A BODEGA, A PMS E O CÓDIGO DE ÉTICA
Em
um pobre bairro de Aracaju, há coisa de uns cinquenta anos, havia, em
uma humilde bodega de esquina, escrita a tinta vermelha, numa tabela
afixada na parede a frase: ¨Atendemos com honestidade, presteza,
eficiência e educação¨. O proprietário, sempre com o lápis na orelha
para fazer as anotações nas cadernetas do¨ fiado¨ de tantos fregueses,
era um galegão de faces avermelhadas, vindo das beiras do São
Francisco, denunciando, no físico, provavelmente uma descendência dos
holandeses que andaram por lá se refugiando após a frustrada ocupação
de Pernambuco pela multinacional Companhia das Índias. Era homem sempre
pronto a dar opiniões sobre tudo, desde política à melhor maneira para
conter a carestia sem depender da SUNAB, a inócua Superintendência
Nacional de Abastecimento e Preços. Visionário, sonhava transformar o
seu acanhado negócio numa rede de lojas, e, para isso, todos os dias
anunciava uma promoção, ensaiando uma estratégia de marketing que
fazia rolar de boca em boca . ¨Amanhã é dia da banha com o preço mais
barato de Aracaju.¨ E assim a bodeguinha ia crescendo, certamente
chegaria a transformar-se num portentoso negócio de supermercados,
igualzinho aos que fizeram outros sergipanos pobres, também, todavia
arrojados e pioneiros, isso, se um enfarto não houvesse prematuramente
levado o esperançoso negociante. Mas, além do dom inato para comerciar,
ele tinha algo de inédito para aquele tempo: seguia uma linha de
conduta, considerava o respeito ao cliente requisito indispensável para
o sucesso do seu negócio, por isso, estava sempre a mostrar no quadro
pregado à parede a frase que era a própria síntese inovadora de um
código de ética: ¨Atendemos com honestidade, presteza, eficiência e
educação ¨. Aquele homem simples, tocando um pequeno e incipiente
negócio, tinha a convicção de que sem regras, sem a obediência a normas
e a princípios, até mesmo uma humilde bodega de subúrbio corre o risco
de mergulhar na mesmice de tantas outras semelhantes que se perderam na
insignificância, por não terem um diferencial que as caracterizasse.
De resto, e num plano mais amplo, a obediência a princípios éticos é
imperativo, sem o que as sociedades degeneram. Muito se comenta
agora sobre o projeto de lei do Executivo em análise na Assembléia
criando um novo código de ética para a Polícia Militar. É um passo à
frente, um marco de evolução e modernidade. A polícia Militar de Sergipe
é regida ainda por regulamentos que datam do período em que as PM eram
subordinadas ao exército como forças auxiliares. Por isso, se fazia
necessária uma atualização aos novos tempos, Ocorreram equívocos no
texto inicial, e esses equívocos estão sendo tratados como se fossem a
essência do projeto. Os equívocos foram retirados. Assim, o
irrelevante, desnecessário, ou até quase absurdo, não mais está incluído
no debate. Há que se tratar agora do projeto, e a ele incorporar
sugestões, ideias, no sentido de aperfeiçoá-lo, porque certamente não é
o código proposto uma obra perfeita e acabada. Não se pode entender
um código de ética como camisa de força, até porque a matéria sugerida
aos deputados não passa de algo idêntico ou bem assemelhado aos
demais códigos de ética que outras policias militares já adotaram. E sem
tanta balbúrdia. Assim como o pequeno comerciante seguia normas
para melhor servir aos fregueses, uma polícia militar não pode deixar de
obedecer a um código de ética para melhor servir à sociedade. O
comerciante sabia da sua dependência em relação aos fregueses, os
policiais militares, como servidores públicos, devem ter consciência
da relação de respeito ao contribuinte, ao cidadão que lhes paga os
salários. Um Código de Ética valorizando a atividade policial poderá
ser um bom instrumento para consolidar essa benéfica relação.
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