sábado, 28 de julho de 2012

OS VELEJADORES DO PÓ E O ROMANTICO CACHOEIRA



OS VELEJADORES DO PÓ  E O ROMANTICO CACHOEIRA

De Aracaju a Goiânia lá se vão cerca de dois mil quilômetros. É um longo estirão, mas, se percorrermos a distancia entre  Boa Vista  e Porto Alegre serão  quatro mil.  O Brasil é essa imensidão, de terras, de sucessos,  e também de enormes desacertos.  Dois episódios, revelações dos nossos desacertos, nesses últimos dias, interligaram de forma desprimorosa Aracaju a Goiânia.  Aqui, enquanto nas penitenciárias e delegacias aglomeram-se  míseros traficantes  flagrados com  umas trouxinhas de maconha, saíram, sorridentes, dos presídios onde passaram menos de quatro meses os italianos  Davide e sua namorada  Giorgia  .     Eles  transportavam trezentos e dez quilos de cocaína pura, ou seja, uma carga  avaliada em portentosos milhões de reais Agora, com seus passaportes outra vez nas mãos,  viajam para aonde quiserem ir. Certamente voltarão para outras  velejadas pelas costas brasileiras. Aqui,  eles têm a certeza de que se outra vez o barco encalhar levando centenas de quilos de cocaína,  de novo conseguirão    ¨provar a inocência¨. Essa  ¨prova de inocência ¨é sempre  quase impossível  para os pobres.  Quem quiser ter sucesso traficando droga e  garantir a liberdade caso venha  a ser preso, tenha vergonha na cara,  não ande por aí com poucos papelotes de cocaína. Compre um veleiro, saia pelo mundo, de preferencia pela enorme extensão de absoluta impunidade que existe no Brasil. E boa viagem.  Em Goiânia, Carlinhos Cachoeira,   ponta de um iceberg do crime organisadíssimamente    agindo junto aos cofres públicos e aos seus gestores, debochou ,  e fez do que seria um depoimento,  a melhor ocasião para declarar seu eterno amor à namorada. Despreocupadamente romântico,  Cachoeira    a ela propôs  casamento. Isso aconteceu naquele local  antes cerimoniosamente  chamado   de ¨excelso pretório , ¨ um Tribunal de Justiça.  Diante de Juizes e promotores Carlinhos Cachoeira encenou  uma deplorável ópera bufa de afrontoso achincalhe à Justiça. Nada lhe aconteceu.  Essa despreocupação dos bandidos, talvez explique a ousadia que cada dia eles mais demonstram.  Existem hoje no Brasil  mais de quatrocentos magistrados e promotores que, ameaçados, são obrigados a andar protegidos por seguranças armados.
 A essa boa  hora o casal de traficantes italianos, traficantes sim, eles não são outra coisa, já deve ter saído do Brasil. Aqui, valeram os argumentos da defesa,  e, desafiando todas as circunstancias que deixam evidente o crime,  o casal  foi beneficiado por uma decisão judicial que já provoca indignação nos presídios,  onde  mofam traficantes pés de chinelo,  que não têm veleiros , nem podem dispor de uma carga tão vistosa de cocaína. Neste JORNAL DO DIA de domingo passado,  dia 22, o  jornalista  Cristian Góes, atento defensor da cidadania, revelou em sua coluna,  que o Davide Migani,  comandante do veleiro do pó,  tem  passagens pela polícia italiana.  Ele figurou num processo ao lado de dois irmãos que são elementos de proa no tráfico internacional de drogas,  e  já foi preso, numa das vezes,  guardando em casa 50 gramas de haxixe.
 O comandante do veleiro tem um rastro de evidencias que o relacionam diretamente ao tráfico, mas aqui  foi absolvido , porque  ¨pairavam duvidas sobre a conduta dolosa ¨.  Cristian Góes  encontrou num jornal da cidade italiana de Bolonha,  minuciosa matéria escrita pelo jornalista  Raimondo  Baldone, com detalhes suficientes para  afastar todas as possíveis dúvidas .  Mas agora é tarde,  o traficante internacional está livre.
Em sintonia com aquelas ¨dúvidas ¨que beneficiaram o  sortudo e protegido  traficante velejador italiano, por que não soltamos todos os bandidinhos  sem sorte,  desprotegidos,   condenados e presos  que  nunca tiveram sequer uma  canoa para  navegar com a sua droga ?

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