Mais do que nenhum outro servidor público, o policial, seja ele civil ou militar, deve obediência rigorosa às leis, aos regulamentos da sua corporação. Isso por um tão simples quanto determinante motivo: o policial carrega consigo armas que a sociedade lhe entrega exatamente para que a proteja. No caso do policial militar as regras são ainda mais rigorosas, exatamente porque o militarismo difere, em rigor, das regras habitualmente aplicadas aos civis. O fascínio pela farda e a vocação, fazem com que a carreira militar, tanto nas forças armadas como nas corporações policiais, seja uma das mais disputadas pelos jovens. Há uma fila enorme de pessoas dispostas a enfrentar os concursos, a admissão às escolas de onde sairão para cumprir uma tarefa, que sabem, não será fácil nem destituída de sacrifício. As policias de alguns estados diferenciaram-se pelo nível dos salários, em Sergipe, por exemplo, mas, o Distrito Federal permanece no topo, até pelo fato de ser a administração distrital irrigada generosamente com verbas federais. Todavia, de Brasília, partem dos policiais aqueles exemplos desprimorosos de desprezo pela carreira, de desrespeito à farda que vestem. Os policiais de Brasília, insatisfeitos, apesar de receberem os melhores salários, de estarem acima do que recebem os integrantes das forças armadas, sempre disciplinados e cônscios da responsabilidade que têm, do papel que desempenham. Os policiais brasilienses fazem a ¨operação tartaruga ¨ , em consequência, crescem os assaltos, os homicídios, e eles comemoram nas redes sociais, o que entendem ser um sucesso do movimento. É deplorável o espetáculo de desrespeito à lei e à sociedade, promovido por que mais deveria zelar pela disciplina, pela hierarquia, pelo respeito escrupuloso às leis. Pior do que tudo isso são as novas ¨vivandeiras¨ que cortejam os quarteis, fazem tudo para agradar aos que lá vivem, e até incentivam a indisciplina e a baderna, desde que disso retirem dividendos eleitorais.
PS- ¨Vivandeiras¨, na linguagem da caserna, eram aquelas mulheres, na sua maioria meretrizes que acompanhavam os exércitos nas suas marchas. Quando, na presidência da República após o golpe militar de 64 o marechal Castello Branco se viu ameaçado pela indisciplina que grassava no exército, marinha e aeronáutica, em virtude da disputa pelo poder, chamou de ¨vivandeiras ¨ os políticos que estimulavam a rebelião, e o fez com endereço certo para o jornalista e então governador da Guanabara, Carlos Lacerda, um homem que se habituara a rondar os quarteis na tentativa de sublevá-los, e tirar proveito político. Vítima do próprio monstro que ajudara a criar, Lacerda buscou reconciliar-se com a democracia, a civilidade política, e criou a chamada ¨ frente ampla¨, um movimento de resistência ao poder militar, reaproximando-se de adversários que ele tanto vilipendiara, como Juscelino Kubitscheck e Jango Goulart. Depois do Ato Institucional nº 5 em dezembro de 68, Lacerda foi cassado e preso, o mesmo acontecendo com Juscelino, que já perdera, em agosto de 64, o mandato de senador depois que sobre ele despejou-se a ira dos militares, estimulada por Carlos Lacerda. Ele queria ter o caminho livre para disputar as eleições presidenciais em 65, que não se realizaram.
Misturar armas com política, sempre foi uma imprevisível e arriscada aventura.
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