domingo, 18 de setembro de 2011

OS OUTROS ¨11 DE SETEMBRO¨

Na  noite de 3 de março de 2003 o mundo esperava o começo de uma nova guerra. E ela aconteceu. Em tempo real, assistiu-se o bombardeio inclemente de uma cidade de seis milhões de habitantes. Na tela da televisão o espetáculo era fantástico. Clarões imensos subindo dos alvos espalhados por toda a extensão da grande metrópole. Acompanhado de um matraquear intenso  as balas  traçantes  da artilharia antiaérea subiam  erráticas,   buscando  no céu inexistentes alvos   . A sofisticada tecnologia bélica dos Estados Unidos surpreendia as defesas
iraquianas.  Não eram aviões que desfechavam a primeira onda dos ataques que se prolongariam até o amanhecer. Bagdad estava sendo atingida por mísseis.  Vinham de dois pontos diferentes,  disparados desde navios e submarinos nucleares americanos  concentrados no Mar Vermelho e no Golfo Pérsico.  Na sequencia, vieram os bombardeiros. De grande altura, despejavam suas bombas, estreavam uma delas,  especial, denominada  ¨bomba inteligente¨.  Guiada diretamente ao alvo,  serviria para perfurar e explodir no interior da rede de instalações militares de Saddam Hussein. Durante todo o tempo que durou o feroz bombardeio as luzes da grande cidade permaneceram acesas. Diante da supremacia tecnológica dos Estados Unidos, os iraquianos sabiam que de nada adiantava fazer um ¨black-out¨. E assim, o mundo que acompanhava o episódio em tempo real, assistiu tudo com nitidez absoluta,  aquele desenrolar do metódico, ordenado e sistemático  massacre,  transmitido  por uma rede de TV americana, a CNN. O correspondente da rede televisiva  fazia a narração do extermínio de uma cidade, da população de uma grande metrópole, como se estivesse a descrever uma emocionante partida de beisebol. Enumerava os objetivos que deveriam ser atingidos,  quase elogiava a precisão dos disparos, e explicava que as bombas e os mísseis choviam sobre alvos militares,  e evitavam, cuidadosamente,  atingir áreas civis. Quando os primeiros raios de sol desciam sobre a portentosa cidade da mesopotâmia,  na vasta planície fértil onde há três, quatro mil anos, surgiram as primeiras grandes civilizações, era possível  avaliar,  com maior precisão, o tamanho da catástrofe humana provocada pela maior potencia militar e econômica dos tempos modernos, um civilizadíssimo país, os Estados Unidos da América. As luzes já não estavam mais acesas, as centrais elétricas fumegavam em escombros. Incêndios  grassavam por toda a cidade, pontes, viadutos, estações ferroviárias, prédios, também escolas, hospitais, fábricas, estavam  reduzidos a montões de  destroços.
Nunca se fez um balanço preciso das perdas em vidas humanas causadas, apenas, naquela primeira noite de intenso bombardeio. Outros vieram, por dias seguidos. Depois, dizia-se  que haviam morridos três mil, cinco mil, quarenta mil. Nunca se soube ao certo, e dificilmente ainda se poderá saber. Completada a obra de destruição vinda do céu, vieram por terra as tropas de uma chamada coalizão formada por países que, aliados aos Estados Unidos, se esmeravam na tarefa de esmagar um povo. Era a segunda etapa da vingança depois do 11 de Setembro. O Afeganistão, onde estaria Bin Laden, começou a pagar o preço logo em outubro, apenas um mês depois. Em Bagdad , caiu a estátua  ridícula de um ditador estúpido. No convés de um porta-aviões americano,   




 George W. Bush, então festejado genocida,   fazia  cinematográfica chegada.  Desembarcou de um caça-bombardeiro  para anunciar a vitória, a vingança consumada. Mas a vingança contra quem? Saddam Hussein não tinha nada a ver com  a destruição das torres do World Trade Center. O  Iraque,  com tanto petróleo não passaria despercebido, não o deixariam em paz as ávidas quadrilhas petroleiras  às quais serviam seus cães de guerra, Bush, e seu vice Dick Chenney.
 Consumou-se um   outro 11 de Setembro. Este, nunca será comemorado. A mídia não o enxerga, seus mortos são anônimos, não irão merecer placas, nunca serão lembrados em memoriais.
 Esmagado o Iraque,  os saqueadores que chegaram prenderam um acovardado Saddam  Hussein enfiado num buraco, fedido  e cheio de piolhos. Eram seus escassos pertences: um dentifrício, um  pente,  e uma escova de dentes.
Noham Chomsky escreveria depois: ¨ Ali  estavam as armas de destruição em massa que ameaçavam o mundo.¨

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