segunda-feira, 25 de março de 2013

UM CERTO DEPUTADO FELICIANO



UM   CERTO  DEPUTADO FELICIANO

Ele se chama   Feliciano. Não faz muito tempo tornou-se tristemente conhecido. Era um deputado apagado e um pastor sem brilho. Então,  resolveu urrar proclamando aos quatro ventos as sandices que o desqualificam,  primeiro,  como cristão, depois, como representante do povo paulista na Câmara Federal. Sandices não são raridades no nosso parlamento.   Câmara e Senado aviltaram-se pela proliferação de representantes  aos quais faltam  requisitos que antes eram considerados indispensáveis,  para que um cidadão se  fizesse portador de um mandato eletivo. Mas, se o povo os elege,  paciência,      e que não nos falte jamais a indispensável crença na democracia. Com efeito, é  preciso acreditar, e muito,  nos valores intrínsecos à concepção democrática,  para que não nos deixemos contaminar pela indignação,  e comecemos a ter deploráveis visões nostálgicas sobre aqueles tempos em que o  general Newton Cruz andava de rebenque na mão ameaçadoramente percorrendo as dependências do Congresso Nacional.
É preciso  crer , e crer convictamente,  na capacidade que tem o regime democrático para  revigorar-se e promover as periódicas auto- limpezas,  quando a consciência de cada eleitor se transforma em indignação coletiva.  É  indispensável uma imensa dose de  esperança  para suportar a ignomínia de uma Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal,  ainda presidida pelo repugnante deputado Feliciano. Todavia,  não basta a esperança.  A cidadania aviltada exige que o repúdio se transforme em protesto permanente, invadindo as redes sociais, os espaços democráticos da mídia, as ruas,  onde o clamor popular, quando é ouvido, serve como  remédio infalível para a correção de equívocos, até, de afrontas.
 Feliciano, presidindo uma comissão de direitos humanos, é  atestado de desprezo  ao povo brasileiro,  assinado pelos que,  em hora desastrada,  o escolheram para comandá-la.  Manifestações agressivas de homofobia,  revelam,  quase sempre,  graves distúrbios psicóticos consequência  de irresolvida    enrustição, mas,  o deputado e  pastor Feliciano, que costuma em tom guerreiro disseminar  os seus preconceitos, os seus ódios irracionais, tem mais outras contas a ajustar com a sociedade e com a lei.
 Os afrodescendentes, coitados, segundo o energúmeno, são amaldiçoados, daí porque, sobre o grande continente chovem todas as desgraças. O vírus da Aids, do Ebola, a fome, a mais degradante miséria  , tudo isso,  seria consequência da  maldição divina, que, segundo  Feliciano, abrangeria,   além dos negros,  também  judeus e muçulmanos.  Quem  diz  tão estúpida e desumana asneira,  criminosamente racista e sectária, preside uma Comissão de Direitos Humanos.
Um partido que se intitula social cristão,  não deveria ter em seus quadros quem poderá ser tudo, menos um seguidor  de Cristo. Em boa hora, o líder do PSC,  deputado André Moura, já enxergou a enrascada onde se meteu ao apoiar Feliciano ,  e dá claros sinais de que quer vê-lo fora da comissão. O partido deveria ir além, e, em busca de uma sintonia com a dignidade ferida dos brasileiros, tratar logo de livrar-se das cafajestadas  do sinistro deputado.
O  desastroso parlamentar, na condição de pastor,  esteve  em Canindé do São Francisco. A visita  causou na sociedade uma sensação de pasmo e de revolta.  Seria recomendável incluir como palestrante    em  evento religioso,  um homem- bomba, intolerante e agressivo,  que por onde passa  gera atritos e espalha ociosidades?

