sábado, 11 de fevereiro de 2012

O POETA O CORVO E OS MAUS PRESSÁGIOS

Depois que Edgard Allan Poe escreveu  O corvo, ( The Haven )  a ave sempre portadora de maus presságios,  entrou, definitivamente, para o mundo das sensíveis,  metafóricas ou cifrantes elucubrações poéticas. O corvo,  com seu crocitar sinistro ( seria crocitar mesmo a voz do corvo ?) tornou-se simbolicamente presente  na vida política brasileira durante os tumultuados anos do inicio da década dos  sessenta, anos prenhes de ideias conflitantes,  que produziam memoráveis embates, num cenário político dominado pelo protagonismo de figuras que os superados cultores do clássico denominariam ¨varões de Plutarco¨. Seixas Dória, falecido mês passado, foi um daqueles  ¨varões¨, Carlos   Lacerda, polêmico, impiedosamente cáustico, contraditório, foi, seguramente, o personagem de maior visibilidade naquele  privilegiado palco de eminencias . Um dia, a Ultima Hora,  porta-voz das causas populares, estampou em primeira página, um grotesco corvo. O traço criativo do chargista combinou magistralmente o rosto caricato de   Lacerda com o corpo da ave, e daí em diante o corvo passaria a simbolizá-lo. Talvez,  para  que se esquecessem  do corvo e da associação que ele despertava,   Lacerda, mestre em marketing,  palavra desconhecida na época, resolveu dar projeção a um pássaro não castigado pela fama de ser o preferido de bruxas e duendes.   Perfeccionista criador de passarinhos, ele  trouxe de Portugal um mainá,  ave de canto mavioso. Então, o  todo poderoso governador do estado da Guanabara,   usou até cronista social para fazer  do seu mainá  uma celebridade. Mas o pássaro famoso morreu, e a Ultima Hora, outra vez, colocou o corvo em primeira página, com a cara de Lacerda, enfiando as garras e devorando o infeliz mainá lusitano.
 O jornalista Paulo Francis então militante de esquerda e no melhor da sua forma de polemista,  escreveu, também na Ultima Hora, sucessivas verrinas  contra Lacerda, inspirando-se no  poema de Allan Poe, e dele fazendo traduções  oportunísticas,   para ilustrar a pancadaria. O diabo é que o poema nem fala em corvo, dele, só leva o nome.
  Em The Raven, a ave  atemoprizante é sujeito oculto, poeticamente escondido.  A visita que bate à porta na madrugada sombria, e repete as batidas, é angústia avassaladora em um escuro mês de dezembro. São os medos, os pesadelos, a solidão opressa, e todos os terrores na alma atormentada do poeta.
Poe morreu, não se sabe até hoje, com certeza, se durante um monumental porre,   álcool,  ópio, ou envenenado por inimigos solertes.  Seus contos de terror o celebrizaram, mas The Raven,  seria a  criação maior, que persistiria no tempo, a instigar sucessivas gerações de outros poetas.
Jozailto Lima,  embriagado pelo jornalismo,, cachaça à qual se  aferra,  viciadamente,  esmerando-se em magistrais textos, todos os dias desperta poeta, e dorme poeta, mas, o labor  da redação o obriga, a, somente indormido, ,   dar consequência ao imperativo de poetar. Assim,  saídos da insônia, já nasceram 4 livros. Com eles consagrou-se o poeta. Agora, ele prepara o lançamento do quinto,  Viagem na Argila. Concluído o livro, neste início de ano em que tempestades se formam,  Jozailto, mais um a inspirar-se em Poe, e no seu subjetivo,  sinistro corvo, escreveu Farsa da Calmaria,  que lhe pedimos licença para transcrever:
                                                            enquanto o corvo
                                                             num bem longealém
                                                             repousa  e never  
                                                               nada ousa
                                                             contra  a lisa lousa
                                                                 da  alegria,
                                                            a garça daqui pousa
                                                            na tropical graça deste dia.
                                                           mas cuidado, meu
                                                           irmão  meu desigual,
                                                          com  as garras
                                                          do repouso: tudo é farsa:
                                                          nada é calmaria.

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