APRENDENDO COM O MST
O Movimento dos Sem Terra com suas ocupações,
suas brigadas um tanto agressivas exibindo foices e facões, incendiando pneus pelas estradas ou invadindo prédios públicos, é o cenário
preferido pela mídia para ser exibido
nos seus noticiários, tudo, invariavelmente, acompanhado de comentários
negativos sobre as ações de um grupamento de indivíduos agindo à margem das
leis. A opinião pública é, assim, diariamente trabalhada para reagir a esses que
desrespeitam os fundamentos do Estado Democrático de Direito.
O MST seria então um movimento de
usurpadores, de gente desocupada e
anárquica, ( antes eram subversivos) que não respeita os sagrados direitos de
propriedade . Estariam a perturbar a paz dos que há séculos se apoderaram das
terras e das gentes, desde quando a
Nação se formava, depois, à sombra do Império cúmplice, da Velha
República parceira, indo além, até a
revolução de 30, transformando o ímpeto mais atabalhoado do que modernizante
dos ¨tenentes ¨ em inação e
condescendência. Assim, foram
sobrevivendo os ¨coronéis ¨do
latifúndio, e do atraso, eternizando-se a pobreza e o desemprego nos campos, onde não
chegara a atualidade das leis trabalhistas, os mais comezinhos direitos. No
Engenho Galileia, em Pernambuco, formou-se o embrião do que seria tocado à
frente com o nome de Ligas Camponesas, de Francisco Julião. O golpe de 64, identificou nos esfarrapados camponeses,
inimigos perigosos que era preciso esmagar. Formaram-se as milícias de pistoleiros e agentes da repressão, e surgiu um episódio ainda obscura da nossa
História que a Comissão da Verdade precisa desvendar para que surja uma página
esclarecedora sobre quem mandou e quem executou camponeses, no Vale do
Jequitinhonha em Minas Gerais, nos massapês do nordeste, onde senhores de
engenho se fizeram, mais uma vez, senhores da vida e da morte. Faz 26 anos
surgiu em Sergipe o MST. Quem agora fizer uma incursão pela história desse
período, vai constatar avanços sociais,
transformações econômicas, que desfazem inteiramente aquela imagem que a mídia
poderosa inculca na cabeça desavisada das pessoas. Os estudantes, os
intelectuais, todos os interessados em modernizar Sergipe, têm muito a aprender
com a luta dos Sem
Terra. No Congresso, o vigésimo sexto,
realizado semana passada, se fez um balanço das ações , se fez, sobretudo, um elenco de
ações já consolidadas, de
projetos em execução ou a executar, sobretudo, daqueles ligados à relação dos
assentamentos com o meio ambiente, o combate ao uso indiscriminado dos venenos
agrícolas, a recuperação das matas, a preservação das nascentes, a proteção aos
rios, a formação de quadros politizados
e tecnicamente qualificados, a
erradicação do analfabetismo no interior daquilo que os preconceituosos denominam de ¨Quadrado Burro
¨ ,numa alusão desprimorosa à geometria dos assentamentos.
João Daniel, Esmeraldo, Gileno,
Careca, Dilma, Vanessa, e tantos outros dirigentes e militantes, deram
aulas de organização, de ação política coerente, que deveriam ser analisados
com maior atenção pelos doutorados ¨embieis¨, que tratam de mercado, competitividade,
políticas corporativas, buscando caminhos para a sobrevivência do capitalismo.
Talvez, no MST, eles pudessem encontrar a síntese entre concepções que se
chocam, até hoje sem remédio: a do livre mercado fora de controle, e a da estatização que vira as costas para a
liberdade de iniciativa .
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