A GUERRA DO GANGSTER E DA QUADRILHA PETROLEIRA




A GUERRA DO GANGSTER E DA QUADRILHA PETROLEIRA
  Dia 19 de março de 2002, começo de noite.  Surgiam na TV as primeiras imagens do inferno na longínqua madrugada de Bagdad.  Sobre a cidade de  mais de 4 milhões de habitantes  as explosões se multiplicavam.  Luzes da iluminação pública permaneciam acesas, uma demonstração da impotência da defesa antiaérea diante da sofisticação tecnológica do aparato bélico norte-americano. Logo depois,  a CNN interrompeu as transmissões diretas do  massacre,  e apareceu George W. Bush. Com voz cavernosa e rosto sádico,  o presidente da mais poderosa nação do mundo, anunciava que naquele momento as forças armadas americanas,  liderando uma coalizão de países, começavam a ofensiva contra o Iraque, de forma covarde e traiçoeira sem que houvesse nem mesmo uma declaração formal de guerra. O objetivo seria depor Saddam  e apoderar-se dos arsenais do ditador, onde estariam armazenadas armas de destruição em massa.  A conflagração, segundo Bush, seria curta, não custaria mais de cem milhões de dólares,  e  representaria uma etapa decisiva na ¨guerra contra o terror¨. Não foi difícil vencer o combate. As forças em confronto eram gritantemente desproporcionais. Em pouco tempo ficou claro que o alardeado poderio de Saddam não passava de uma bravata. Descobriu-se, também, a enormidade da mentira. Não havia armas de destruição em massa, nem o Iraque tinha qualquer similitude com o Afeganistão, onde Osama Bin Laden montara suas bases guerrilheiras.  O conflito prolongou-se anos a fio e nele foram torrados mais de dois trilhões e meio de dólares. As forças americanas bateram em  retirada, instalou-se um governo corrupto e submisso. O Iraque tornou-se um imenso palco para ações terroristas. Não se sabe ao certo quantos morreram. Entre as tropas americanas,  contam-se alguns poucos milhares, mas entre os iraquianos a conta poderá chegar ao meio milhão.  George Bush reelegeu-se surfando numa ilusória onda de sucesso guerreiro, até que a grande farsa fosse desmascarada. Depois,  veio a crise. Uma parte dos Estados Unidos desceu, do topo confortável do primeiro mundo, para viver numa situação comparável àquela que castiga os países pobres.
Mas Bush e sua quadrilha petroleira contabilizam,   dez anos depois, lucros extraordinários com a  reconstrução do Iraque, que eles mesmos destruíram, tudo para que se assenhoreassem do controle de  campos petrolíferos  que produzem  cada vez mais.

LOURIVAL E O PRIMEIRO CHEQUE DA PETROBRAS



LOURIVAL E O PRIMEIRO CHEQUE DA PETROBRAS
Lourival Baptista atravessava, em 1967,  o primeiro ano de governo. A Petrobrás desde 1963 já produzia petróleo nos campos de Carmópolis.  As sondas  em operação na plataforma marítima sergipana iriam extrair, no ano seguinte, o primeiro barril de petróleo  que o Brasil veria saindo do mar.  Mas, até então, o estado não recebera um só centavo pelo óleo aqui produzido, e depois  transportado   por via férrea para ser processado na refinaria de Mataripe. Lourival já  fizera  três visitas  ao presidente da Petrobrás apelando para que os royalties começassem a ser pagos . O engenheiro Jose Francisco Sobral era o chefe do escritório da Petrobras em Sergipe, subordinando à Região de Produção Nordeste sediada  em Maceió, embora Alagoas não chegasse a produzir nem um sexto  do óleo que era extraído em Sergipe. Breve,  essa situação injusta seria corrigida com a transferência para Aracaju da RPNE,  resultado de um golpe de mestre do governador Lourival.
Jose Francisco recebeu um rádio ( naquele tempo era rádio, não havia telefone) do seu colega dirigente da RPNE em Maceió. Ele comunicava que já estava em seu poder um cheque, que seria o primeiro pagamento de royalties da Petrobras ao governo de Sergipe. Explicou que não queria fazer o pagamento via bancária e enviaria o cheque para ser pessoalmente entregue ao governador pelo chefe do escritório em Sergipe. Jose Francisco festejou o cheque e a ideia de levá-lo ao governador. Ele era amigo de Lourival, acompanhava a sua luta pelo direito aos royalties, que finalmente seria assegurado.
   Pediu uma audiência ao governador comunicando-lhe que a finalidade seria  a entrega do cheque,  primeiro pagamento dos sonhados royalties. Lourival nem tinha ideia de quanto iria receber, e imaginando que inicialmente seria uma quantia pequena, evitou um caráter solene à audiência,  sequer chamou jornalistas e fotógrafos para que fosse documentado o evento.
Quando Jose Francisco entregou-lhe o cheque,  Lourival o  colocou sobre a mesa,  sequer  verificando  o valor. Jose Francisco pediu-lhe que passasse a vista pelo título de crédito. Lourival, quase displicente, ajustou os óculos, olhou fixamente para o papel, e   fez um  ar de espanto,  logo transformado em  largo sorriso de satisfação. Empertigou-se na poltrona, assumiu um  ar solene,   e disse: - Sobral, a partir de agora as finanças de Sergipe me permitirão fazer as obras que ando sonhando. Vou transmitir a boa notícia para o Ernane  e  para o Dr. Juarez. ( Ernane Freire era o Secretário da Fazenda e Juarez Alves Costa o Secretário do Planejamento)- Mas então, Sobral, continuou Lourival, vamos comemorar  esses benditos  royalties.  Cuidadoso,  guardou o cheque no bolso interno do paletó. Colocou  a mão no ombro de Jose Sobral, e  o convidou: -Vamos  sair, vamos fazer uma curta viagem.    Nos fundos do Palácio o motorista Sales  estava sossegadamente jogando dama  quando viu o governador, ali,  inesperadamente à sua frente,  e apenas perguntou: - Para aonde vamos Dr. Lourival ?  E  ouviu a ordem: - Toca para São Cristovão, vou servir umas queijadinhas ao Dr. Sobral. Pelo caminho,  sacolejando na poeirenta e sinuosa estrada de terra,  ia anunciando: -  Vou fazer uma outra estrada para a quarta mais  antiga cidade do Brasil, e vai ser toda asfaltada, e vou asfaltar muito mais estradas.
Já em  São Cristóvão, na varanda da sua velha  casa, comendo queijadas e tomando refresco de jenipapo,  com o prefeito da cidade que mandara chamar, ao lado ,  rindo à toa com a notícia  da nova estrada, Lourival  repetia: - Zé Francisco, meu amigo Zé Francisco, seu cheque me encheu de confiança.

