sábado, 11 de junho de 2011

A PONTE E A ENERGIA NUCLEAR


O ex-governador João Alves tem uma especial habilidade para sobreviver. Mantêm-se na mídia,   é um eficaz oposicionista, e não tem qualquer receio de cometer excessos, exagerando algumas vezes na dose daquilo o que afirma. Também era assim em relação às suas ações quando no Governo. Mas, dessa forma, ele consegue manter uma permanente liderança sobre boa parcela dos sergipanos, e sabe habilidosamente crescer ao capitalizar ao seu favor as insatisfações. Mês passado ele voltou a tocar na mesma tecla das perseguições que estaria a sofrer,  e fez uma denuncia um tanto despropositada.  Disse que a grande ponte da Barra,  marco do seu seu terceiro governo, poderia cair a qualquer momento, porque,  propositalmente, o governo não lhe estava dando a manutenção necessária.  E, caindo a ponte, o pesado ônus da queda desabaria eleitoralmente sobre ele, que a construiu.  Foi de certa forma um absurdo, porque a ponte, da mesma forma que a Orla da Atalaia, outra obra de João Alves, dessa vez no segundo governo, são cuidadosamente mantidas e conservadas.  O custo de manutenção da ponte por sinal não é pequeno, porque  o seu vão central se sustenta vistosamente pendurado a cabos, os estais, que exigem redobrados cuidados.  Abandonar aquelas obras seria, antes de mais nada, um crime contra o patrimônio público, e o governo de Déda se tem caracterizado  pelo zelo com esse patrimônio,  objeto de muitas obras de restauração. E mesmo que a ponte viesse a ser agora completamente abandonada, tratando-se de uma obra bem construída, ela só viria a desabar, no mínimo, daqui a uns vinte anos. Mas, quem disse que até lá João ainda não estará disputando o voto dos sergipanos ?
 Então, João Alves mudou rapidamente de assunto, e concentrou-se num tema que certamente o colocará no centro dos debates.  Isso é,  exatamente o que ele deseja.  Fez oportunamente publicar um conciso e bem fundamentado artigo na Folha de S. Paulo abordando a questão das usinas nucleares projetadas aqui para o nordeste. Depois da catástrofe de Fukushima, fica difícil encontrar pelo mundo quem ainda tenha a coragem de defender publicamente a expansão das centrais atômicas. A Alemanha já tem um plano para fechar as suas nos próximos quinze anos, mas o Brasil está a construir Angra-3, e poderá  não abandonar o projeto das três centrais  no nordeste. Se o governo insistir nesse projeto, João Alves já tem  lugar assegurado no debate.  Ficará, por certo, em destacada posição, e ainda mais exercitando os argumentos sintonizados com a grande maioria da opinião pública, apavorada diante do desastre japonês.  Nada melhor para quem se  dispõe,  levado pelos números das atuais pesquisas, a disputar no ano que vem a Prefeitura de Aracaju, tentando reocupar a cadeira onde começou sua trajetória política, daquela vez sem voto, nomeado Prefeito da capital pelo governador Jose Rolemberg Leite em 1975.  Trinta e seis anos depois,  levado pelas circunstâncias, o engenheiro João Alves quer de novo alisar a cadeira onde, pela primeira vez, sentiu o gosto do poder. E aquele gosto o contaminou pela vida a fora.

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