sábado, 11 de fevereiro de 2012

A PMS DESDE O OITÍ AO CAPITÃO SAMUEL

No tempo em que todo o efetivo da Polícia Militar de Sergipe cabia, com folga, no pátio do quartel central,  dizia-se que era impossível manter uma formatura nos meses em que os oitizeiros  frutificavam. Se a tropa estivesse formada e começassem a cair do alto das frondosas árvores aquelas insípidas frutinhas amarelas, era como se  houvesse sido ordenado um fora de forma. A fome era tanta que a soldadesca corria para disputar os oitis caídos ao chão.  As formaturas, na verdade, não se desfaziam por causa dos oitis, mas,  era comum ver-se soldados dentro do quartel catando no chão e comendo com certa avidez os disputados oitis.
Pelo sim pelo não, quando o governador Lourival Baptista ampliou o velho quartel, construindo o prédio anexo, as árvores frondosas foram inapelavelmente derrubadas, e ninguém mais fez a associação maldosa entre a fome,  os oitis, e a impossibilidade de ser mantida a ordem durante as formaturas. Polícia, naquele tempo, era um precário e mal treinado aparato de força sempre a serviço dos governantes, e, por extensão, também    dos chefes políticos do interior aliados do governo. Não se fazia política sem o uso faccioso da polícia, tanto a civil como a militar, do fisco,  da rede pública de educação. A polícia serviu para depredar a sede da usina Várzea Grande, do usineiro Pedro Ribeiro,  mal visto pelo governo; para demolir e tocar fogo nas casas e fazendas da família Ceará; para  assassinar a tiros de metralhadora o deputado federal Euclides Paes Mendonça e seu filho o deputado estadual Antonio Mendonça; a polícia servia, enfim, dócil e obedientemente para a prática de  inumeráveis  tropelias, que davam aos que dela participavam, fossem comandantes ou comandados, a certeza de que seriam recompensados com  promoções sucessivas, que levaram praças a se tornarem coronéis. Militares, também como hoje, envolviam-se  diretamente com a política partidária, mas  não se tem noticia de um só que conseguisse se eleger contando maciçamente com os votos dos policiais.  A polícia dividia-se em muitas facções. Houve um coronel, Hermeto Feitosa, que até figurou como vice na chapa do médico Edelzio Vieira de Melo, que disputou sem sucesso o governo do estado. Todos, naquele tempo,  ganhavam  humildes salários, de desembargador a  serventuário, mas os policiais historicamente, sempre foram os mais miseravelmente remunerados, todavia,,  como eram umbilicalmente ligados aos chefes políticos, recebiam favores pessoais que os aquietavam, por isso, coletivamente, nunca se faziam reivindicações consistentes.
A policia atual, embora com efetivo ainda insuficiente para cobrir as necessidades do estado, assumiu as características de uma verdadeira corporação militar, e não desempenha mais a função desabonadora de guarda costas  de políticos atrabiliários.
O capitão Samuel elegeu-se quando as  sombras dos oitizeiros já nem mais  existiam, foi ele, talvez, o único que conseguiu conquistar um mandato quase exclusivamente com o apoio dos colegas de farda. Tem,  por conseguinte, um compromisso forte de representa-los.  Ele  vem procurado facilitar a interlocução da tropa com os poderes, e isso põe em andamento algumas propostas.  A polícia de Sergipe tem hoje uma situação salarial  invejável em relação às demais corporações, inclusive  mais numerosas, como as do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas. Não há, na tropa sergipana, insatisfações acumuladas no mesmo nível das existentes   nas policias  da Bahia, do Rio, de Alagoas. Há  diversas situações a ajustar, e isso pressupõe a necessidade da intensificação do diálogo.  Nesses tempos de exacerbação de ânimos e de incitamento à indisciplina, um peso maior de responsabilidade recai sobre as lideranças.

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