domingo, 21 de agosto de 2011

A VEZ DOS BACANAS


Não são mais os pobres, os desolados países do terceiro mundo, que ameaçam o sossego da ordem mundial. A desordem vem lá de cima. Instalou-se, primeiro, na poderosa locomotiva do capitalismo que, há muito tempo deixou de alimentar suas fornalhas usando o próprio combustível e passou a rodar à custa  de artifícios que não resistem ao tempo. E ai descarrilou. Os Estados Unidos não vão agora, imediatamente à falência, mas o modelo do ¨american   way of life ¨ terá de ser  o  mais rápido possível abandonado e substituído por algo mais racional, menos dissipador de recursos.  Vai ser difícil, não será tarefa para Obama, mas se a direita de dentes arreganhados, se as ideias  esdrúxulas  da turma do ¨tea  party¨ seduzirem o  eleitorado e um novo Bush chegar à  Casa Branca, o colapso será mais rápido. Para sair do atoleiro onde se meteram, os americanos terão de se conformar em voltar para dentro das suas fronteiras, dando fim aos dispendiosos  tentáculos de poder bélico espalhados pelo mundo,  que lhes consomem trilhões. Terão de  rever toda a visão geopolítica de império, e acomodar-se dentro das próprias possibilidades, ou seja, arquivar o antiga ambição de hegemonia mundial. A debacle americana não resulta apenas do descontrole financeiro, das guerras de Bush, há também claros sinais de  final de uma era, e isso pode ser superficialmente constatado por quem andar pelas periferias das grandes metrópoles, Chicago, Detroit, Boston, e  deparar-se ali, com tantas desoladoras imagens de decadência e abandono, pobreza e desesperança ,  um resumo trágico da paralisia das instituições e  da desagregação social. Padecendo dessa enfermidade que tem amplo potencial para contaminar o mundo, os americanos  deveriam, em primeiro lugar, perder a costumeira empáfia.  Acabou-se o tempo em que por aqui chegavam banqueiros nos dando ordens, mandando que arrumássemos as coisas e fizéssemos o dever de casa. Chegaram a assumir o controle dos nossos cofres determinando em que poderíamos gastar, e quanto teríamos de reservar para garantir-lhes o recebimento líquido e certo dos seus créditos. Alguns desses empavonados fiscais das nossas debilitadas finanças falavam grosso, ignoravam as boas maneiras do trato diplomático e nos passavam duras e ameaçadoras reprimendas. Hoje, o Brasil preocupa-se com a segurança dos mais de duzentos bilhões em títulos que comprou  do governo americano, acreditando na decantada solidez da economia mais poderosa do mundo, que , descobre-se agora, sustenta-se artificialmente, endividando-se , esticando até onde resistir a adelgaçada corda de uma confiança que se  vai dissipando.
Um bilionário americano Warren Buffett, escreveu semana passada  revelador artigo  sob o título, Parem de Paparicar os Ricos. Ele mostra a calamidade fiscal  de um país onde bilionários quase não pagam impostos, e  dá um  esclarecedor exemplo: ele, um dos homens mais ricos do mundo  paga algo em torno de dezessete por cento do que ganha, já os trabalhadores que limpam  o seu  escritório, recolhem para o governo de trinta a quarenta  por cento dos seus salários que agora estão a encolher.
Obama não vai conseguir acabar com os privilégios concedidos por Bush.
Na Europa, no Japão, o tempo das vacas gordas definitivamente acabou.   Não é ainda o fim do mundo, mas a chamada sociedade afluente ficará como coisa do passado se não forem encontradas fórmulas para estabelecer um controle eficaz sobre a especulação financeira global, sobre a busca desenfreada do lucro, a lógica perversa de que só o crescimento econômico acelerado pode proporcionar bem estar social, enquanto o meio ambiente paga o preço e os recursos naturais se esgotam.  Essa maneira de criar riquezas poderá ainda revelar dinamismo em países como o Brasil, China, India,   Russia,  Canadá, Austrália, e  alguns  outros que começaram tardiamente a  revolução industrial , aquela que a Inglaterra inaugurou na segunda metade do  século dezoito. Com que dinheiro a Inglaterra com seus guetos  em chamas, poderá continuar   exibindo o poderio de uma  marinha de guerra no qual sustentou-se   enquanto dominou o mundo até  o final da Segunda  Grande Guerra em 1945 ?
Como Portugal, que era tão pobre  mesmo quando saqueava suas ricas colônias, apenas vendendo vinho, azeite e cortiça, começou a achar-se muito rico, até para fazer gastos  exagerados?
Perguntas assim podem ser transpostas para a Grécia, a Espanha, a Itália, também afundadas nas dívidas  que a irresponsabilidade mafiosa de um sistema financeiro devastador lhes permitiu que fizessem.
Chegou a hora dos bacanas, e eles, sem descobrirem soluções, vão também muito provavelmente nos arrastar no turbilhão da crise bem previsível que acabaram por fazer explodir.

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