sábado, 29 de setembro de 2012

AO LADO DO CAPES A MALOCA DO CRACK



AO LADO DO CAPES A MALOCA DO CRACK
Há na Atalaia, mais exatamente na Praça Durval Andrade,  um posto  do CAPES, Centro de Atendimento Psicossocial.   É um serviço municipal que funciona com eficiência e recebe, diariamente,  uma grande quantidade de dependentes químicos. Ao lado, bem junto, vizinho mesmo, fica uma casa grande em  estado de completo abandono. Naquilo que seria a  entrada de uma garagem, os  desgraçados pela droga fizeram uma espécie de maloca.   No local,  todos os dias,   repete-se o mesmo cenário,   talvez ,  um daqueles entre os mais  degradantes da espécie humana.  Ali,  juntam-se  as vítimas   do crack.
O que se poderia fazer,  afugentá-los ?  São seres humanos ,  embora  mergulhados num lapso de irracionalidade.
Durante a noite clarear o local intensamente para que a cena fique mais evidente e eles se afastem ?    Um  outro ponto logo seria ocupado,  e o cenário ressurgiria com os mesmos figurantes.
No começo do século passado algumas drogas da geração dos químicos começaram a surgir.  A cocaína fez a estreia ao lado do ópio, da  demolidora morfina.   Nos anos sessenta o LSD seduzia  os engajados no movimento beat.  Descobriram chás alucionogênicos,   celebrados em livros que se tornaram famosos,  e até ícones de um tempo.
Vitimados pelo coquetel de irrealidade e loucura psicodélica,  se foram tantos ídolos da música pop, tantos expoentes de uma elite pensante , envolvidos, todos, num clima de delírio que era também protesto   político mesclado com  uma ansiosa e indefinida insatisfação existencial. O álcool, tão socialmente aceito, nunca deixou de estar presente nesse  cenário .  Poetas, pintores, escritores,  abreviaram a existência sorvendo taças e mais taças de absinto,
Essas drogas, digamos assim, do passado, tinham uma   certa  aura de fascínio, os que a consumiam,  pareciam todos envolvidos numa  psicose coletiva, e  apontavam  a transgressão de hábitos e costumes como uma saída a ser tentada. Deram-se mal, todavia, deixaram nas biografias  invariavelmente breves, os marcos da boa literatura, da poesia criativa, da arte revolucionária, e sempre,  uma  mensagem da paz. Não renegaram a vida nem diante dela se tornaram omissos, apenas,  trilharam um caminho tortuoso do desafio ao desconhecido,  e dele se tornaram vítimas.
O crack parece saído do submundo da decadência, do inferno de todas as tragédias do indivíduo e da sociedade. O crack é a negação consciente ou inconsciente da vida, e a renuncia a tudo o que a existência humana pode oferecer. O crack é uma arma de destruição em massa, real, verdadeira, devastadora.
A vizinhança da maloca do crack com o CAPES da Atalaia,  é a comprovação constrangedora  da complexidade de um problema, que não é apenas um desafio à polícia, ou a quem trata da saúde pública, das questões sociais.  É muito mais: É um sintoma aterrorizador do rápido esfacelamento de toda uma estrutura civilizatória.

