O CHEVAL BLANC DO SENADOR
O ainda senador Demóstenes Torres deslumbrado com o sucesso da sua quadrilha,
tomou-se de sofisticado gosto pelos vinhos mais raros, vinhos finíssimos, coisa
de gente que pode e quer ostentar
riqueza. Sua predileção: um Cheval
Blanc, safra de 1947, ainda encontrável
em algumas lojas especializadas ao preço, para quem
fatura sem suar a camisa, muito doce,
ínfimos trinta mil reais. O impoluto senador era
regularmente abastecido com garrafas do Cheval Blanc, que o Cachoeira fazia chegar de Miami
. Demóstenes tornou a
raridade um continuado prazer, a
dividir com a jovem mulher, curtindo
ainda o enlevo de uma lua de mel.
Demostenes Torres é,
como se sabe, Senador da República, também Procurador de Justiça do
estado de Goiás. Até a surpreendente descoberta de que o importante personagem era um dedicado servidor do submundo do crime, tratava-se de um cidadão acima de qualquer
suspeita. Rígido defensor da moralidade pública, dedo em riste a denunciar
corruptos, Demóstenes parecia cultivar
as sutilezas de um jogo duplo. Era o moralista na tribuna do Senado, e o amoral
absoluto, enquanto sorvia o Cheval Blanc de trinta mil reais. Um personagem
perfeito a encarnar todas as contraditória facetas e podridões do ser humano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário