O FUTURO ESTAVA DEBAIXO DO CHÃO
Walter de Assis Ferreira Batista
foi um geólogo autodidata, fundador do
Aeroclube de Sergipe, piloto experiente, que avançou sobre o oceano em um
frágil teco-teco e localizou os restos dos navios torpedeados em agosto de 42, levando os
primeiros socorros aos náufragos; foi também político, e de oposição, no
tempo da ditadura. Sempre candidato a deputado federal e ficando como suplente, exerceu uma parte do
mandato quando dois titulares se afastaram. Revelou-se excelente parlamentar. Quando o chão sergipano
era ainda uma incógnita resultante da quase ausência de pesquisas, Walter
Batista anunciava as portentosas riquezas escondidas, e proclamava: ¨O futuro
de Sergipe está debaixo do chão. ¨ Para os que não o conheciam, ele era
visto como um excêntrico que colecionava pedras e cavava a terra, alguém assim
com um ¨parafuso frouxo¨ .
Aqueles porém, que acompanhavam o persistente trabalho de Walter
sobre a geologia de Sergipe, até admitiam que ele poderia, por excesso de
otimismo cometer algum exagero, mas, a riqueza do subsolo sergipano não era
devaneio nem mistificação. Um empresário alagoano, igualmente visionário, criou
uma incipiente mineradora e andou a perfurar poços em Sergipe. Um deles é
aquele hoje denominado ¨banho doce ¨ na praia de Aruana. Com os
furos realizados em 1947, comprovou-se a
existência de uma variedade de sais minerais, e sobre o aproveitamento econômico deles, conhecidos especificamente como silvinita, taquidrida, carnalita, magnésio, etc..... Walter passou a
escrever artigos, a fazer palestras, e indo mais longe, antes de 1963, quando a
PETROBRAS fez jorrar petróleo no poço pioneiro de Carmópolis, já associava
esses sais minerais com petróleo e o gás, que ele garantia existirem no nosso
subsolo, e fazia a avaliação correta do
processo de aproveitamento daquela riqueza, projetando um futuro polo mineral químico e
petroquímico, que transformaria o
latifúndio de capim, que era Sergipe,
num estado industrializado.
Walter
estava certo, o futuro de Sergipe passava pela exploração das jazidas no seu
subsolo. No caso do petróleo, a PETROBRÁS assim que começou a extraí-lo da
terra logo providenciou o transporte do óleo por via férrea para a refinaria de
Mataripe, na Bahia, há pouco tempo
inaugurada. Com relação aos outros minérios, o problema se afigurava bem
mais complexo. Existiam barreiras técnicas, algumas intrincadas, que envolviam fortes interesses empresarias contrários, por
exemplo, à produção do potássio em
Sergipe, onde estava a única jazida conhecida no hemisfério sul, e isso
contrariava os detentores aqui ,do monopólio da importação, e no exterior, o
oligopólio multinacional que supria o mundo com a maior parte do produto
cada vez mais consumido pela
agricultura. Foi preciso traçar uma estratégia que exigiu, em primeiro lugar,
um projeto técnico bem estruturado, ações paralelas nas áreas política e de
comunicação. A industrialização dos minérios de Sergipe tornou-se um projeto de
Estado que atravessou todos os governos que se sucederam, desde que o
economista Aloísio de Campos deu-lhe a formatação embrionária no governo Luiz Garcia, e aqui instalou-se a primeira
fábrica de cimento, iniciando-se assim o aproveitamento do calcário. Veio
Seixas Dória, cuja deposição resultou também das suas posições nacionalistas a respeito
do petróleo. Após o golpe militar
manteve-se o projeto com Celso de Carvalho . Lourival Baptista, conseguiu transferir a sede nordeste da
Petrobras para Sergipe. Paulo Barreto, que
deu dimensão nacional à necessidade de exploração dos sais minerais
sergipanos, mas sofreu o golpe desferido por interesses estrangeiros que
operavam no âmago do governo federal, e Sergipe foi preterido, depois de ter
sido anunciada pelo próprio ministro das Minas e Energia a instalação aqui de
uma fábrica de Barrilha. Paulo foi sucedido por Jose Leite que adaptou os objetivos
concentrando-se no potássio, primeira grande meta que viria a ser alcançada no governo Augusto Franco. João Alves tratou
mais intensamente da logística, viabilizando o porto, , em seguida, Valadares montou um corpo
técnico local de primeira linha, assessorado por uma equipe de consultores do Rio de Janeiro, para elaborar o projeto abrangente do Polo Mineral
Quimico e Petroquimico de Sergipe. Tanto Valadares, como João Alves que o
sucedeu, tiveram de enfrentar as turbulências
de um
período de hiperinflação e da extinção da Petromisa pelo presidente Collor. A
Albano coube a dura tarefa do
ressurgimento da estatal do potássio
antes de ser privatizada.Com Marcelo Déda, conseguiu-se a revitalização dos
antigos poços petrolíferos e a definição do Projeto Carnalita, para cujo inicio,
no próximo ano, Jackson Barreto , governador em exercício, agora se desdobra
em ações nas áreas politica e empresarial.
Mais do
que nunca o projeto de governo deve ser mantido, agora e nos próximos anos,
para que se confirme a quase premonição de Walter Batista sobre o futuro de
Sergipe debaixo do chão, no momento em que
se confirmam as imensas jazidas em águas
profundas. Entre outras ações, a
montagem de um Polo Petroquimico, surge
como fundamental, sendo o primeiro passo, a refinaria e uma nova planta de gás
natural.