Noite de quarta-feira, 22 de junho, véspera de feriado grande, supermercados entupidos.Nessa euforia de crescimento econômico e elevação da renda que estamos vivendo, as pessoas compram mais, outras começam a comprar, e assim, o número de lojas das grandes redes de supermercados em Aracaju parece agora insuficiente para corresponder à demanda. Realidade boa, merecendo ser festejada, todavia sem esquecer dos cuidados para que não haja excesso consumista, desrespeito aos sinais de alerta do endividamento elevado, e não se perca o foco na manutenção da sustentabilidade macro-econômica , este último item, responsabilidade exclusiva do governo.
Nas alargadas instalações da loja do Extra, na Tancredo Neves, havia muita gente comprando, mas, felizmente, em número bem menor do que nos outros supermercados. Felizmente, dissemos, não porque assim haveria menos desconforto. Exatamente ao contrário: Apesar das filas menores a demora no Extra era revoltante.
Isso acontecia porque o Extra, do Grupo Pão de Açúcar, do mega-empresário Abílio Diniz, decidiu, até agora impunemente, descumprir a lei. Determina a Justiça do Trabalho que em cada registradora, além de quem opera a máquina, esteja disponível um empacotador para acondicionar a mercadoria. O Extra se recusa a contratar empacotadores. Assim, aumenta os seus lucros aleijando os caixas, todos fazendo um esforço sobre-humano, um contorcionismo capaz de arrebentar os mais resistentes músculos. Sobrecarregados pelas duplas funções que são obrigados a desempenhar, ainda tentam, sem êxito, evidentemente, fazer tudo com rapidez. Precisando concentração para faturar corretamente as mercadorias, aquela manobra continuada à frente do dispositivo eletrônico que lê e interpreta o código de barras, ou, consultando extensa lista daqueles produtos nos quais não pode ser pregada a etiqueta codificada, os caixas , ao mesmo tempo, acondicionam as compras em sacolas, retirando-as da esteira rolante que, alem de tudo, vez por outra está quebrada Há muitos trabalhadores fazendo tratamento para aliviar as dores e recuperar lesões causadas pelo esforço repetitivo, outros, em pior situação, incapacitados fisicamente, estão encostados na previdência. O Extra de Abílio Diniz, que apregoa a modernidade da sua visão empresarial, aqui em Aracaju, está transformado numa engrenagem perversa a provocar graves seqüelas nos seus trabalhadores, submetidos a uma rotina de trabalho que afronta a dignidade humana. Abílio Diniz, neste século 21, assemelha-se a qualquer daqueles senhores de escravos que transformavam seres humanos em bestas de carga, e assim lucravam, , ficavam muito ricos. O regime escravocrata alimentou o capitalismo mundial, até quando, empresários mais esclarecidos, descobriram que assalariar pessoas, transformando-as em mão de obra livre, ou supostamente livre, seria bem mais proveitoso. Isso se fez muito mais em função da lógica do mercado do que pela sensibilidade aos gritos indignados dos abolicionistas, defendendo argumentos morais.
O que o Extra faz com seus clientes é um desrespeito que pode ser facilmente corrigido: basta que lá não entrem mais. Já aquilo que o Extra comete contra trabalhadores, é crime, crime que clama por merecer a atenção do Ministério Público do Trabalho, do Sindicato dos Comerciários, que não fiscaliza, não denuncia, não exige o cumprimento da lei, e se o faz, não age com disposição para enfrentar uma empresa que reincide no desrespeito às leis.
Tente o Sindicato dos Comerciários ouvir o que dirão os trabalhadores do Extra, se receberem a garantia do sigilo que os protegerá contra a demissão.
Procure a representação do Ministério Público em Sergipe cumprir com mais eficiência as suas funções, assim contribuindo para que o Ministro Carlos Luppi anuncie, com o habitual entusiasmo, o número de empregos criados com carteira assinada, mas, tendo tranqüilidade suficiente para poder acrescentar à sua fala: ” Empregos criados, necessariamente, com o indispensável respeito aos direitos do trabalhador.”
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