domingo, 18 de setembro de 2011

CABRAL, MÁRIO CARTAS ABERTAS

Vem, outra vez,  Marcelo Ribeiro a publicar mais um livro. Marcelo é um escritor que não apenas publica mais um livro.  Pelos caminhos das letras que tem palmilhado, ele se foi tornando um mestre. Começou com poemas, fez um depoimento político, quase um libelo como ex-deputado  que  cedo desencantou-se.   Poderá merecer pertinentes contestações, mas, ninguém retirará dele a autoridade moral que tem para produzir critica, até para se permitir ser contundente.
Mas essa é uma página definitivamente virada. O médico que fez uma breve opção pela política, deu consistência a uma   outra vocação, esta, que o acompanhará por toda a vida: a do fascinante ofício do fazer literário. Nisso, ele encontra a prazerosa alternativa de plena realização existencial. Ganham os leitores, cresce a tradição cultural de Sergipe que anda a tentar reerguer-se. O novo livro de Marcelo Ribeiro, Cabral, Mário Cartas Abertas, é algo que ele doa para essa obra de agiornamento sergipano.
Interessante constatar que a admiração  por Mário Cabral, o imenso afeto que uniu duas famílias, a de Cabral bem mais idoso, a dos Ribeiro, ai representada por Marcelo e seu irmão Wagner , o helênico poeta, nasceu a partir de um desencontro, de uma indignação.   Jose da Silva Ribeiro Filho,  pai de Marcelo,  publicou uma ácida carta Aberta a Mário Cabral, protestando contra o que entendeu como ofensa a seu pai, honrado comerciante, que construíra  vistoso prédio, depois transformado em lupanar imenso, e ao qual o aracajuano sarcástico, logo passou a chamar de Vaticano. A ofensa estava contida no livro Roteiro de Aracaju,  ou¨ livrinho¨,  como o classificou um magoado Silva Ribeiro. O leitor encontrará então, no livro de Marcelo sobre Mário,  o desenrolar de uma exemplar recomposição, de atávica  e constrangedora desavença numa amizade plena de convergências,  culturais, humanas,  uma visão de mundo  forjada ao longo do tempo na parceria de dois irmãos ainda jovens, e um  velho, com seus tormentos, suas ânsias, decepções, sonhos, e muito mais esperanças.  Tudo isso se corporifica em cartas, naquele esquecido hábito epistolar, que resiste ainda ao celular e à Internet, cartas, trocadas entre Mário e Marcelo. O livro tem essa beleza, por não deixar de ser poesia, enquanto fluem depoimentos, excertos biográficos,
 opiniões,   história, estórias. E, sobretudo,  vida.

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