente desempenho da economia.
Trata-se agora, de construir novos ¨caminhos de ferro ¨, recuperar a malha que o tempo quase sucateou, como é o caso
dos 270 quilômetros de
ferrovias no território sergipano, número até considerável , em face do nosso tamanho exíguo e o descaso
brasileiro em relação ao transporte ferroviário. Poderíamos ter muito mais
estradas de ferro, caso houvesse sido concluída aquela, projetada para ligar Aracaju, ( porto mais próximo ) ao
local onde se construía a usina
hidrelétrica de Paulo Afonso. O leito e
as pontes onde seriam assentados os trilhos, ficaram prontos até próximo de Simão Dias. Alí a construção
parou. Aquela linha férrea, ja no sertão baiano, à altura de Jeremoabo, se bifurcaria para ligar-se, na estação de Queimadas, com a ferrovia que
vinha de Salvador, e, em outro ponto, com
a linha projetada para interligar a capital baiana a Juazeiro.
Completar-se-ia assim uma ligação por trens, importância estratégica para
Aracaju, na condição de porto marítimo
mais próximo de Juazeiro, da hoje florescente Petrolina, e de Paulo Afonso. Tudo
empacou na displicência e na falta de verba, mais na displicência, com certeza.
Agora, a ideia de fazer ressurgir o transporte ferroviário é imprescindível, e em Aracaju chegam
representantes da Agencia Nacional de Transportes Terrestres, a ANTT. Eles querem, inicialmente, ouvir a
comunidade para saber o que imaginam que
poderá ser feito com os trilhos da
antiga Leste Brasileiro, privatizada, surgindo como Ferrovia Centro Atlântica.
Aqui , nada fez e agora devolve à União a ferrovia imprestável.
As primeiras ideias voltam-se para a mobilidade urbana, porque a linha corta
Aracaju ao meio e liga a capital com o entorno onde estão cidades como São
Cristovão e Nossa Senhora do Socorro. Os
trilhos são ingleses, muito bons, ainda
intactos, ao contrário daqueles , chineses, que agora importamos, depois de
mandar para lá o nosso minério de ferro. Os trilhos são mesmo péssimos,
entortam, quebram, ruins, como quase tudo o que a China nos manda, de
automóveis a bugigangas de curtíssima duração, ou contendo materiais tóxicos
como no caso das toneladas de bijuterias
letais que foram apreendidas.
O problema é que a bitola é
estreita, não comporta trens capazes de alcançar alta velocidade. Mas
estaríamos bem servidos se por aquelas linhas trafegassem comboios com velocidade em torno dos 60
quilometros. Isso, o Veículo Leve Sobre
Trilhos, o VLT, já consegue fazer com a
utilização de tecnologias bem sucedidas. O VLT, relembramos, foi proposta apresentada em 2012 pelo então
candidato a prefeito, o deputado federal
Valadares Filho. Com os trilhos da ferrovia Atlântica que agora ficam desimpedidos, o assunto VLT poderia voltar a entrar em
pauta.
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