O MODELO ¨CARROCÊNTRICO ¨ E A PROPOSTA DO VLT



O MODELO ¨CARROCÊNTRICO ¨
 E   A  PROPOSTA   DO  VLT
 Quando Juscelino Kubitscheck   naquele ano de 1957 fez o que ninguém imaginava fosse possível , e implantou a indústria automobilística no Brasil, as ferrovias iniciadas ainda no Império  precisavam ser modernizadas. Mas,  o asfaltamento e ampliação da rede viária,  a marcha para o oeste que  Brasilia desencadearia, logo tornaram  preponderante o modelo rodoviarista.  As ferrovias foram perdendo importância e a navegação de cabotagem entrou em crise. Começou a  era do Fênêmê, o caminhão enorme, fabricado no Brasil pela  estatal Fábrica Nacional de Motores.  Ronceiro, o fênêmê  exigia duas pedaladas na embreagem sincronizando-se o movimento com o acelerador para engatar a marcha, o  chamado ¨queixo – duro ¨ .  Apesar disso,  era  resistente, vencia  sobranceiro as  enormes distancias brasileiras que as rodovias começavam a interligar, e tornou-se o preferido, até que o Mercedes  o desbancou, e a fábrica, dependente de subsídios, depois  acabou fechando.  Foi o tempo da estrada Belém- Brasília, o  ¨ caminho das onças ¨,  como a denominou, desdenhoso, o ébrio e desmazelado demagogo  Jânio Quadros, que se  tornou presidente sucedendo a Juscelino, acenando  novas esperanças,  para logo desfazê-las com a renuncia, mal iniciado o mandato.   Foram chegando outras fábricas de caminhões bem mais modernos,  e em pouco tempo  o transporte rodoviário tornava-se preponderante,  superando trens e navios. Esse modal quase único de transporte, é hoje um dos fatores que mais pesam no chamado  ¨custo Brasil¨, o conjunto de fatores que encarece os nossos produtos.
O  caminhão dominou as estradas , por sua vez, as cidades se entopem irremediavelmente com  o automóvel , tornado  cada vez mais acessível pela estabilização da moeda em 1994, depois, pela   era Lula, de expansão do crédito e  melhor distribuição de renda. O caos das cidades,  se já não existe ,  pode ser diariamente prenunciado na rotina exaustiva   dos enormes engarrafamentos. O ar pestilento  deixou de ser característica das grandes metrópoles ,  e aquelas de médio porte,  como é o caso de Aracaju, também  já enfrentam   os problemas decorrentes da poluição da atmosfera.  Os  veículos usando derivados do petróleo  são agora os grandes vilões, responsáveis, em boa parte,  pelo aquecimento global, que nos leva rapidamente ao colapso da vida no planeta, embora haja muitas e bem fundamentadas  controvérsias.
Estamos,  embora tardiamente,  investindo em ferrovias, refazendo o desprezado trem,  e retornando também ao transporte marítimo e hidroviário. Um modelo bem mais eficiente, que infelizmente desprezamos.
 Nesta campanha eleitoral ,  discute-se em Aracaju qual o melhor modelo de transporte para nos livrar da completa  imobilidade urbana,  que é uma ameaça concreta e bem próxima.
Valadares Filho avançou, foi  além do chamado modelo ¨carrocêntrico , ¨ que os urbanistas atualizados  consideram o grande cancro que está a contaminar as cidades.  A ideia do jovem candidato é modelo consagrado em várias cidades de porte médio e também algumas grandes.   Estamos até chegando tarde na  adoção de uma ideia pela qual tantas cidades nordestinas já fizeram bem antes, uma bem sucedida opção. O Veículo Leve sobre Trilhos é, além de tudo,  ecologicamente adequado, não contribui para aumentar a emissão de gases, ou seja, não faz fumaça.
O superado modelo  carrocêntrico entrou em crise, vai chegando ao ponto de colapso, e há ainda quem insista em revivê-lo, acenando com mais avenidas, mais estacionamentos, quando, o essencial é retirar carros das ruas,  substituindo-o por um transporte  de massa eficiente.
 A Finlândia, país aqui  recorrentemente citado como modelo de tantas coisas exemplares, não tem indústria automobilística.  Os veículos  importados são pesadamente taxados, mas  os finlandeses não abandonaram o automóvel. Eles estão em quase todas as garagens, desde a tranquila capital Helsinki, até o  norte do país,  dentro do Círculo Polar Ártico, região de renas e florestas de taiga.  Todavia, o veículo individual é usado  racionalmente.  Nas cidades,  ninguém os utiliza para ir ao trabalho. Em Helsinki, há o metrô, ônibus elétricos, e o VLT, intensamente utilizados. Viajando em um trem urbano, o VLT, um  jornalista sergipano, conheceu  em Helsinki, um alto executivo da Nokia, que se  mostrava muito interessado em relação ao Brasil, e respondeu à curiosidade do  brasileiro surpreso  por vê-lo usando um transporte coletivo, esclarecendo que  o trenzinho urbano era  diariamente utilizado  para ir e retornar do trabalho.
O argumento contrário, é que o VLT seria dispendioso. Não há alternativa que venha a ser milagrosamente barata e eficiente.   Valadares Filho tem  , além de tudo, condições políticas que o ajudariam, decisivamente, na negociação dos recursos necessários para a implantação de um sistema de transporte moderno , atualizado, a melhor solução para o caos urbano de Aracaju.
Certamente agora,  dirão que o governo do Distrito Federal cancelou o VLT, por ser  inviável. O VLT de Brasilia  fora projetado dentro do PAC,  para ficar pronto  antes da  Copa do Mundo. Como houve problemas na licitação, acabou sendo  temporariamente cancelado, para ser refeito depois,  sem a pressa de atender ao evento desportivo.
 Brasília, uma cidade inteligente, não renunciou ao VLT.

