sábado, 18 de junho de 2011

OS INCENTIVOS E O NORDESTE


 Não foi fácil começar a industrialização do nordeste e manter uma política de incentivos fiscais por cima de tantas resistências e incompreensões, que não eram apenas de outras regiões brasileiras, mas, estavam aqui mesmo, tramando no atraso dos latifúndios e do coronelismo contra a  experiência nova que  trazia a modernidade para o nordeste das secas, dos retirantes e dos paus de arara. As investidas contra a SUDENE foram muitas. Um senador paraibano Argemiro Figueiredo, apresentou em 1962, um projeto que praticamente acabava a SUDENE. Então mobilizou-se o nordeste, os seus governadores, tendo á frente o de Pernambuico, Cid Sampaio, e o prefeito do Recife Miguel Arrais.  Num dos maiores comícios já realizados na capital pernambucana,  dezenas de milhares de pessoas reuniram-se na Praça do Diário. E coisa estranha, os representantes de Sergipe que lá estavam, estudantes e operários, assistiram a cavalaria  da Polícia Militar investir contra o povo que ouvia os oradores, entre eles o próprio governador Cid Sampaio.  No palanque   debaixo  dos gritos de protesto de Arrais, Cid Sampaio dava ordens a um  coronel da PM que o acompanhava, para que fosse deter os cavalarianos que espancavam o povo.
 Naquela época o desenvolvimento do nordeste era assunto que galvanizava as pessoas, que a todos reunia num mesmo sentimento forte, sobre a necessidade de  ser vencido o subdesenvolvimento. Cinquenta anos transcorridos,  parece existir agora um distanciamento da sociedade em relação a temas  políticos e econômicos  essenciais para que o desenvolvimento não seja ameaçado. Agora mesmo, o STF acaba de tomar uma medida que poderá ter efeitos desastrosos sobre o nordeste, e todo o esforço pela industrialização  seria comprometido. Os ministros do STF deliberaram sobre questões geralmente apresentadas por sindicatos paulistas contestando a legitimidade dos incentivos fiscais. O STF entendeu que eles na forma como agora são feitos, configurando uma “guerra fiscal, ” ferem a Constituição. Além do governador Marcelo Déda,  que movimentou-se em busca de uma saída legal que garanta a manutenção dos incentivos, e do empresário Tácito de Faro Melo que escreveu um artigo de advertência publicado no Jornal da Cidade, ninguém mais se manifestou. A Federação das Indústrias permaneceu muda, como se isso não lhe dissesse respeito;  os sindicatos, tanto patronais como de trabalhadores nem se moveram, embora o fim dos incentivos, se consumado, a todos ameace com a falência e o desemprego. E nas emissoras de rádio, nesses bate-bocas matinais, fala-se, como sempre, sobre as intrigalhadas da política miúda.

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