sábado, 28 de janeiro de 2012

A ¨ OPERAÇÃO PÉ DE PORCO¨ OU FEIJOADA COM BAIONETA

Murilo Mellins,   nosso memorialista maior,  relembra, e conta.

Corria o ano trágico de 64, o mês deveria ser junho ou julho, os presos políticos da primeira fornada logo após a vitória da  ¨redentora ¨, em primeiro de abril, já estavam quase todos soltos, respondendo a processo na 6ª Região Militar em Salvador. Embora ameaçados de perderem os empregos, alguns funcionários  dos Correios, resolveram, num dia de sábado, fazer uma comemoração. Num bar próximo, na rua  Laranjeiras,  mandaram preparar uma portentosa feijoada que foi colocada em  dois grandes caldeirões. Ficaram ao lado do prédio dos Correios na rua Itabaianinha, aguardando os carros de dois dos únicos funcionários que possuíam veículos, para irem à Atalaia, onde seria a comilança La  estavam o próprio Murilo Mellins, Gil Natureza, Paulo Barbosa, Maurino  Ramos,  Gervásio Careca e outros. Nisso, chegam duas viaturas do exército  conduzindo soldados e um sargento.  Foram todos empurrados contra uma parede, ficando de costas para os militares que, com   a ponta dos fuzis futucaram-lhes  o corpo , fazendo um inovador baculejo.  Como não havia ninguém armado,  voltaram-se contra a feijoada. Enfiaram as baionetas nos caldeirões e  puseram-se a mexer a suculenta.  Como só encontrassem tripa,  costelinha,  jabá, mocotó e muito feijão, investiram contra  as garrafas de vodka, cachaça e cerveja, e quebraram todas, lançando-as contra o paralelepípedo da rua. Depois de cumprida a missão, certamente relacionada  à  ¨segurança nacional ¨ os militares voltaram às viaturas e foram saindo. Ai, o grupo não conteve uma sonora e coletiva gargalhada. O sargento retornou colérico:  ¨Por  acaso  vocês estão rindo do  glorioso exército brasileiro, seus comunistas de merda¨?

E ouviram uma temerária resposta:  ¨Não senhor, é porque disseram que uma feijoada mexida com baioneta fica bem mais gostosa. ¨

Perderam toda a comida. O óleo dos azeitados fuzis ficou sobrenadando nos panelões da feijoada.

Depois, ficaram sabendo do motivo da  ¨operação pé de porco” . Algum ¨dedo duro ¨telefonou ao 28º BC e passou a informação:¨ Tem uns subversivos aqui preparando uma feijoada, dentro dela vão esconder uns coquetéis molotov.¨ Coquetel molotov é o nome de um explosivo preparado com garrafas  cheias de combustível, e onde se põe uma mecha acesa antes de arremessá-las.

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