NOTÍCIAS DE MANGUE SECO ( 4 )
O que existe diferente em Mangue Seco para torná-lo assim, tão
virtuosamente, um povoado sem crimes, sem violências, local onde é impensável
que ocorra um roubo, um furto, por mais insignificante que seja? Uma
comunidade, baiana, nordestina, brasileira, que configuraria aquele ideal de
honestidade e correção que os primeiros turistas sergipanos chegados à Europa
nos anos 50, como dissemos aqui no capitulo inicial desta série, teriam
encontrado na Suiça, onde as pessoas pegavam seus jornais nas bancas e deixavam
a quantia correspondente em dinheiro, sem a presença vigilante de um vendedor.
Esse comportamento, os viajantes ao regressarem apontavam como algo que jamais
poderia existir no Brasil, país por eles pejorativamente definido como ¨terra
de ladrões ¨. O que teria então ocorrido em Mangue Seco para ter uma população
pobre, simples, sem maior ilustração intelectual, todavia praticando uma forma
de vida sintonizada com princípios éticos sonhados por filósofos que se
debruçaram sobre as questões básicas da convivência humana? Qual o fenômeno,
qual a razão social ou antropológica que explicaria a existência desse bendito
gueto de civilidade e de bem viver, num país que desgraçadamente se torna
recordista em violência, em desrespeito à vida humana ?
Uma primeira possível explicação seriam os laços que se estabelecem
entre pessoas que se identificam como se fossem integrantes de uma família mais
numerosa. Como vimos, Mangue Seco, tem reduzida população, entre 260 a 300
habitantes. Uma outra, seria a ausência da competição selvagem que existe nos
grandes centros, o que faz as pessoas se encararem como adversárias que devem
ser vencidas, suplantadas, subjugadas. O isolamento seria argumento frágil,
porque não há mais comunidades herméticas, sem contato com o mundo. Depois da
globalização da imagem, da instantaneidade do fato, e da sua visualização, do
celular,, das redes sociais, do tablet, etc.
Em Mangue Seco chegam a todo instante as noticias da violência e do
crime, registrados até bem perto, na própria sede do município, Jandaíra.
A explicação poderia começar a ser construída pela escola, pela vida
da professora Raimunda Aguiar, hoje aposentada, depois de 36 anos educando, e
fazendo com que nenhuma criança ficasse fora da sala de aula?
Ou, na igrejinha modesta, onde as pessoas se reúnem quase diariamente
e um padre vem duas vezes por mês, para falar em Deus e também exaltar as
melhores formas de viver ?
Mangue Seco passará neste verão pela prova crucial, que será o contato
cada vez maior com as pessoas, turistas, que irão chegar pela estrada que o
prefeito Roberto Leite está abrindo até a Costa Azul, e dali, sem necessidade
de tração nas 4 rodas se poderá chegar até a BR – 101. Assim, Mangue Seco
escancara-se para o mundo. O prefeito também amplia os pontos de atracação das
lanchas que chegam de Porto do Cavalo, do Saco, do Pontal, da Terra Caída. A
ponte Gilberto Amado facilita o acesso e as levas de turistas estão ficando
cada vez mais numerosas.
O povoado já convive há muito tempo com o turismo, dele tira o
sustento, mas, até agora, tem sido um turismo de quem chega pelo rio, vem com
olhos que querem contemplar natureza. São turistas que gostam de pisar no chão
de areia, andar sobre as dunas, contemplar o por do sol. Agora, chegarão multidões
em ônibus, caminhões, gente que vem com aqueles trovejantes equipamentos de som
.
O teste será a convivência direta da pacata e fraterna comunidade de
Mangue Seco com o mundo, sabendo tirar proveito disso, e sem se deixar
contaminar pelo que de pior aqueles visitantes de hábitos tão diferentes irão
trazer. ( Continua no próximo domingo )
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