O CONSELHEIRO JOÃO



O CONSELHEIRO JOÃO
Depois de fazer, como convidado do prefeito Heleno Silva em Canindé, uma palestra sobre  recursos hídricos, o prefeito de Aracaju, João Alves Filho,  participando de animada conversa durante o jantar, fez muitos elogios à forma como vem sendo tratado pela presidente Dilma e pelo governador Marcelo Déda. Tendo ao lado os deputados que o acompanhavam,   Antonio Passos e Augusto Bezerra, João desfilava, com entusiasmo, o rosário de obras que pretende realizar em Aracaju. Como as obras projetadas deverão se estender por todo o mandato, Heleno perguntou: - João,  com tantos projetos para Aracaju você  sairia da Prefeitura para disputar o governo ?  E veio a resposta, depois da  habitual gargalhada: - Olhe Heleno, há poucos dias estive em Salvador e fui visitar  o prefeito ACM Neto. E dei  a ele um conselho:    ¨Não   se deixe   levar pela   tentação de disputar o governo. Você    é   jovem,    está    no    primeiro mandato executivo, é uma experiência nova,  e um desafio que precisa ser vencido para consolidar sua imagem de administrador. E além do mais você não tem um vice-prefeito perfeitamente afinado com seu grupo político ¨.
Ou seja, ACM Neto não tem,  exatamente tudo aquilo que está sobrando em João.
Para o bom entendedor.............

O CAOS PODE ESTAR CHEGANDO



O CAOS PODE ESTAR CHEGANDO


Aquele caos anunciado para o transporte público aracajuano poderá  de fato estar acontecendo. E o caos se anuncia fortemente com a redução da frota e o quase total sucateamento da que resta circulando. Nosso transporte público nunca licitado, por conseguinte ilegal,  e assim tolerado, não é apenas ruim, é  horrível. O suplicio de amontoar-se nas deterioradas carroças sacolejantes,   desconfortáveis, fedorentas,  em percursos  alongados pela lentidão do transito, somente  poderia ser menos pior do que aquilo que agora está acontecendo:  a falta das carroças,  que, pelo sim pelo não, eram o único meio de transporte público disponível.
 Um banco credor pediu,  e a Justiça decretou o arresto de mais de 60 ônibus de uma das empresas.   Não parece ser uma medida sensata a retirada sumária dos meios de que dispõe o devedor para saldar o débito. Pelo contrário,  ainda mais o sufoca, retirando-lhe parte considerável do faturamento. Levados a leilão os veículos não alcançariam lances suficientes para cobrir a dívida. Mas quem vai esperar bom senso alojado em cabeça de banqueiro?
A partir desse episodio, o colapso se foi agravando.  A crise é mesmo sistémica, e não será fácil contorná-la  a curto  prazo.
As longas esperas  enervam os estressados passageiros, e disso aproveitam-se alguns, para o inicio da baderna, com os atos de vandalismo que só pioram a  situação.