segunda-feira, 25 de março de 2013

LOURIVAL E O PRIMEIRO CHEQUE DA PETROBRAS



LOURIVAL E O PRIMEIRO CHEQUE DA PETROBRAS
Lourival Baptista atravessava, em 1967,  o primeiro ano de governo. A Petrobrás desde 1963 já produzia petróleo nos campos de Carmópolis.  As sondas  em operação na plataforma marítima sergipana iriam extrair, no ano seguinte, o primeiro barril de petróleo  que o Brasil veria saindo do mar.  Mas, até então, o estado não recebera um só centavo pelo óleo aqui produzido, e depois  transportado   por via férrea para ser processado na refinaria de Mataripe. Lourival já  fizera  três visitas  ao presidente da Petrobrás apelando para que os royalties começassem a ser pagos . O engenheiro Jose Francisco Sobral era o chefe do escritório da Petrobras em Sergipe, subordinando à Região de Produção Nordeste sediada  em Maceió, embora Alagoas não chegasse a produzir nem um sexto  do óleo que era extraído em Sergipe. Breve,  essa situação injusta seria corrigida com a transferência para Aracaju da RPNE,  resultado de um golpe de mestre do governador Lourival.
Jose Francisco recebeu um rádio ( naquele tempo era rádio, não havia telefone) do seu colega dirigente da RPNE em Maceió. Ele comunicava que já estava em seu poder um cheque, que seria o primeiro pagamento de royalties da Petrobras ao governo de Sergipe. Explicou que não queria fazer o pagamento via bancária e enviaria o cheque para ser pessoalmente entregue ao governador pelo chefe do escritório em Sergipe. Jose Francisco festejou o cheque e a ideia de levá-lo ao governador. Ele era amigo de Lourival, acompanhava a sua luta pelo direito aos royalties, que finalmente seria assegurado.
   Pediu uma audiência ao governador comunicando-lhe que a finalidade seria  a entrega do cheque,  primeiro pagamento dos sonhados royalties. Lourival nem tinha ideia de quanto iria receber, e imaginando que inicialmente seria uma quantia pequena, evitou um caráter solene à audiência,  sequer chamou jornalistas e fotógrafos para que fosse documentado o evento.
Quando Jose Francisco entregou-lhe o cheque,  Lourival o  colocou sobre a mesa,  sequer  verificando  o valor. Jose Francisco pediu-lhe que passasse a vista pelo título de crédito. Lourival, quase displicente, ajustou os óculos, olhou fixamente para o papel, e   fez um  ar de espanto,  logo transformado em  largo sorriso de satisfação. Empertigou-se na poltrona, assumiu um  ar solene,   e disse: - Sobral, a partir de agora as finanças de Sergipe me permitirão fazer as obras que ando sonhando. Vou transmitir a boa notícia para o Ernane  e  para o Dr. Juarez. ( Ernane Freire era o Secretário da Fazenda e Juarez Alves Costa o Secretário do Planejamento)- Mas então, Sobral, continuou Lourival, vamos comemorar  esses benditos  royalties.  Cuidadoso,  guardou o cheque no bolso interno do paletó. Colocou  a mão no ombro de Jose Sobral, e  o convidou: -Vamos  sair, vamos fazer uma curta viagem.    Nos fundos do Palácio o motorista Sales  estava sossegadamente jogando dama  quando viu o governador, ali,  inesperadamente à sua frente,  e apenas perguntou: - Para aonde vamos Dr. Lourival ?  E  ouviu a ordem: - Toca para São Cristovão, vou servir umas queijadinhas ao Dr. Sobral. Pelo caminho,  sacolejando na poeirenta e sinuosa estrada de terra,  ia anunciando: -  Vou fazer uma outra estrada para a quarta mais  antiga cidade do Brasil, e vai ser toda asfaltada, e vou asfaltar muito mais estradas.
Já em  São Cristóvão, na varanda da sua velha  casa, comendo queijadas e tomando refresco de jenipapo,  com o prefeito da cidade que mandara chamar, ao lado ,  rindo à toa com a notícia  da nova estrada, Lourival  repetia: - Zé Francisco, meu amigo Zé Francisco, seu cheque me encheu de confiança.

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