LOURIVAL E O PRIMEIRO CHEQUE DA
PETROBRAS
Lourival Baptista atravessava, em
1967, o primeiro ano de governo. A
Petrobrás desde 1963 já produzia petróleo nos campos de Carmópolis. As sondas
em operação na plataforma marítima sergipana iriam extrair, no ano
seguinte, o primeiro barril de petróleo
que o Brasil veria saindo do mar.
Mas, até então, o estado não recebera um só centavo pelo óleo aqui
produzido, e depois transportado por
via férrea para ser processado na refinaria de Mataripe. Lourival já fizera
três visitas ao presidente da
Petrobrás apelando para que os royalties começassem a ser pagos . O engenheiro
Jose Francisco Sobral era o chefe do escritório da Petrobras em Sergipe,
subordinando à Região de Produção Nordeste sediada em Maceió, embora Alagoas não chegasse a
produzir nem um sexto do óleo que era
extraído em Sergipe. Breve, essa
situação injusta seria corrigida com a transferência para Aracaju da RPNE, resultado de um golpe de mestre do governador
Lourival.
Jose Francisco recebeu um rádio (
naquele tempo era rádio, não havia telefone) do seu colega dirigente da RPNE em
Maceió. Ele comunicava que já estava em seu poder um cheque, que seria o
primeiro pagamento de royalties da Petrobras ao governo de Sergipe. Explicou
que não queria fazer o pagamento via bancária e enviaria o cheque para ser
pessoalmente entregue ao governador pelo chefe do escritório em Sergipe. Jose
Francisco festejou o cheque e a ideia de levá-lo ao governador. Ele era amigo
de Lourival, acompanhava a sua luta pelo direito aos royalties, que finalmente
seria assegurado.
Pediu uma audiência ao governador
comunicando-lhe que a finalidade seria a
entrega do cheque, primeiro pagamento
dos sonhados royalties. Lourival nem tinha ideia de quanto iria receber, e
imaginando que inicialmente seria uma quantia pequena, evitou um caráter solene
à audiência, sequer chamou jornalistas e
fotógrafos para que fosse documentado o evento.
Quando Jose Francisco entregou-lhe
o cheque, Lourival o colocou sobre a mesa, sequer
verificando o valor. Jose
Francisco pediu-lhe que passasse a vista pelo título de crédito. Lourival,
quase displicente, ajustou os óculos, olhou fixamente para o papel, e fez
um ar de espanto, logo transformado em largo sorriso de satisfação. Empertigou-se na
poltrona, assumiu um ar solene, e disse: - Sobral, a partir de agora as
finanças de Sergipe me permitirão fazer as obras que ando sonhando. Vou
transmitir a boa notícia para o Ernane e
para o Dr. Juarez. ( Ernane Freire era o
Secretário da Fazenda e Juarez Alves Costa o Secretário do Planejamento)- Mas
então, Sobral, continuou Lourival, vamos comemorar esses benditos royalties.
Cuidadoso, guardou o cheque no
bolso interno do paletó. Colocou a mão
no ombro de Jose Sobral, e o convidou: -Vamos sair, vamos fazer uma curta viagem. Nos
fundos do Palácio o motorista Sales
estava sossegadamente jogando dama
quando viu o governador, ali, inesperadamente à sua frente, e apenas perguntou: - Para aonde vamos Dr.
Lourival ? E ouviu a ordem: - Toca para São Cristovão, vou
servir umas queijadinhas ao Dr. Sobral. Pelo caminho, sacolejando na poeirenta e sinuosa estrada de
terra, ia anunciando: - Vou fazer uma outra estrada para a quarta
mais antiga cidade do Brasil, e vai ser
toda asfaltada, e vou asfaltar muito mais estradas.
Já em São Cristóvão, na varanda da sua velha casa, comendo queijadas e tomando refresco de
jenipapo, com o prefeito da cidade que
mandara chamar, ao lado , rindo à toa
com a notícia da nova estrada, Lourival repetia: - Zé Francisco, meu amigo Zé
Francisco, seu cheque me encheu de confiança.
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