quinta-feira, 5 de maio de 2011

OS SAVEIROS DA COTINGUIBA


Saveiros eram embarcações de madeirame forte. Tinham perfeito formato hidrodinamico , sendo impulsionados pelo vento que enchia suas duas velas. A principal, num longo mastro, era erguida e baixada correndo pelas adriças, ao invés de suspendidas inteiras com em outras embarcações do mesmo porte. O saveiro usualmente era tripulado por três marinheiros. Um ficava ao leme, outro cuidava das velas, erguia e baixava as bolinas laterais, e um terceiro ajudava nas manobras de atracar e desatracar empunhando uma longa vara que movimentava o saveiro tocando ao fundo, enquanto as velas não se enchiam. Saveiros em grande quantidade navegavam pelo rio Sergipe, viajavam ao longo da região da Cotinguiba indo e voltando com cargas quase sempre destinadas ao Mercado de Aracaju. Transportavam alem de cargas, animais e passageiros, ligando Aracaju à Barra dos Coqueiros, Santo Amaro, Laranjeiras, Maruim, e chegavam até Riachuelo, onde o Sergipe se estreita e torna-se bem raso. Os saveiros enchiam-se de caixas de açucar durante a moagem dos engenhos da Cotinguiba e vinham trazê-las aos navios à vela, depois aos vapores que ficavam ancorados nas proximidades de Santo Amaro. Sem o assoreamento que hoje impede a navegação, os saveiros eram, junto com o trem de ferro, os mais utilizados meios de transporte. Durante a procissão de Ano Novo dezenas de saveiros formavam o séquito fluvial, conduzindo a imagem do cáis de Aracaju até as proximidades da foz, a depender das condições do mar. Saveiros havia que transpunham, audazes, a barra sempre difícil do Sergipe, e aventuravam-se pelo oceano apesar de serem embarcações sem coberta. Iam à Estancia, Pirambú, avançavam pelo São Francisco, juntando-se às canoas de tôlda, numerosas, de velas laterais , paralelas, ideais para as condições do vento sempre de popa, enquanto subiam o grande rio. Talvez, depois do Recôncavo baiano fosse o rio Sergipe onde mais numerosos singravam os saveiros. Mas essas embarcações desapareceram completamente. Segundo o velejador Jorge Luiz Carvalho, que andou a procurá-las ao longo da Cotinguiba, os saveiros aqui não mais existem. Deles não resta um só exemplar ancorado em algum local, ou abandonado sobre as areias de uma praia remota. Ninguem se deu ao trabalho de cuidar da preservação de um só dos saveiros da Cotinguiba.
Melhor sorte tiveram, no baixo São Francisco, as canoas de tôlda. O Frei Enoque, prefeito de Poço Redondo, faz algum tempo, empenhou-se em salvar a última delas que quase já se desfazia pelo tempo de abandono. O ex-prefeito de Piranhas e hoje deputado estadual Ignácio de Loyola, que é por sinal fiel torcedor do Confiança desde os seus tempos de estudante em Aracaju – e é preciso mesmo muita fidelidade para torcer por esses capengantes clubes sergipanos – pois bem, Ignácio recuperou a canoa de tôlda que restava. Hoje ela até transporta turistas que visitam Piranhas. Nos dias festivos de fim de ano, a canoa novinha em folha, fica ancorada em frente à cidade presépio com as velas fulgurantemente iluminadas em várias cores.
Agora, em defesa da preservação dos saveiros do recôncavo, sai o empresário e velejador baiano-sergipano,Sempre engajado nas boas causas, Julival Góes. Ele envia a amigos o e-mail: “A Revista Horizonte Geográfico n 134 chegando às bancas esta semana com a capa, Agua Vai Faltar, presta homenagem ao nosso saveiro de vela de içar, na figura do Sombra de Lua, em reconhecimento ao seu valor histórico e cultural representado pelo tombamento de um exemplar pelo IPHAN. O ato beneficia todos os saveiros, uma vez que eles construíram, juntos, esta história de lutas, glórias e depois ostracismo, mas agora, sendo resgatados e colocados em seus devidos lugares no cenário náutico da Bahia.
Axé, com diria nosso querido Malaca. “
Por aqui, pelas águas sergipanas, onde os saveiros foram tão numerosos, já não se pode encontrar um só remanescente da outrora grande flotilha. Mas fica o nosso desafio e convite para quem se dispuser a procurá-los, e, achando algum ainda em condições de ser recuperado, quem sabe, até se poderia fazer uma campanha para que a restauração acontecesse.



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