Amanhã, se um grupo armado se insurgir contra o presidente da Venezuela, Hugo Chavez, e quiser o apoio militar dos Estados Unidos, do bloco militar da OTAN, bastará fazer uma boa proposta. Que tal 2 milhões de barris de petróleo para dividir com todos, durante algo assim como 5, ou mesmo 10 anos?
Aparecerão os argumentos de sempre para justificar a agressão. Hugo Chavez é uma ameaça à estabilidade do continente, é um ditador que destrói as instituições democráticas da Venezuela, os seus adversários são pessoas comprometidas com a liberdade, os direitos humanos, é preciso então apoiá-los. A Inglaterra, apequenada com Tony Blair, agora com David Cameron, logo se apressará em seguir os Estados Unidos, Sarkozy, querendo exibir força e prestigio não hesitará em ir à guerra. A Itália do capo Berlusconi, semifalida, nem precisará pensar duas vezes.
Ao Caribe chegarão os porta-aviões, os submarinos nucleares. Deles sairão os jatos , os misseis, as aeronaves não tripuladas. As instalações militares de Chavez serão arrasadas, os rebelados receberão apoio tático para o desimpedido avanço até Caracas. Preferencialmente, Chavez será morto, um descontrolado ato de vingança dos rebeldes se traduzirá no linchamento que não pôde ser evitado. A Venezuela estará pronta para retomar o caminho da democracia, ou seja, retornará ao poder a velha carcomida e corrupta elite dominante. Por séculos, os privilegiados donos da Venezuela enriqueceram com os lucros do petróleo que dividiam com as grandes corporações multinacionais, enquanto multiplicava-se uma massa esquecida de miseráveis.
Depois de tudo os ¨libertadores ¨ apresentarão a conta, e ela terá de ser paga.
O mesmo poderá acontecer em Cuba. Como a ilha não tem petróleo, os rebeldes terão de encontrar uma maneira de pagar aos mercenários o custo da guerra. Serão escancaradas as fronteiras do país para a entrada dos antigos proxenetas e crupiês que comandavam o bom negócio do lenocínio, da droga e da jogatina nos lupanares de Havana. E tudo acontecerá em meio às grandes comemorações pela volta da liberdade e da democracia. Os cubanos deixarão de lado as esperanças nascidas com uma revolução que simplesmente envelheceu, tornou-se até caquética, e assistirão o seu país voltar a ser um enorme cabaré, igualzinho ao que era nos tempos de outro ditador, o sargento ladrão Fulgêncio Batista.
Este é o novo cenário cínico- geopolítico do mundo, depois que os países militarmente poderosos se transformaram em mercenários a soldo de quem eles mesmo identificarem como o lado bom em choque contra a banda podre do mal.
Tudo começou na Líbia onde estiveram os mercenários ajudando a liquidar o ditador, aliás covarde, como o outro do Iraque. Os dois se deixaram prender como ratos fugitivos, com medo de acionar um gatilho e morrerem com algum resquício de dignidade. Mas o mundo árabe é demasiadamente complexo. Kadafi, o ditador linchado, será visto por uma boa parte da população como mártir. Os mercenários começarão a cobrar a salgada conta. Um parlamentar americano já fez rápidos cálculos iniciais e apresentou uma cifra superior a um bilhão de dólares. França, Inglaterra, Itália, até a quebrada Espanha, também irão querer o seu quinhão. A guerra não custará menos de vinte bilhões de dólares aos novos governantes. Depois do ritual de sangue, da dança festiva em torno de cadáveres, os líbios se verão diante da realidade, do custo da guerra a ser cobrado implacavelmente pelos seus ¨libertadores¨. Ai, aquilo poderá virar um outro Iraque.
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