quinta-feira, 24 de maio de 2012

A BODEGA, A PMS E O CÓDIGO DE ÉTICA

A BODEGA, A PMS E O CÓDIGO DE ÉTICA

Em um pobre bairro de Aracaju, há coisa de uns cinquenta anos, havia, em uma humilde bodega de esquina, escrita a tinta vermelha, numa tabela afixada na parede a  frase: ¨Atendemos com honestidade, presteza, eficiência e  educação¨.   O proprietário, sempre com o lápis na orelha para fazer as anotações nas cadernetas  do¨ fiado¨ de tantos fregueses, era um galegão  de faces avermelhadas, vindo das beiras do São Francisco, denunciando, no físico, provavelmente uma descendência  dos holandeses que andaram por lá se refugiando após a  frustrada ocupação de Pernambuco pela multinacional Companhia das Índias. Era homem sempre pronto a dar opiniões sobre tudo, desde política à melhor maneira para conter a carestia sem depender da SUNAB, a  inócua Superintendência Nacional de Abastecimento  e Preços. Visionário, sonhava transformar o seu acanhado negócio numa rede de lojas, e, para isso, todos  os dias anunciava uma promoção,    ensaiando uma estratégia de  marketing que fazia rolar de boca em boca . ¨Amanhã é dia da banha com o preço mais barato de Aracaju.¨  E assim a bodeguinha  ia crescendo, certamente chegaria a transformar-se num portentoso negócio de supermercados, igualzinho aos que fizeram outros sergipanos pobres, também, todavia arrojados e pioneiros, isso, se um enfarto não houvesse prematuramente levado o esperançoso negociante. Mas, além do dom inato para comerciar, ele tinha algo de inédito para aquele tempo: seguia uma  linha de conduta, considerava o respeito ao cliente  requisito indispensável para o sucesso do seu negócio, por isso, estava sempre a mostrar no  quadro pregado à parede a frase que era  a própria síntese inovadora de um código de ética: ¨Atendemos com honestidade, presteza, eficiência e educação ¨.
Aquele homem simples, tocando um pequeno e incipiente negócio, tinha a convicção de que sem  regras, sem a obediência a normas e a princípios,  até mesmo uma humilde bodega de subúrbio corre o risco de mergulhar na mesmice de tantas outras semelhantes que se perderam na insignificância, por não terem um diferencial que  as caracterizasse. De resto, e num plano mais amplo, a obediência a princípios éticos é imperativo,  sem o que as sociedades degeneram.
Muito se comenta agora sobre o projeto de lei do Executivo  em análise na   Assembléia  criando um novo código de ética para a Polícia Militar. É um passo à frente, um marco de evolução e modernidade. A polícia Militar de Sergipe é regida ainda por regulamentos que datam do período em que as PM eram subordinadas ao exército como forças auxiliares. Por isso, se fazia necessária uma atualização aos novos tempos, Ocorreram equívocos no texto inicial, e esses equívocos estão sendo  tratados como se fossem a essência do projeto. Os equívocos foram retirados.  Assim, o irrelevante, desnecessário, ou até quase absurdo, não mais está incluído no debate. Há que se tratar agora do projeto,  e a ele incorporar sugestões,   ideias, no sentido de aperfeiçoá-lo, porque certamente não é o código proposto  uma obra perfeita e acabada.
Não se pode entender um código de ética como camisa de força, até porque  a matéria sugerida aos deputados não passa de algo   idêntico ou bem assemelhado  aos demais códigos de ética que outras policias militares já adotaram. E sem tanta balbúrdia.
 Assim como o pequeno  comerciante seguia normas para melhor servir aos fregueses, uma polícia militar não pode deixar de obedecer a um código de ética para melhor servir à sociedade.  O comerciante sabia da sua dependência em relação aos fregueses, os policiais militares,  como servidores públicos, devem ter consciência  da relação de respeito ao contribuinte, ao cidadão que lhes paga os salários. Um Código de Ética  valorizando a atividade policial  poderá ser um bom instrumento para consolidar essa benéfica relação.
 

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