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EPISÓDIOS HISTORICOS
DA POLÍTICA SERGIPANA
Até
sexta-feira dia 26 , com facilidade
poderiam ser enumerados dois grandes
momentos históricos da política sergipana. O primeiro deles, no século passado,
aconteceu no dia 28 de agosto de 1906, quando o deputado federal Fausto Cardoso,
eloquente e impetuoso tribuno, desafiou a força das armas clamando por
liberdade, pela renovação dos nossos costumes políticos, e foi fuzilado na
praça que hoje leva o seu nome. O segundo episódio a ser lembrado, ocorreria no
mesmo século, 58 anos depois, na
madrugada de 2 de abril de 1964. Acordado por militares que invadiram o palácio
Olímpio Campos para prendê-lo, o governador Seixas Dória ao lado da mulher e
dos dois filhos crianças que choravam,
com a força das ideias e da honra a fazer grande sua diminuta estatura física , colocou-se
diante dos seus algozes armados e lhes disse:
¨Aqui entrei pela vontade livre do povo, saio pela força das armas,
certo de que a História julgará a mim e aos senhores¨. Um dos militares,
obediente à rigidez dos códigos da hierarquia, apesar do momento, perfilou-se e
bateu continência ao governador que ele
ajudava a depor .
Na
manhã de sexta-feira, 26, a Historia de Sergipe enriqueceu-se com outro
episódio, marcado por dor, sofrimento e
consciência cívica, também protagonizado por um eloquente e
impetuoso tribuno, o governador Marcelo Déda.
Há,
mesmo com a distancia do tempo, um paralelo histórico permeando os dois
momentos vividos pelos tribunos, Fausto,
e Déda. Em 1906, Fausto estava convicto
de que o seu repto, lançado em praça pública,
em frente à tropa de armas em
riste, poderia custar-lhe a vida. Mas se
dispôs ao sacrifício, por entender que era necessário, em primeiro lugar,
honrar o mandato, defender as suas
ideias que se confrontavam com a mesquinharia corrupta de um governo
retrógrado, que favorecia parentes e fazia negócios com os bens públicos. Dia 26, Déda, superando as dores e os
incômodos de uma quimioterapia, não foi a uma emissora de rádio para fazer
desafios, mas, com a força das suas
convicções e a grandeza do seu exemplo de sacrifício pessoal , pedir, e pedir com a veemência dos que
esgrimem argumentos da razão, que
Sergipe não capitule diante da ambição desenfreada e do egoísmo mesquinho. Ao fim de duas horas de discurso emocionado,
quem carrega nas entranhas um câncer, e contra ele corajosamente luta, por mais
que disfarçasse não conseguiria ocultar o cansaço, a voz sempre potente vez por
outra lhe faltando. Os esforços daquela manhã poderão agravar os efeitos colaterais inevitáveis do tratamento,
valerão a Déda mais reprimendas dos seus médicos, mas, ele enxergava o futuro
de Sergipe, os interesses maiores do povo que o elegeu, e, calar-se, seria covardia moral incompatível com o
comportamento de um homem público que poderá ter todos os defeitos, mas
ninguém nele enxergará desonra ou conivência com a traição ao povo.
Depois
da fala de Déda, do apelo por ele feito para dividir com seus opositores o sucesso pela obtenção do
empréstimo de 720 milhões de reais, depois do convite feito ao senador Amorim para irem juntos à Presidente Dilma
celebrar o contrato; depois de pedir
que os
políticos não abandonem a velha
tradição de unidade em face dos interesses de Sergipe; depois de tudo isso, se não for encontrada a fórmula capaz de
separar o interesse público das ambições e das vantagens pessoais, Sergipe teria então ingressado numa etapa de retrocesso e degenerescência política, que
estaria a exigir o sacrifício pessoal de muitos outros Fausto Cardoso
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