COSTA CAVALCANTI E MARCOS PRADO DIAS



COSTA CAVALCANTI E
MARCOS PRADO DIAS
Foram-se, no decorrer da semana finda,  dois sergipanos que deixaram  boas e dignificantes marcas na sua passagem pela vida.  Jose Costa Cavalcanti, Procurador de Justiça aposentado, e o médico Marcos Prado Dias  no mesmo horário,  baixaram às singelas sepulturas da Colina da Saudade. Para os companheiros dos tempos acadêmicos, Costa Cavalcanti era o benquisto e sempre festejado Patá. Distante das querelas  que dividiam ideologicamente os universitários naquela virada dos anos cinquenta  entrando pelos tumultuosos sessenta, Patá    sempre  recomendava comedimento e distancia do radicalismo. Mas era participante, de acordo com sua forma pacífica de encarar a vida.  Foi presidente da  União dos Estudantes Universitários, entidade muito presente na luta  política daquele período. Foi sucedido pelo estudante de Economia Juarez Alves Costa, que o levou para a militância na JUC, a Juventude Universitária Católica, criada pelo Padre Luciano Duarte, que tinha posições de esquerda, todavia , claramente distantes do comunismo.  Famoso por ser um bom garfo, certa vez,  numa olimpiada universitária em Niteroi,   Patá,  integrando a representação dos ¨atletas¨ sergipanos,     soube que Eduardo Cabral e Guido Azevedo haviam   encontrando um restaurante português na praia de Icaraí, que fazia uma belíssima bacalhoada, e para lá foi,  acompanhado de um séquito  formado por verdadeiros atletas do garfo. Depois de saciar-se com a bacalhoada,  Patá resolveu pedir um  ¨¨rosito  de camarão ¨. Demorou a explicar ao garçom ,  até que ele descobriu:  o prato  pedido era um risoto de camarão.  Dez, vinte, trinta, quarenta anos depois, os colegas daquela festiva comilança,  quando  encontravam   o Delegado de Policia,  o Promotor,  o Procurador de Justiça,  José Costa Cavalcanti, sempre o saudavam acrescentando a pergunta : E o ¨rosito , ¨ Patá ?¨
 Quando delegado, Costa Cavalcanti descobriu uma fórmula eficiente para amenizar conflitos e evitar reincidências. Fazia os litigantes assinarem um Termo do  Bem Viver, onde se comprometiam a conviver harmoniosamente, sem  ameaças, discussões ou violências. Durante a  assinatura  precedida de uma certa solenidade, o Delegado advertia: ¨ Se vocês não cumprirem o que assinaram e voltarem aqui, é cadeia certa, e por muito tempo. ¨
Poucos retornavam, e  casais briguentos  sempre se reconciliavam.
Costa Cavalcanti em vida espalhou  em todos os cargos que exerceu e nos exemplos pessoais, um benigno sentimento de amizade e harmonia.
O médico Marcos Prado Dias bem mais jovem do que Costa Cavalcanti, talvez tenha tido a vida abreviada pela torturante sensação de um ato de improbidade administrativa que não cometeu, e a ele foi imputado. Para um homem  que nunca fez do dinheiro a meta da sua vida, e que sempre se dedicou muito mais ao coletivo do que ao interesse pessoal, sempre participante e solidário, deve ter sido uma torturante sensação a espera  de uma ação reparadora, com o esclarecimento definitivo dos fatos, das circunstancias, e nelas surgissem as digitais dos verdadeiros responsáveis.
 Na fala de despedida feita pelo  médico e intelectual Eduardo  Conde Garcia, a vida cristalina e útil de Marcos Prado Dias,  foi primorosamente descrita.
A sua memória não será sequer tisnada, porque,  como diz repetidamente o ex-governador Albano Franco: ¨Sergipe é pequeno e aqui todos se conhecem¨.
E todos sabiam quem era,  e como agia o médico e cidadão  Marcos Prado Dias.

AGUA TIJOLO E EMPREGO



 AGUA TIJOLO E EMPREGO
A ASA, Associação do Semiárido Árido, uma organização não governamental  conseguiu espalhar pelo sertão nordestino centenas de milhares de cisternas, feitas em alvenaria, tijolo, pedra e cimento.  Está longe de ser uma solução definitiva para o problema da água, mas é uma  alternativa possível, com a captação feita pelo telhado que recebe a chuva e a canaliza para a cisterna. Não chegando a chuva como usualmente acontece, o caminhão – pipa leva a água que fica armazenada . As cisternas  agora entregues pelo governo federal são de plástico, polietileno, que aquece demasiadamente a água e  o que é bem pior: não geram emprego na região. Chegam prontinhas compradas certamente a uma grande empresa do sul do país.

O CONTISTA RETORNA



 O CONTISTA RETORNA
 Depois de algum tempo o escritor Paulo Fernando Teles volta a publicar seus contos. No mesmo plano dos melhores contistas brasileiros  Paulo Fernando Teles aprimora, cada vez mais,  a arte de sintetizar o romance, que consiste em usar a criatividade para dar consistência e  amplitude literária no limitado espaço que caracteriza o conto.  Criatividade e texto primoroso são características  do nosso contista maior. Paulo precisa, outra vez,  reunir o que publicou no Jornal da Cidade  para lançar mais um livro com as suas short-stories.