A QUEDA DA ATRIZ
AS
CALÇADAS E O TREM BALA
Vez por outra, episódios
corriqueiros ou incomuns, quando chegam às manchetes servem
para balançar a letargia conformista diante de mazelas ou
impropriedades que resvalam da inércia, ou até da insensata sofreguidão
do poder publico, e desabam sobre a sociedade como se fossem inevitáveis
castigos. As pessoas acostumaram-se a conviver com descasos, erros,
e até a permanente
indiferença. Até o dia em que ouviu-se nas ruas a voz da cidadania em
processo rápido e tumultuado de afirmação. Quantas vezes pessoas enfiando os
pés em buracos esborracharam-se na rua e saíram caladamente,
feridas e conformadas? Nesses tempos, tão tempestuosamente imprevisíveis,
uma atriz famosa, despenca numa mal-cuidada calçada da glamourosa zona
sul carioca e sai seriamente machucada. Beatriz Segall no dia em que completava
84 anos foi a vítima de um descaso que se revela em todas as cidades
brasileiras. As prefeituras se omitem, os proprietários nem se dão conta da
responsabilidade que lhes cabe, e pelas cidades as calçadas estão a revelar um,
entre tantos outros aspectos da nossa inquietante incivilidade. Façamos um
passeio rápido pela nossa Aracaju. Comecemos por um bairro
abastado, a orla da 13 de julho. Al,i ao longo de quase 2 quilômetros a
calçada é uma tira estreita que quase não dá para duas pessoas andarem
lado a lado. Um cadeirante por ela não poderá transitar, há
ainda postes fincados no meio. Já na avenida Heráclito Rolemberg ao lado
do aeroporto, simplesmente não há calçada, existe um matagal sobre a terra que
as chuvas transformam em lamaçal. Por que a INFRAERO não é obrigada a construir
uma calçada decente? É simples: aqui as pessoas ainda não
agem como Beatriz Segall, qu e colocou a boca no mundo postou no facebook seu
rosto fortemente arroxeado e anunciou uma ação judicial contra a Prefeitura do
Rio.
Já na Espanha um trem muito
veloz, mas que não chega a ser o ¨Bala¨, descarrilou numa curva. O
acidente, um dos piores ocorridos no país que possui um moderno sistema
ferroviário, causou mais de 80 mortos. Os trens rápidos espanhóis que
alcançam 250 quilômetros por hora, estão longe dos seus congêneres mais avançados,
os autênticos trens-bala, franceses,japoneses, e chineses, que cruzam os
trilhos a mais de 400 por hora. Aqui nas imensas extensões brasileiras, não
temos ainda que nos preocupar com trens velozes, os nossos, os poucos que
temos, são ronceiros, nem chegam aos 80 km, apenas mais rápidos do
as máquinas movidas a vapor, usando lenha ou carvão que aqui começaram a rodar
em meados do século dezenove, durante o Segundo Império, quando as
ferrovias que seriam abandonadas um século depois começaram a interligar
o país. No quesito transporte ferroviário, paramos no tempo. Aqui em Aracaju
a quase arruinada Estação da Leste Brasileiro, é o testemunho do que
precisamos fazer se quisermos sair em busca do tempo perdido. Existe a
necessidade urgente de ampliar a nossa diminuta malha ferroviária,
de nela por a rodar trens mais modernos, mais rápidos, temos estradas de
ferro em construção há mais de 20 anos e ainda longe da conclusão. Em
relação às ferrovias, até nos daríamos por satisfeitos se viéssemos a ter em
2020 um sistema comparável ao que possuíam a Europa e os Estados
Unidos há 40 anos. Apesar disso, a desmesurada idéia do ¨trem- bala¨
continua na agenda do governo federal que insiste na licitação, já
anunciando que excluiu da disputa a empresa espanhola que construiu o
trem rápido. O ¨trem- bala ¨ brasileiro se deslocaria a 400 quilômetros
por hora apenas entre São Paulo e Campinas, servindo quase somente
para transportar passageiros.Para tão pouca e duvidosa utilidade, há quem
assegure que não se gastará menos de trinta bilhões.
Querem dar um salto para o
futuro a bordo do trem- bala.Mas, pelo visto, ele descarrila antes mesmo
de entrar nos trilhos. Parece mais uma viagem pela irrealidade quotidiana.
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