domingo, 13 de março de 2011

A ORFANDADE DO FRACASSO E A PATERNIDADE DO SUCESSO


O fracasso é absolutamente órfão. Ninguém o reivindica.
Quem escreveria alguma autobiografia para contar uma sucessão de desastres existenciais? Por mais  sentimento masoquista, por mais autoflagelação   que possa existir numa sombria personalidade, dificilmente alguém com essas características psicopatológicas se disporia a castigar-se narrando os seus fracassos, as suas decepções e incapacidades, numa biografia onde os erros fossem atribuídos exclusivamente a si mesmo. Há quem escreva autobiografias repletas de horrores, mas, quase sempre para justificar  os próprios insucessos ou crimes cometidos. As pessoas costumam ser complacentes consigo mesmas.
Nos dias finais do Terceiro Reich quando os escombros de Berlim já atulhavam o chão sobre o seu bunker, Adolf Hitler  demonstrava uma enorme comiseração com ele próprio, dizia-se injustiçado, traído pelos seus generais, pelo seu povo. A Alemanha  teria sido indigna do seu gênio condutor.

No Arco do Triunfo Napoleão colocou em destaque todas as suas vitórias. As derrotas foram omitidas.
 Faz parte da personalidade humana esse comportamento característico de  eximir-se dos erros, e ao mesmo tempo  de identificar-se com o sucesso.
Parece ser de Oscar Wilde a frase:  ¨A modéstia é a hipocrisia dos vaidosos ¨.
 Até  Sidartha Gautama, o Buda, quando abandonou o luxo dos seus palácios e mergulhou na pobreza absoluta, teria, segundo analistas rigorosos da alma humana,  sentido o gosto da vaidade na imundície das  vestes andrajosas que o recobriam.
Daí porque o insucesso não tem pai nem mãe, e  é sempre tarefa árdua dos historiadores identificar, na trajetória da humanidade, os responsáveis pelos grandes fracassos.  Já os sucessos, estes, estão a encher as páginas da História desde os tempos em que eram gravados com  caracteres cuneiformes.
  Sexta-feira, dia 11, os jornais de Aracaju publicaram um artigo de Eduardo Amorim intitulado: ¨Não importa a paternidade o que importa é a adoção ¨. Nele, o senador que é também medico e oncologista, faz uma sóbria e equilibrada análise sobre uma quase disputa política que se esboçou, a partir do instante em que, após destinar uma emenda coletiva de vinte milhões de reais para o projetado Hospital do Câncer de Sergipe,   iniciou, também, uma mobilização da sociedade em defesa da idéia aliás lançada pelo governador Marcelo Déda,  não só durante a campanha política, com os cuidados que ele sempre tem nessa circunstancia, como também,   durante uma audiência com o  Ministro da Saúde. E há toda uma seqüência de ações para viabilizar o projeto.
Apesar da distancia que nos separa da eleição estadual, há uma espécie de clima de campanha  flutuando pelo ar, e aí, as susceptibilidades  afloram com inimaginável facilidade.  Existe a generalizada idéia de que o senador Eduardo Amorim será candidato ao governo em 2014, e isso é uma decorrência natural do  número quase avassalador de votos que ele obteve em outubro do ano passado. Sem duvidas  ele deve estar  avaliando cuidadosamente  essa possibilidade, aquela chance raríssima na vida de um político, quando o cavalo do destino lhe passa selado à porta.  O problema é que, de certa forma,  essa circunstancia especialíssima lhe tolhe as ações, porque, qualquer atitude  dele passa a ser interpretada como antecipação da campanha, mas, como senador ele não poderia deixar de agir, pois assim estaria em  função talvez de uma estratégia política pessoal, traindo aos que nele votaram e dele esperam uma atuação oportuna e ágil no decorrer de todo o  mandato.

Como médico, ex-secretário da Saúde de Sergipe, e ainda tendo atravessado uma vivencia diária com o sofrimento dos pacientes  na condição de coordenador do setor de oncologia, Eduardo Amorim, agora senador, se deixasse passar a oportunidade de fazer alguma coisa tentando amenizar uma situação que é das mais graves, ( hoje são 4 mil novas vitimas de câncer em Sergipe por ano ) aí sim, ele estaria desmerecendo o seu mandato.
A saúde é uma área extremamente complexa,  tanto assim, que vem atravessando mandatos como  inarredável problema a ser vencido. Isso não significa que tenha havido incapacidade ou omissão dos governantes.  Todos, indistintamente,  procuraram agir, e todos deram alguma contribuição para reduzir o tamanho de um desafio que é enorme, e, por isso,   exige recursos nem sempre disponíveis.
Pela magnitude das dificuldades a vencer, não só em relação ao tratamento do câncer, mas,   da saúde pública de um modo geral, há uma necessidade imperiosa de entendimento,  sintonia, somação de esforços, não só dos que integram o poder público, mas, da sociedade civil, que deve, com a sua participação, alargar os horizontes da cidadania, sem os quais não existe uma democracia  eficiente.
Houve um estrategista militar que disse: ¨ A guerra é assunto demasiado complexo para ser tratado apenas pelos generais¨. Parodiemos Clawszevitz, dizendo: ¨A saúde é  problema demasiado complexo para ser tratado apenas pelos políticos, façamos com que nele toda a sociedade se envolva¨.

Nenhum comentário:

Postar um comentário