Em 1971, Aracaju era aquela doce província tão exaltada por escritores que declaravam reiteradamente seu amor à cidade. Mas a cidade, a província sergipana, não era, na realidade, tão adocicada assim. Vivíamos, naquele tempo, o período mais repressivo da ditadura, além disso, eram enormes os preconceitos, as desconfianças com que as pessoas , digamos, sérias, olhavam para quem destoava do figurino estabelecido. Naquele ano chegou a Aracaju, vinda de Salvador, uma jovem radiosamente sensual, e que também era bailarina. Regina Lúcia Matos Spineli, que logo ficou sendo carinhosamente Lú Spineli. Ela tinha um projeto ousado: queria instalar uma escola de dança em Aracaju. Naquela época se homem dançava balé, inapelavelmente era viado e mulher recatada não poderia estar exibindo o corpo. Afinal, estávamos numa fase em que artista era olhado quase com a mesma desconfiança do tempo em que havia uma carteira de identidade única para atrizes e prostitutas.
Quarenta anos se passaram. A Studio Danças que Lú Spineli criou, é uma referencia de seriedade e competência no ensino da dança. E Lú, batalhadora cultural que tem presença forte no processo civilizatório sergipano, fez uma festa à altura do acontecimento, a grande festa do balé em Aracaju, no lotado Teatro Tobias Barreto. De Nova Iorque vieram Clyde Morgan e Laís Morgan; da Bahia Marcelo Moacir Ramos e Fred Salim, da Fundação Cultural da Bahia, e Dulce Aquino pró-reitora de extensão da UFBa.
Lú dedicou o espetáculo dos 40 anos a Barrinhos, Lessa e Eurico Luiz, artistas que já se foram, e homenageou os saudosos intelectuais e homens públicos Antonio Garcia Filho e João Cardoso Nascimento.
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