segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A VALORIZAÇÃO DA CACHAÇA


Cachaceiro sempre foi um  termo depreciativo. A definição exata para o bêbado pobre, o pinguço que vivia pelos botequins  a tomar aquela bebida barata, demasiadamente popular, para a qual as pessoas de certo nível social sempre torciam o nariz. Bar, restaurante elegante, jamais serviriam uma cachaça. Qualquer cliente que se prezasse, sentir-se-ia até ofendido,  a sua reação imediata seria de rejeição, repúdio, um afastem de mim esse cálice de bebida tão desprezível. Assim, tão avesso à cachaça, o mesmo cliente, entre sorrisos,  aceitaria algumas doses até generosas de outros destilados, desde que fossem importados, como o uísque, a vodca, o gin, a tequila, o rum. Talvez nem atentasse para o fato de que aquelas bebidas, nos países ou regiões de origem,  são consumidas, sem  distinção ,  por pobres e ricos  .  O preconceito contra a cachaça seria, em primeiro  lugar, decorrente da péssima qualidade da ¨pinga¨ que produzíamos, tanto assim, que foi criado um diferencial. Apareceu a  ¨ boa pinga¨,  aquela fabricada com mais cuidado, com técnica, evitando-se o uso de substancias que provocavam a terrível consequência da ressaca, com todas as dores de cabeça imagináveis, e que surgia mesmo quando não havia excessos no consumo da ¨branquinha¨.  A boa  ¨pinga¨,  entre elas as chamadas ¨ cachaça  de cabeço¨,  as primeiras que rolavam no processo de destilação,  passaram a ser disputadas, aparecendo como requintada essência para o prazer de consumidores exigentes. O processo de aperfeiçoamento da cachaça prosseguiu, e o Brasil pode, finalmente, mostrar ao mundo uma bebida de alta qualidade,  comparável aos melhores uisques,  às melhores vodcas.  Na onda da boa imagem que o Brasil vai consolidando pelo mundo a fora a cachaça  ganha espaço. Há marcas vendidas no exterior até por mais de 200 dólares. Os bares e restaurantes parisienses que, desde algum tempo já serviam a ¨caipirinha¨,  renderam-se   à qualidade da nossa  bebida  nacional , a ela acrescentando  o charme e a elegância do champagne,  sugerindo uma dose de ¨champanhirinha¨,  com a sofisticação etílico-gastronômica dos franceses: o  champagne,  a cachaça, e o suco de laranja, preferencialmente sem gelo. O sabor é requintado.  Por esse caminho, com acompanhamentos assim tão qualificados, a nossa cachaça vai invadindo o mundo.
Essa  ¨invasão¨ se tornou possível porque empresários brasileiros começaram a investir na produção de cachaças de alto nível. Minas, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, saíram na frente  .  Sergipe logo os seguiria. Apareceu aqui a Cachaça do Barão que começa a chegar ao mercado externo, agora, o empresário Laurinho Menezes dá um passo ousado em direção às tendências do mercado, passando também a participar da fabricação de cachaças  ¨for export¨, aquelas, com certificado de boa qualidade. Na noite de sexta-feira, no cenário feericamente iluminado  da fazenda Boa Luz, com degustação, boa  comida, show artístico,   centenas de amigos reunidos, Laurinho lançava as suas marcas de boas cachaças: a top de linha Boa Luz, comparável às melhores do ranking, e uma mais popular, a Xingó,  todavia, com aqueles mesmos cuidados de fabricação que afastam a inevitabilidade da ressaca, desde, evidentemente, que não se perca a moderação. A cana vem das terras de massapê da própria Boa Luz, são de uma cêpa  especial ; o alambique  foi montado obedecendo-se às mais detalhadas exigências para que dele saia a melhor ¨água que os passarinhos não bebem¨. Infelizmente, para eles.
 A cachaça Xingó vai ter um segundo lançamento, e o cenário será a grandiosidade do canion  de Xingó, em Canindé do São Francisco. Kaká Andrade, secretário municipal e segundo suplente de senador,  ouvindo o anúncio feito por Laurinho, aprovava, lembrando: ¨Está aí o bom resultado da marca   que o prefeito Orlandinho  consolidou em todo o país ¨. Entre  as centenas de pessoas que degustavam a Boa Luz e a Xingó, estava   Eduardo Amorim, de quem Laurinho é  primeiro suplente. Comedido ao falar,  mais ainda no beber, o médico e senador, com aquela expressão dos  conaisseurs,  dizia: ¨excelente cachaça¨.

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