quinta-feira, 5 de maio de 2011

JOÃO ALVES QUER VOAR COMO TUCANO


João Alves saiu temporariamente da cena política. Deixou o palco e acomodou-se no proscenio a espera de tempos mais favoráveis. A mudez é estratégica, ou, como diz o provérbio: “ É tempo de murici, cada um cuide de si “. E João está cuidando dele. Por aqui, acredita que já tem a força eleitoral necessária para voltar a enfrentar uma eleição quase certamente a de prefeito em 2012. E cuidar dele mesmo, agora, entenda-se, é encontrar bons caminhos que lhe facilitem a caminhada de retorno ao poder, desvios alternativos que o distanciem desse processo de desmonte do DEM, que parece irreversível a partir do instante em que Bornhausen deixou o partido que ajudou a criar, e do qual se tornou o porta-voz acreditado da sua ala mais ainda à direita. A saída de Bornhausen e a debandada catarinense são episódios emblemáticos. Agora, só faltariam Marcos Maciel, ACM Neto, Ronaldo Caiado seguindo o mesmo caminho daquele Salazar catarinense, para que se identifique o instante derradeiro em que alguém terá de apagar a luz. João não quer desempenhar esse papel sem nenhuma glória. Esperar até o fim, pressionar o botão e deixar que as sombras recubram os restos certamente mumificados do antigo pêfêlê. Ele, e de resto todos os remanescentes hoje pefelistas ou demistas, daquela ARENA que, segundo Francelino Pereira era o “maior partido do ocidente” já não alimentam mais qualquer dúvida sobre o final inglório do moribundo DEM. João Alves todavia não quer participar da cerimônia derradeira, as exéquias de um partido em fase terminal. Também não se dispõe a entoar o canto doloroso das carpideiras. Por isso, há muito tempo já começou a mover-se em outras direções, e está inteiramente absorvido pelo ritual da emplumação, esperando brevemente ensaiar o vôo dos tucanos.
Quando a cúpula do PSDB imiscuiu-se numa simples e rotineira eleição para escolha do novo dirigente partidário em Sergipe, frontalmente atropelando Albano, era porque João a todos convencera que ele é, na oposição, o único capaz de tirar o PSDB da letargia onde parece mergulhar sem qualquer chance de recuperação, exatamente porque lhe falta uma identidade, uma marca qualquer que o defina como um partido capaz de traçar metas, ter objetivos e poder alcançá-los. A retórica de João e dos seus liderados, entre eles o deputado Mendonça Prado e principalmente o ex-deputado Jose Carlos Machado, não poderia deixar de causar efeitos no momento exato em que o tucanato nacional também é atingido pela síndrome de debandada que assola o aliado DEM. Albano não parece muito preocupado com o que está acontecendo, tanto assim, que exatamente hoje, deve estar com um grupo de amigos reunido em um movimentado jantar no La Coupole, em Paris, antigo reduto de um grupo muito especial de freqüentadores da rive-gauche, formado por artistas, intelectuais, políticos, escritores. Lá festejando o aniversário de Thais Bezerra, a crise no PSDB, o esfacelamento do DEM, para ele certamente serão encarados com a mesma singularidade com que o francês costumava classificar tudo o que acontecia depois do Equador, ou seja: À La bàs. Lá embaixo, distante, irrelevante.
João, ao contrário, político ferrenhamente político, faz disso uma questão de vida ou morte, de iluminação ou eclipse. A João caberá quase certamente a tarefa desafiadora de dar consistência oposicionista e dimensão física ao PSDB. Não será fácil, mas ele entende que sua performance eleitoral andando quase sozinho, lhe dará fôlego para uma tarefa que não é difícil apenas em Sergipe, mas, já se torna duríssima em antigos redutos do PSDB, como São Paulo, onde o prefeito Gilberto Kassab, criatura saída do complicado tacho das alquimias de Jose Serra, está a alvoroçar o bando até então posto em sossego do tucanato. João Alves será certamente o novo líder tucano, e com ele o partido agora exclusivamente formado por um pequeno grupo, inteiramente fiel a Albano, tomará outra forma, vai ter a feição do pêfêlê. Ganhará a adesão imediata de Jose Carlos Machado, poderá atrair um ou dois prefeitos e até ganhar uma senadora, Maria do Carmo, e um deputado federal, Mendonça Prado, caso, desabrigados com uma possível extinção do DEM , se vejam obrigados a procurar outra morada. E se houver a possível fusão, para os que têm mandato o transito poderá ser feito sem problemas. Enquanto isso, Albano poderá, certamente com a plena aquiescência de Déda, instalar-se no PSD. Se esse caminho que parece ser o preferido pela vereadora Mirian Ribeiro, por Valdoilson, e até Fabiano Oliveira, que afastou-se da política mas não deixa de dar opiniões, não for o escolhido, Albano terá a possibilidade de optar por uma das várias portas que diversos outros partidos lhe oferecem.
Tanto para João Alves como para Albano, surpreendentemente aos setenta, parece que se abre uma nova etapa na alongada vida política, onde os dois não mais irão conviver com cenários eleitolrais onde se abraçam e festejam como antigos aliados, ligados por sólidos laços de amizade, ou se engalfinham, como se fossem eternos desafetos.
Para a senadora Maria do Carmo, se isso acontecer, será um alívio, pois não precisará mais tanger e escorraçar Albano, naqueles momentos delicados e incertos em que o seu marido com ele tenta fazer alianças.

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