Cachaceiro sempre foi um termo depreciativo. A definição exata para o bêbado pobre, o pinguço que vivia pelos botequins a tomar aquela bebida barata, demasiadamente popular, para a qual as pessoas de certo nível social sempre torciam o nariz. Bar, restaurante elegante, jamais serviriam uma cachaça. Qualquer cliente que se prezasse, sentir-se-ia até ofendido, a sua reação imediata seria de rejeição, repúdio, um afastem de mim esse cálice de bebida tão desprezível. Assim, tão avesso à cachaça, o mesmo cliente, entre sorrisos, aceitaria algumas doses até generosas de outros destilados, desde que fossem importados, como o uísque, a vodca, o gin, a tequila, o rum. Talvez nem atentasse para o fato de que aquelas bebidas, nos países ou regiões de origem, são consumidas, sem distinção , por pobres e ricos . O preconceito contra a cachaça seria, em primeiro lugar, decorrente da péssima qualidade da ¨pinga¨ que produzíamos, tanto assim, que foi criado um diferencial. Apareceu a ¨ boa pinga¨, aquela fabricada com mais cuidado, com técnica, evitando-se o uso de substancias que provocavam a terrível consequência da ressaca, com todas as dores de cabeça imagináveis, e que surgia mesmo quando não havia excessos no consumo da ¨branquinha¨. A boa ¨pinga¨, entre elas as chamadas ¨ cachaça de cabeço¨, as primeiras que rolavam no processo de destilação, passaram a ser disputadas, aparecendo como requintada essência para o prazer de consumidores exigentes. O processo de aperfeiçoamento da cachaça prosseguiu, e o Brasil pode, finalmente, mostrar ao mundo uma bebida de alta qualidade, comparável aos melhores uisques, às melhores vodcas. Na onda da boa imagem que o Brasil vai consolidando pelo mundo a fora a cachaça ganha espaço. Há marcas vendidas no exterior até por mais de 200 dólares. Os bares e restaurantes parisienses que, desde algum tempo já serviam a ¨caipirinha¨, renderam-se à qualidade da nossa bebida nacional , a ela acrescentando o charme e a elegância do champagne, sugerindo uma dose de ¨champanhirinha¨, com a sofisticação etílico-gastronômica dos franceses: o champagne, a cachaça, e o suco de laranja, preferencialmente sem gelo. O sabor é requintado. Por esse caminho, com acompanhamentos assim tão qualificados, a nossa cachaça vai invadindo o mundo.
Essa ¨invasão¨ se tornou possível porque empresários brasileiros começaram a investir na produção de cachaças de alto nível. Minas, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, saíram na frente . Sergipe logo os seguiria. Apareceu aqui a Cachaça do Barão que começa a chegar ao mercado externo, agora, o empresário Laurinho Menezes dá um passo ousado em direção às tendências do mercado, passando também a participar da fabricação de cachaças ¨for export¨, aquelas, com certificado de boa qualidade. Na noite de sexta-feira, no cenário feericamente iluminado da fazenda Boa Luz, com degustação, boa comida, show artístico, centenas de amigos reunidos, Laurinho lançava as suas marcas de boas cachaças: a top de linha Boa Luz, comparável às melhores do ranking, e uma mais popular, a Xingó, todavia, com aqueles mesmos cuidados de fabricação que afastam a inevitabilidade da ressaca, desde, evidentemente, que não se perca a moderação. A cana vem das terras de massapê da própria Boa Luz, são de uma cêpa especial ; o alambique foi montado obedecendo-se às mais detalhadas exigências para que dele saia a melhor ¨água que os passarinhos não bebem¨. Infelizmente, para eles.
A cachaça Xingó vai ter um segundo lançamento, e o cenário será a grandiosidade do canion de Xingó, em Canindé do São Francisco. Kaká Andrade, secretário municipal e segundo suplente de senador, ouvindo o anúncio feito por Laurinho, aprovava, lembrando: ¨Está aí o bom resultado da marca que o prefeito Orlandinho consolidou em todo o país ¨. Entre as centenas de pessoas que degustavam a Boa Luz e a Xingó, estava Eduardo Amorim, de quem Laurinho é primeiro suplente. Comedido ao falar, mais ainda no beber, o médico e senador, com aquela expressão dos conaisseurs, dizia: ¨excelente cachaça¨.
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