sábado, 18 de junho de 2011

ESCONDER A HISTÓRIA É DESRESPEITO E COVARDIA


 Essa tentativa de ocultar da Nação a sua História, é um ato de covardia e um insulto aos brasileiros. Se a nossa própria memória como povo nos envergonha,  nos compromete e ameaça, então, o sensato não é ocultá-la, deixando que para sempre fique a pairar uma desconfiança sobre o que teríamos feito de tão ruim que não possa ser revelado. A Câmara dos Deputados aprovou a liberação de documentos oficiais com mais de meio século, mas o intelectual, escritor, imortal da Academia Brasileira de Letras Jose Sarney e o ex-presidente Collor que um dia valeu-se da frase: “O tempo é o senhor da razão”, resolveram mudar o texto do projeto de lei oriundo do  poder executivo, que estabelece prazos para que sejam tornados públicos documentos oficiais considerados secretos ou ultra-secretos. A presidente Dilma parece ter sido influenciada pelos argumentos dos dois senadores, e estaria concordando em manter inacessíveis eternamente alguns papeis julgados comprometedores, e que poderiam, se divulgados, atrapalhar as nossas relações com países vizinhos. Não há clareza sobre o que existiria nesses papeis, mas, sabe-se que guardam ações relacionadas à guerra do Paraguai e ao processo de consolidação das nossas fronteiras. Sobre eles não existem mais segredos, apenas duvidas em relação a alguns episódios.  O que aconteceu na Guerra do Paraguai já foi revelado em dezenas de livros publicados; o que  se fez na negociação de áreas conquistadas nas fronteiras, ou tomadas pelas armas, não é segredo para ninguém. O que resta, tão somente, é  conhecer como tudo isso está expresso em documentos oficiais.  Tratariam eles das escapadas dos nossos almirantes e generais para os cabarés e os cafés elegantes de Buenos Aires, enquanto as tropas eram dizimadas pela malária e pela fome no chaco paraguaio insalubre ?  Confirmariam as versões que circulam de boca em boca na Bolívia, sobre a troca do Acre por um cavalo dado como miserável propina  brasileira a um comandante de tropas bolivianas ? Se  estamos a venerar até hoje personagens históricas de caráter e fibra moral duvidosos, então, que a verdade revelada nos sirva para  situá-los exatamente como seres humanos, inevitavelmente falíveis. Se cometemos atrocidades,  pecamos por covardia ou pusilanimidade, então, que de tudo isso a História devassada nos dê lições claras e úteis. Quem desconhece o passado e com ele não aprende, estará condenado a repetir os mesmos erros, e  se faz indigno do presente e mais ainda do futuro
Além de tudo, hoje não é mais possível garantir-se o segredo nos arquivos, por mais protegidos que sejam. Está ai o Weekleaks a desvendar tudo, a penetrar nos espaços mais ocultos e mais bem guardados do mundo, e tornar público o que lá existe carimbado como top-secret. Já foram devassados o Pentágono, Bancos Centrais,  códigos militares e financeiros, e a vida íntima de presidentes,  ministros,  reis rainhas e bilionários. Nada escapa  à expertisse dos ratos virtuais. Se esses nossos papeis que “”  ameaçariam as boas relações com países vizinhos” estiverem digitalizados, brevemente estarão expostos na Internet, basta que Julian Assange tome conhecimento do que acontece agora no Brasil. Mas, se ainda estiverem sob a forma de papel velho, com a segurança dos nossos arquivos, logo , ratos e traças  acabarão de destruí-los. Teremos  então para sempre uma herança de dúvidas nunca dissipadas.
Essa covarde atitude de esconder o passado enoja qualquer brasileiro, ainda mais quando assiste o presidente do Congresso a tentar justificá-la.
Não há no mundo nenhum  país que proceda dessa forma. Os Estados Unidos que se envolvem em  tantas guerras, que têm um histórico de atrocidades  cometidas, guardam por tempo delimitado seus documentos,  depois, acreditando mesmo que o tempo é o senhor da razão, os levam ao conhecimento público.
Na mesma semana em que conquistamos no mundo financeiro um ítem onde superamos os Estados Unidos,  e o ministro Mantega comemorou o feito,  decidia-se no Senado a ocultação eterna da nossa História. Se por um lado nos aproximávamos do primeiro mundo, por outro, caminhávamos em direção  à grosseira estupidez dos  fundamentalistas Talibãns.
 Devemos reagir contra isso, e uma forma efetiva de demonstrar inconformismo e revolta é enviando  mensagens e mais mensagens aos senadores, a Sarney, a Collor. Uma alerta da cidadania ferida, para que eles não consumem a barbaridade.

Um comentário:

  1. Luíz, Acho que o fato de que vivemos em um país pretensamente republicano leva além do nojo de quem compartilha de sua opinião válida e muitíssimo interessante: Um questionamento, em minha modesta opinião, é por que não vemos o Conselho da República participar ativamente de decisões desse calibre. Será que há uma limitação de seu funcionamento pela CF/88? Ao meu ver, isso não seria um problema para os nobres parlamentares, pois a Carta Maior tem tantas emendas que não sei se faço uma assinatura semanal, para não perder as mudanças ou a uso como roupa junina, já que retalho não falta. Desabafo feito, acho que o Conselho da República deveria ter um papel fundamental em decisões como essa. A Presidenta não pode, jamais, se fiar em - ou usar como escudo para suas própias ideias - opiniões isoladas, sem entrar no mérito sobre a autonomia moral dos opinadores. Acho que o caso ao qual você se refere seria um bom momento para finalmente o Conselho da República realmente aconselhar e ter um papel fundamental na solidificação de nossa democracia. Afinal de contas, ele foi criado para ser um "órgão superior de consulta", e seus participantes são tão heterogêneos quanto o carnaval de Olinda. Na falta de uma discussão mais ampla, concordo com a classificação tão contestada em seu artigo. Há documentos, sem dúvida, que jamais devem ser divulgados, e outros mais que precisam de um lapso temporal de algumas gerações para que sejam do conhecimento público. O que falta é um órgão que os classifiquem de acordo com o interesse da república. E isso, atualmente, só o referido Conselho tem potencial de fazer.

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