LA MADRE DE LOS DESCAMISADOS
Quando o ditador Juan Domingo Perón foi deposto , dois ou três anos depois da morte da sua esposa,, os militares
tentaram desmistificar a figura
idolatrada de Evita. O culto àquela
mulher que o povo enxergava como
santa, ¨ La madre de Los
Descamisados ¨ , seria , segundo eles, uma permanente ameaça aos seus
propósitos de varrer do cenário argentino o vírus do peronismo. Começou
então um trabalho incessante e também
infrutífero de desconstrução do mito.
Passaram a mostrar a outra face da mãe dos pobres. A
face excessivamente vaidosa, perdulária, da mulher bonita, até sensual, que gostava de
exibir-se envolta em caríssimos mantos de pele, vestia-se na Maison Dior
de Paris, tinha uma fabulosa coleção de
joias refulgentes e guardava em seus armários centenas de sapatos caríssimos.
A revista O Cruzeiro, então o carro-chefe da
mídia impressa dos Diários Associados,
exibiu sucessivas reportagens mostrando as joias, os vestidos, os
perfumes, os atavios todos da mulher que assumiu a imagem de piedosa e forte
´protetora dos fracos e desamparados. Essa
mistificação, com o passar do
tempo, viria a se transformar na vertente social do movimento peronista , que perpassa
quatro gerações de argentinos. Naquela ocasião, como faria dez anos
depois, quando investiu pesadamente contra Juscelino Kubitscheck, que acabava
de ser cassado, o dono dos Diários Associados, Assis Chateaubriand, cuidava , na verdade, dos seus interesses. Na Argentina, na década
dos cinqüenta, Chatô queria ampliar negócios, investimentos que poderiam ser
prejudicados com a queda de Perón; no Brasil, depois do golpe de 64, lutava em
desespero para que Castelo Branco sufocasse, no nascedouro, a recém criada
TV-Globo, que ele já vislumbrava como
uma ameaça à sua rede de televisão.
Nada adiantou a tentativa dos generais
no poder , de intrigar Evita com os ¨descamisados ¨, de
nada adiantou a exibição do seu arsenal de luxos, riqueza e vaidade. Tanto
tempo depois, no La Recoleta, as pessoas fazem longas filas para levar flores
a La madre de Los Descamisados. E não
são apenas os ¨descamisados ¨que a
cultuam, até porque, numa fase ainda recente, quase todos os argentinos da
classe média , e até alguns ricos, sentiram o gosto amargo de ser também um
¨descamisado¨.
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