sábado, 19 de março de 2011

O JAPÃO EM 2011, ARACAJU EM 1958

Aquelas cenas ocorrem no Japão sofisticadamente tecnológico, prodígio de eficiência, modelo de organização, ou estariam acontecendo mesmo na paupérrima e atrasada Guatemala? As cenas se sucedem nas televisões mostrando o bate cabeças dos japoneses na tentativa de esfriar o reator da usina nuclear de Fukushima, que , fora de controle, aquece, ameaça derreter deixando escapar uma quantidade de radioatividade superior à que foi gerada pelas bombas que destruíram Hiroshima e Nagasaki. Para desaquecer uma enorme estrutura que necessitaria de centenas de toneladas de água, os japoneses lidam com alguns caminhões e dois helicópteros, que lançam, erraticamente, em espaço de mais de meia hora, menos de oito toneladas de água.
A usina nuclear destroçada pela conjugação do terrível terremoto com a onda arrasadora que veio depois, o tsunami, fica bem próxima ao mar. Fica-se a imaginar se não seria possível instalarem-se bombas e um improvisado mangueirão para fazer chover permanentemente água do mar sobre o infernal caldeirão. Não haveria um maior número de caminhões, de helicópteros? O Japão tão rico, até ontem segunda potencia econômica do planeta, seria assim tão deficiente em meios. É obvio que os sistemas de transporte foram afetados pesadamente pela catástrofe natural, mas, além do sistema de energia externa que poderia ser acionado com a usina em colapso, havia ainda o conjunto de geradores a diesel que foram cobertos pela onda, e essa possibilidade deveria ser prevista num país que é palco quase diário de tremores leves e sempre se está à espera do pior. Ninguém previu que os sistemas fossem anulados por um grande terremoto e tsunami, e algo fosse preparado para essa circunstancia ?
Por aqui, em Aracaju, não aconteceu nada parecido com a tragédia do Japão. Houve um incêndio, e na tentativa de apagá-lo, aconteceram episódios que lembram, de forma grotesca, evidentemente na nossa modestíssima escala, a trapalhada agora sucedendo no Japão.
Naquele ano de 58, por volta do meio dia, começou um incêndio no armazém de secos e molhados pertencente a Pedro Paes Mendonça, pai de João Carlos Paes Mendonça, hoje líder de um império econômico, o grupo JCPM. Quando o fogo começou, ( no armazém havia munições, explosivos, produtos altamente inflamáveis) o então jovem João Carlos, que trabalhava com o pai, buscou o socorro do Corpo de Bombeiros, que na época era municipal, pertencia à Prefeitura de Aracaju. Havia um só caminhão, mas a bomba estava quebrada. Os bombeiros chegaram , mas sem água. No porto de Aracaju, que era em frente à rua de laranjeiras na avenida Rio Branco, havia um navio ancorado, o Comandante Capela. O navio possuía bombas e tentou-se puxar uma mangueira até a avenida Otoniel Dória, bem junto ao mercado, onde ficava o armazém em chamas. As mangueiras eram curtas, tentaram emendá-las com aquelas secas, dos Bombeiros, o Capela estava com os fogos apagados e não poderia deslocar-se imediatamente, subindo, rio acima, algumas centenas de metros para ficar em frente ao local do fogo. O engenheiro João Aragão, que era o chefe do Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis, o DNPVN, autorizou a retirada de três bombas antigas que estavam no almoxarifado ao lado do Iate Clube onde hoje fica o restaurante japonês New Hakata.Mas os telefones não funcionavam, a autorização por escrito não chegou, e então, Geraldo Barreto Sobral, que depois se tornaria Ministro do Superior Tribunal de Recursos, e era tesoureiro do DNPVN, foi ao local para transmitir a ordem ao chefe do almoxarifado
Superada a burocracia, as bombas foram penosamente transportadas numa velha camionete Dodge, que caía aos pedaços e, chegadas ao local, constatou-se que as mangueiras existentes não se adaptavam ao diâmetro dos canos de saída. Improvisou-se um armengue tentando-se apertar as folgadas mangueiras, ligou-se a bomba e a água espirrava farta, ensopando quem estava por perto, e era muita gente, curiosos, até vestindo ternos brancos, gravata e chapéu Ramezoni, mas, no fogaréu imenso não chegava um pingo. O velho prédio foi desabando aos poucos, dos outros armazéns vizinhos tudo foi sendo apressadamente retirado, temia-se a propagação do incêndio. Alguns dias depois ainda fumegavam os rescaldos da fogueira.
Mas ali era só um armazém, isso aconteceu há 53 anos passados, e em Sergipe, atrasado estado de um país que apenas começava, com JK, a sair do estágio de fazenda exportadora de café. No Japão há uma usina nuclear, uma das cinqüenta e três existentes no diminuto arquipélago que forma o terceiro país mais rico do mundo, e seguramente, um dos mais desenvolvidos em ciência e tecnologia. Se havia duvidas sobre a possibilidade de manter-se em funcionamento, sem acidentes, uma usina atômica no caso de um imenso desastre, sendo lá os desastres tão freqüentes e esperados, para
que então se construiu a tal usina?

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