domingo, 13 de maio de 2012

O CHEVAL BLANC DO SENADOR


O CHEVAL BLANC DO SENADOR

O ainda senador Demóstenes Torres  deslumbrado com o sucesso da sua quadrilha, tomou-se de sofisticado gosto pelos vinhos mais raros, vinhos finíssimos, coisa de gente   que pode e quer ostentar riqueza. Sua predileção:  um Cheval Blanc,  safra de 1947, ainda encontrável em algumas lojas especializadas ao preço,  para quem  fatura sem suar a camisa, muito doce,  ínfimos   trinta mil reais. O impoluto senador era regularmente abastecido com garrafas do Cheval  Blanc, que o Cachoeira fazia chegar de Miami .  Demóstenes  tornou a  raridade um continuado prazer,  a dividir  com a jovem mulher, curtindo ainda o enlevo de uma lua de mel.
Demostenes Torres  é, como se sabe,  Senador da  República, também Procurador de Justiça do estado de Goiás. Até a surpreendente descoberta de que o  importante personagem era um dedicado  servidor  do submundo do crime,  tratava-se de um cidadão acima de qualquer suspeita. Rígido defensor da moralidade pública, dedo em riste a denunciar corruptos, Demóstenes  parecia cultivar as sutilezas de um jogo duplo. Era o moralista na tribuna do Senado, e o amoral absoluto, enquanto sorvia o Cheval Blanc de trinta mil reais. Um personagem perfeito a encarnar todas as contraditória facetas e  podridões do ser humano.

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